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sábado, 11 de março de 2017

- PRECES ESPÍRITAS. - A PRECE. - LEON DENIS.



            “É através da oração, a Bênção Divina te fará perceber onde guardas também contigo a brecha triste do lado fraco.“
                                                                                                          EMMANUEL

                                    A PRECE

            A Prece deve ser uma expansão íntima da alma para com Deus, um colóquio solitário, uma meditação sempre útil, muitas vezes fecunda. É, por excelência, o refúgio dos aflitos, dos corações magoados.
            Nas horas de acabrunhamento, de pesar íntimo e de desespero, quem não achou na prece à calma, o reconforto e o alivio de seus males? Um diálogo misterioso se estabelece entre alma sofredora e potência evocada. A alma expõe suas angústias, seus desânimos: implora socorro, apoio, indulgência, uma voz secreta responde; é a voz dÁquele donde dimana toda a força para as lutas deste mundo, todo o bálsamo para as nossas feridas, toda a luz para as nossas incertezas. E essa voz consola, reanima, persuade; traz-nos a coragem, a submissão, a resignação estóica. E então nos erguemos menos tristes, menos atormentados; um raio de sol divino luziu em nossa alma, fez despontar nela a esperança.
            Há homens que desdenham a prece, que a acham banal e ridícula. Esses jamais oraram, ou talvez nunca tenham sabido orar. Ah! sem dúvida, se só se trata de padre-nossos proferidos sem convicção, de responsos tão vãos quanto intermináveis, de todas essas orações classificadas e numeradas, que os lábios balbuciam, mas nas quais o coração não toma parte, pode-se compreender tais críticas; porém nisso não consiste a prece. A prece é uma elevação acima de todas as coisas terrestre, um ardente apelo às potências superiores, um impulso, um vôo para as regiões que não são perturbadas pelos murmúrios, pelas agitações do mundo material e onde o ser bebe as inspirações que lhe são necessárias. Quanto maior for o seu alcance, tanto mais sincero é seu apelo, tanto mais distintas e esclarecidas se revelam as harmonias, as vozes, as belezas dos mundos superiores. É como uma janela que se abre para o Invisível, para o Infinito, e pela qual ela percebe mil impressões consoladoras e sublimes. Impregna-se, embriaga-se e retempera-se nessas impressões, como num bando fluídico e regenerador.
            Nos colóquios da alma com a Potência suprema a linguagem não deve ser preparada ou organizada com antecedência; sobretudo não deve ser fórmula, cujo tamanho é proporcional ao seu importe monetário, pois isso seriam uma profanação e quase um sacrilégio. A linguagem da prece deve variar, segundo as necessidades, segundo o estado do espírito humano. É um grito, um lamento, uma efusão, um cântico de amor, um manifesto de adoração, ou um exame de seus atos, um inventário moral que se faz sob a vista de Deus, ou ainda um simples pensamento, uma lembrança, um olhar erguido para o céu.
            Não há horas para prece. Sem dúvida, é conveniente elevar-se o coração a Deus no começo e no fim do dia. Mas, se vos sentirdes indispostos, não ore; é melhor não fazer nenhuma prece do que orar somente pelos lábios.
            Em compensação, quando sentirdes vossa alma enternecida, agitada por um sentimento profundo, pelo espetáculo do infinito, deveis fazer a prece, mesmo que seja à beira dos oceanos, sob a claridade do dia, ou debaixo da cúpula brilhante das noites; no meio dos campos e dos bosques sombreados, no silêncio das florestas, pouco importa; é grande e boa toda causa que, produzindo lágrimas em nossos olhos ou dobrando os nossos joelhos, faz também irromper do nosso coração um hino de amor, um brado de admiração para com a Potência eterna que guia os nossos passos por entre os abismos.
            Seria um erro julgar que tudo podemos obter pela prece, que sua eficácia é assaz grande para desviar as provações inerentes à vida. A lei de imutável justiça não se curva aos nossos caprichos. Os males que desejaríamos afastar de nós são muitas vezes a condição necessária do nosso progresso. Se fossem suprimidos, o efeito disso seria tornar estéril a nossa vida. De outro modo, como poderia Deus atender a todos os desejos que os homens exprimem nas suas preces? À maior parte destes seria incapaz de discernir o que convém, o que é proveitoso. Alguns pedem a fortuna, ignorando que esta, dando um vasto campo para as suas paixões, seria uma desgraça para eles.
