IV — DOUTRINA DOGMÁTICA
A alma, independente da matéria, é criada por ocasião do
nascimento do ser; sobrevive e conserva a individualidade após a morte; desde
esse momento, tem irrevogavelmente determinada a sua sorte; nulos lhe são
quaisquer progressos ulteriores; ela será, pois, por toda a eternidade,
intelectual e moralmente, o que era durante a vida. Sendo os maus condenados a
castigos perpétuos e irremissíveis no inferno, completamente inútil lhes
resulta todo arrependimento; parece assim que Deus se nega a conceder-lhes a possibilidade
de repararem o mal que fizeram. Os bons são recompensados com a visão de Deus e
a contemplação perene no céu. Os casos que possam merecer o céu ou o inferno,
por toda a eternidade, são deixados à decisão e ao juízo de homens falíveis,
aos quais é dada a faculdade de absolver ou condenar.
(NOTA
— Se a esta proposição final objetassem que Deus julga em última instância,
poder-se-ia perguntar que valor tem a decisão proferida pelos homens, uma vez
que ela pode ser infirmada.)
Separação definitiva e absoluta dos condenados e dos eleitos.
Inutilidade dos socorros morais e das consolações para os condenados. Criação
de anjos ou almas privilegiadas, isentas de todo trabalho para chegarem à
perfeição, etc., etc.
Conseqüências.
Esta doutrina deixa sem solução os graves problemas seguintes:
1º
Donde vêm as disposições inatas, intelectuais e morais, que fazem com que os
homens nasçam bons ou maus, inteligentes ou idiotas?
2º
Qual a sorte das crianças que morrem em tenra idade? Por que vão elas para uma
vida bem-aventurada, sem o trabalho a que os outros ficam sujeitos durante
longos anos? Por que são recompensadas sem terem podido fazer o bem, ou são
privadas de uma felicidade perfeita, sem terem feito o mal?
3º
Qual a sorte dos cretinos e dos idiotas que não têm consciência de seus atos?
4º
Onde a justiça das misérias e das enfermidades de nascença, uma vez que não
resultam de nenhum ato da vida presente?
5º
Qual a sorte dos selvagens e de todos os que forçosamente morrem no estado de
inferioridade moral em que foram colocados pela natureza mesma, se não lhes é
dado progredirem ulteriormente?
6º
Por que cria Deus umas almas mais favorecidas do que outras?
7º
Por que chama ele a si prematuramente os que teriam podido melhorar-se, se
vivessem mais tempo, visto que não lhes é permitido progredirem depois da
morte?
8º
Por que criou Deus anjos em estado de perfeição sem trabalho, ao passo que
outras criaturas são submetidas às mais rudes provações em que têm maiores
probabilidades de sucumbir, do que de sair vitoriosas, etc., etc.?
ALLAN
KARDEC.
Fonte: O Livro “OBRAS PÓSTUMAS”, - Allan Kardec –27 a.
Edição. –Instituto de Difusão Espírita , - Araras, SP. – Maio 2012.
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