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sábado, 16 de junho de 2018

- POEMAS ESPÍRITAS. - PARNASO DE ALÉM TÚMULO. - AS LÁGRIMAS. - JOÃO DE DEUS. (CHICO XAVIER.)


                  AS LÁGRIMAS

Desci um dia
Ao sorvedouro
Da atra agonia
Da Humanidade,
A procurar,
A perscrutar
Qual a verdade,
Qual o tesouro
O mais profundo,
Que neste mundo
O homem prendesse
E o retivesse.

E vi, então,
No coração
Da criatura,
Só a ilusão
Duma ventura.

E vi senhores
Que dominavam
E se orgulhavam
Do seu poder,
Sempre a abater
Os desgraçados.

Os potentados
Com seus valores
Bem se julgavam
Onipotentes,
Heróis valentes
Cá nesta vida...
Depois, porém,
Reconheceram
E viram bem
Nesta existência
Toda a impotência
Do deus-milhão,
Perante a mão
Da fria dor,
Que lhes domava
E lhes dobrava
O torpe egoísmo.

Busquei os lares,
Ricos solares
Dos protegidos,
Onde o conforto
Para a matéria
Anda em contraste
Com atroz miséria
Dos desvalidos.
E ainda aí
Não pude achar
O que eu ali
Fui procurar.

Eu vi mulheres
Nos seus prazeres,
Jovens e belas,
Alvas estrelas
De formosura,

Rindo e cantando
Dentro da noite
Da desventura.
Pobres donzelas,
Fanadas flores...
Luz sem fulgores,
Que, miseráveis
Párias da vida,
Deixam o teto
Do seu afeto
Maior, supremo,
Insuperável.
Somente encontram
Dores que afrontam,
Mágoa insanável,
Incompreendida!

E penetrei
Pelos castelos
Dourados, belos,
Das diversões,
Onde se aninha
E se amesquinha
A multidão
Que busca rir,
Gozar, sorrir,
A ver se esquece
O que padece,
Julgando crer
Que está a ver
O paraíso.
Mas este riso,
Ao som da festa,
À meia luz,
É o que produz
Todo o amargor,

A maior dor,
Pois eu ali
Tristonho vi
O que em verdade
É a sociedade;
Só pensamentos
Das impurezas,
Só sentimentos
Que trazem presas,
Aniquiladas,
E esmagadas,
Ensandecidas
As criaturas
Outrora puras,
Belas outrora,
No entanto agora
Flores perdidas,
Almas impuras,
Desiludidas!

Nesse recinto
Eu vi, então,
A traição,
A iniqüidade,
A grosseria,
Toda a maldade
Da hipocrisia;
E tudo, enfim,
Tristonho assim,
Dissimulado,
Falsificado
No fingimento
Que aparecia
No barulhento
Rumor de vozes,
Notas atrozes,
De uma alegria

Jamais sentida,
Desconhecida
Naquele meio.

Eu contemplei-o
Cheio de horror
E vi que as flores,
As pedrarias
Tão luminosas,
Eram sombrias,
Eram trevosas,
Pois só cobriam
Míseros trapos,
Pobres farrapos
De almas perjuras
Ao seu Criador,
Fracas criaturas
Baldas de amor.
E, condoído,
Desiludido,
Desanimado,
Num forte brado
Disse ao Senhor:

“Onipotente
Pai de Bondade,
Oh tem piedade
Dos filhos teus
Que choram, gemem,
Pálidos tremem
Ó Senhor Deus!
Faze que a luz
Do bom Jesus
Penetre a alma
Na Terra aflita,
Dando-lhe a calma
Que necessita.
Só conheci
E encontrei,
Só contemplei
O mal que vi.”

Mas uma voz
Do azul do Céu,
Pronta e veloz,
Me respondeu:

“Filho bendito
Do meu amor,
Sou teu Senhor,
E no Infinito
Tudo o que fiz,
Nada se perde,
Assim tornando
O ser feliz.
Contempla, ainda,
A Terra linda
E então verás,
Donde provém
A grande paz,
O sumo bem.
O grão tesouro,
Mais fino ouro
Dos filhos meus,
Está na luta,
Nos prantos seus,
Que lhes transforma
A alma poluta
Num ser radioso,
Astro formoso
De pura luz!”

Eu ajoelhei
E Contemplei
As multidões
Atropeladas,
Desenganadas
Nas perdições.
Vi transformadas
Todas as cenas;
Em todos os seres,
Homens, mulheres,
Jovens, crianças,
Nas grandes penas,
Nas esperanças,
Por entre a luz,
Por entre flores,
Brotar a flux
No coração
De cada ser,
Em profusão,
Gotas pequenas
Como as brilhantes
Luzes serenas
Das madrugadas
Primaveris.

Reconheci
Que por aí
Na escura Terra
Onde eu amei,
Sorri, chorei,
Onde sofri
E onde eu vi
A dura guerra,
A amarga dor,
Lágrimas belas,
Gotas singelas,

Meigas, serenas,
Eram açucenas
De fino olor
Do espaço azul!

Depois, eu vi
Que os que as vertiam
Por este mundo,
Vale profundo
De mágoa e dor,
Quando voltavam
Do seu exílio,
Eram saudados
Por mensageiros
De amor e luz
Do bom Jesus,
Que os coroavam
Com gemas finas,
Jóias divinas
Do escrínio santo,
Primor de encanto
Do amor de Deus.
Fui então vendo,
Reconhecendo
Que aqui nos Céus,
Lágrimas lindas
São transformadas,
Remodeladas
Para formarem
Belo diadema
E aureolarem

Os que as verteram
Aí na Terra.

E vi, então,
Em profusão,
Gemas brilhantes,
Alvinitentes,
Ricas, fulgentes
E deslumbrantes,
Que nem Ofir
Pôde possuir.

Sejam benditas,
As pequenitas
Gotas de pranto,
Orvalho santo
Do amor divino
Que dá ventura,
Tranqüilidade,
Felicidade
Ao peregrino.
Bendito o Pai,
O Nosso Deus
Que abranda o ai
Dos filhos seus;
Que a alegria
E a paz envia
À Humanidade
Tão sofredora,
Com a lágrima bela,
Luzente estrela
Consoladora!
  
João de Deus

NASCIDO em São Bartolomeu de Messines, Portugal, em 1830, e desencarnado em 1896, afirmou-se um dos maiores líricos da língua portuguesa. É tão bem conhecido no Brasil quanto em seu belo país. Nestas poesias palpita, de modo inconfundível, a suavidade e o ritmo da sua lira.


            Fonte: PARNASO DE ALÉM - TÚMULO - AUTORES DIVERSOS. - Chico Xavier- Editora FEB. Rio de Janeiro RJ - 1935.

                                   RHEDAM. (mzgcar@gmail.com)

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