            Na prece que diariamente dirige ao Eterno, o sábio não pede que o seu destino seja feliz; não deseja qual a dor, as decepções, os reveses lhe sejam afastados. Não! o que ele implora é o conhecimento da lei para poder melhor cumpri-la; o que ele solicita é o auxílio do Altíssimo, o socorro dos Espíritos benévolos, a fim de suportar dignamente os maus dias. E os bons Espíritos respondem ao seu apelo. Não procuram desviar o curso da justiça ou entravar a execução dos decretos divinos. Sensíveis aos sofrimentos humanos, que conheceram e suportaram, eles trazem a seus irmãos da Terra a inspiração que os sustém contra as influências materiais; favorecem esses nobres e salutares pensamentos, esses impulsos do coração que, levando-os para altas regiões, os libertam das tentações e das armadilhas da carne. A prece do sábio, feita com recolhimento profundo, isolada de toda a preocupação egoísta, desperta essa intuição do dever, esse superior sentimento do verdadeiro, do bem e do justo, que o guiam através das dificuldades da existência e o mantém em comunicação íntima com a grande harmonia universal.
            Mas, a potência soberana não só representa a justiça; é também a bondade, imensa, infinita e caritativa. Ora, por que não obteríamos por nossas preces tudo o que a bondade pode conciliar com a justiça? Podemos pedir apoio e socorro nas ocasiões da angústia, mas somente Deus pode saber o que é mais conveniente para nós e, na falta daquilo que lhe pedimos, nos enviara proteção fluídica e resignação.
            Logo que uma pedra fende as águas, vêem-se as superfícies destas vibrar em ondulações concêntricas. Assim também o fluído universal vibra pelas nossas preces e pelos nossos pensamentos, com a diferença de que a vibração das águas é limitada, enquanto que a do fluído universal se sucede ao infinito. Todos os seres, todos os mundos estão banhados nesse elemento, assim como nós o estamos na atmosfera terrestre. Dai resulta que o nosso pensamento, quando é atuado por grande força de impulsão, por sua vontade perseverante, vai impressionar as almas a distâncias incalculáveis. Uma corrente fluídica se estabelece entre umas as outras e permite que os Espíritos elevados nos influenciem e respondam aos nossos chamados, mesmo que estejam nas profundezas do espaço.
            Também sucede o mesmo com todas as almas sofredoras. A prece opera nelas qual magnetização à distância. Penetra através dos fluidos espessos e sombrios que envolvem os espíritos infelizes; atenua suas magoas e tristezas. É a flecha luminosa, a flecha de ouro rasgando as trevas. É a vibração harmônica que dilata e rejubila a alma oprimida. Quanta consolação para esses Espíritos ao sentirem que não estão abandonados, quando vêem seres humanos se interessando ainda por sua sorte! Sons, alternativamente poderosos e ternos, se elevam como um cântico na extensão e repercutem com tanto maior intensidade quanto mais amorosa for à alma donde emanam. Chegam até eles, comovem-nos e penetram profundamente. Essa voz longínqua e amiga lhes dá a paz, a esperança e a coragem. Se pudéssemos avaliar o efeito produzido por uma prece ardente, por uma vontade generosa e enérgica sobre os desgraçados, os nossos votos seriam muitas vezes a favor dos deserdados, dos abandonados do espaço, desses em quem ninguém pensa e que estão mergulhados em sombrio desânimo.
            Orar pelos Espíritos infelizes, orar com compaixão, com amor, é uma das formas mais eficazes de caridade. Todos podem exercê-las, todos podem facilitar o desprendimento das almas, abreviarem o tempo de perturbação por que eles passam depois da morte, atuando por um impulso caloroso do pensamento, por uma lembrança benévola e afetuosa. A prece facilita a desagregação corporal, ajuda o Espírito a libertar-se dos fluídos grosseiros que o ligam à matéria. Sob a influência das ondulações magnéticas projetadas por uma vontade poderosa, o torpor cessa, o Espírito se reconhece e se assenhoreia a si próprio.
            A prece por outrem, pelos nossos parentes, pelos infortunados e enfermos, quando feita com sentimentos sinceros e fé ardente, pode também produzir efeitos salutares. mesmo quando as leis do destino lhes são um obstáculo, quando a provação deve ser cumprida até o fim, a prece não é inútil. Os fluídos benéficos que traz em si acumulam para, no momento da morte, recair sobre o perispírito do ser amado.
            “Reuni-vos para orar”, disse o apóstolo Paulo. A prece feita em comum é um feixe de vontades, de pensamentos, raios, harmonias e perfumes, que se dirige mais poderosamente ao seu alvo. Pode adquirir uma força irresistível, uma força capaz de agitar, de abalar as massas fluídicas. Que alavanca poderosa para a alma entusiasta, que dá ao seu impulso tudo quanto há de grandioso, de puro e de elevado em si! Nesse estado, seus pensamentos irrompem como corrente impetuosos, de abundantes e potentes eflúvios. Tem-se visto, algumas vezes, a alma em prece, desprender-se do corpo e inebriada pelo êxtase, seguir o pensamento fervoroso que se projetou como seu precursor sobre o infinito. O homem traz em si um motor, incomparável, de que apenas sabe tirar medíocre proveito. Entretanto, para fazê-lo agir bastam duas coisas: a fé e a vontade.
            Considerada sob tais aspectos, a prece perde todo o caráter místico. O seu alvo não é mais a obtenção de uma graça, de um favor, mas sim a elevação da alma e as relações desta com as potências superiores, fluídicas e morais. A prece é o pensamento inclinado para o bem, são o fio luminoso que liga os mundos obscuros aos mundos divinos, os Espíritos encarnados às almas livres e radiantes. Desdenhá-la seria desprezar a única força que nos arranca ao conflito das paixões e dos interesses, que nos transporta acima das coisas transitórias e nos une ao que é fixo permanente e imutável no Universo.
            Em vez de repelirmos a prece, por causa dos abusos ridículos e odiosos de que foi objeto, não será melhor nos utilizarmos dela com critério e medida? É com recolhimento e sinceridade, é com sentimento que se deve orar. Evitemos as fórmulas banais usadas em certos meios. Nessas espécies de exercícios espirituais, apenas a nossa boca se move, pois a alma se conserva muda. No fim de cada dia, antes de nos entregarmos ao repouso, perscrutemos a nós mesmos, examinemos cuidadosamente as nossas ações. Saibamos condenar o que foi mau, a fim de o evitarmos, e louvemos o que melhor foi feito de bom e útil. Solicitemos a Sabedoria Suprema que nos ajude a realizar em nós e ao nosso redor a beleza moral e perfeita. Longe das coisas mundanas, elevemos os nossos pensamentos. Que nossa alma se eleve alegre e amorosa para o Eterno. Ela descerá então dessas alturas com tesouros de paciência e de coragem, que tornarão fácil o cumprimento dos seus deveres e da sua tarefa de aperfeiçoamento.
            E se, em nossa incapacidade para exprimir os sentimentos, é absolutamente necessário um texto, uma fórmula, digamos:
            “Meu Deus, vós que sois grandes, que sois tudo, deixai cair sobre mim, humilde, sobre mim que não existo senão pela vossa vontade, um raio de divina luz. Fazei que, penetrado do vosso amor, me seja fácil fazer o bem o que eu tenha aversão do mal; que animado pelo desejo de vos agradar, meu espírito vença os obstáculos que se opõem à vitória da verdade sobre o erro da fraternidade sobre o egoísmo; fazei que, em cada companheiro de provações, eu veja um irmão, assim como vedes um filho em cada um dos seres que de vós emanam e para vós devem voltar. Dai-me o amor do trabalho, que é o dever de todos sobre a Terra, e, com auxilio do archote que colocaste ao meu alcance, esclarecei-me sobre as imperfeições que retardam meu adiantamento nesta vida e na vindoura.“
            Unamos nossas vozes às do infinito. Tudo ora, tudo celebra a alegria de viver, desde o átomo que se agita na Lua até o Astro imenso que flutua no éter. A adoração dos seres forma um concerto prodigioso que se expande no espaço e sobe a Deus. É a saudação dos filhos ao Pai, é a homenagem prestada pelas criaturas ao Criador. Interrogai a Natureza no esplendor dos dias de sol, na calma das noites estreladas. Escutem as grandes vozes dos oceanos, os murmúrios que se elevam no seio dos desertos e da profundeza dos bosques, os acentos misteriosos que desprendem da folhagem repercutem nos desfiladeiros solitários, sobem as planícies, os vales, franqueiam as alturas e espalham-se pelo Universo. Por toda parte, em todos os lugares, considerando, ouvireis o cântico admirável que a Terra dirige à grande Alma. Mais solene ainda é a prece dos mundos, o canto suave e profundo que faz vibrar a imensidade e cuja significação sublime somente os Espíritos elevados podem compreender.

Fonte:“Depois da Morte - Leon Denis- FEB. (6)

                                   RHEDAM..(mzgcar@gmail.com)

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