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quarta-feira, 8 de novembro de 2017

- APRENDENDO COM CHICO XAVIER - N º. 217. - UMA VIDA COM AMOR XIII. - UBIRATAN MACHADO.



  CHICO XAVIER POR ELE MESMO.

          UMA VIDA COM AMOR XIII.
                                                          
                                                  UBIRATAN MACHADO.


A CAPACIDADE DE PSICOGRAFAR VI.

            (...) Em janeiro de 1933, pouco após o lançamento do Parnaso de Além Túmulo, Chico continuava trabalhando no pequeno armazém de José Felizardo. O salário era minguado e Chico tinha um outro suplício diário, servir cachaça.
         Foi então que recebeu a visita do Dr. José Álvaro Santos poeta residente em Belo Horizonte. Lera o livro de Chico e desejava conhece-lo pessoalmente.
         A família Xavier morava então, segundo as palavras do próprio Chico, “numa casa pequenina prestes a cair”. A família, numerosíssima. Chico trabalhava das sete da manha às oito da noite, atendendo no balcão ou entregando mercadoria domicílio. O salário era de 40 mil-réis.
         José Álvaro comoveu-se com a situação da família. Em conversa particular com João Cândido, disse que gostaria de obter um bom emprego para Chico na capital do Estado. Mas, para isso, o rapaz teria de acompanhá-lo, a fim de se enfronhar aos poucos no ambiente belo-horizontino. Chico deveria permanecer três meses com o novo amigo, tentando arranjar colocação.
         Pela manha, João Cândido chamou o filho de lado e falou-lhe a respeito das perspectivas que surgiram de melhoria de vida. Era uma excelente oportunidade para melhorara a condição econômica da família, muito precária.
         Chico nada respondeu. Á noite, no momento de rezar, pediu a opinião de Emmanuel. O espírito esclareceu-lhe que o plano era impróprio e que ele deveria continuar trabalhando na venda, pois “o amparo de que precisávamos viria do Alto n momento oportuno”.
         Chico resolveu não se afastar de casa. No dia seguinte, porém, o pai voltou a insistir. Não seria justo negar-se a auxiliar a família. Sensibilizado, o rapaz solicitou novo conselho de Emmanuel. A resposta veio direta:
         “A tentativa é inoportuna e desaconselhável, mas não desejamos que contraries teu pai. Já que a situação se mostra assim tão difícil, podes perfeitamente seguir para Belo Horizonte, onde ganharás conhecimento e experiências de que muito necessitas. Não abandones a pratica da oração. Estaremos contigo através da prece”.
         A partir desse conselho, as coisas se apressaram. João Cândido obteve para o filho uma licença de três meses no armazém. Em companhia de José Álvaro, Chico partiu para Belo Horizonte, cidade que ainda não conhecia. Ficou hospedado numa chácara, próxima ao bairro da Gameleira, de propriedade de um médico.
         Iniciava-se uma nova experiência para Chico. Logo, tornou-se íntimo da família de José Álvaro, vindo a conhecer vários intelectuais mineiros de renome.
         “Achei-me de improviso num ambiente que eu não conhecia. Muitos livros e elevadas conversações literárias. O meu protetor me apresentava CNA condição de médium do Parnaso de além Túmulo e as visitas, segundo creio, julgavam que eu fosse pessoa de muita cultura. Eu, naturalmente, ouvia as conversações em silêncio ou respondia a essa ou àquela pergunta por monossíbalos. Não sabia eu, então, coisa alguma sobre os autores, principalmente europeus, que eram citados nas palestras. Lembro-me que falavam muitas vezes de trabalhos de Crookes e Richet, quando se referiam a investigadores da mediunidade, e comentavam poesias e trabalhos de Baudelaire, Musset e outros poetas cujo nomes não guardei de lembranças, além de vários poetas brasileiros como Bilac, Alberto de Oliveira, Augusto dos anjos e Cruz e Souza. Pelo tom das palestras, eu percebi que a maior parte dos visitantes me supunham o autor do Parnaso. Como eu receava cometer disparates, em meio de amigos tão cultos, permanecia quase que em absoluto silêncio.”  
         Mas o tempo passava e nada do prometido emprego surgir. Apesar de recorrer a vários amigos seus, José Álvaro não conseguiu uma colocação para Chico. Por seu lado, esgotados os três meses, Chico não mais podia esperar.
         Em março, quase findo o prazo dos três meses, Chico resolveu voltar para Pedro Leopoldo. José Álvaro iria para sua casa, em Lagoa Santa. O médium resolveu acompanhá-lo. Ali ficou esperando condução para Vespasiano, de onde tomaria um comboio da Centra do Brasil para Pedro Leopoldo.
         Enquanto aguardava a condução em Lagoa Santa, Chico foi procurado por dois amigos. Um deles disse que o emprego em Belo Horizonte sairia em breve. Estavam sendo providenciados, também, recursos para que ele pudesse aprimorar a sua educação. E haveria outras vantagens, beneficiando toda a família. Foi então que o amigo lançou a ducha fria: para conseguir o emprego, ele deveria renunciar o espiritismo e declara de público que o Parnaso era obra sua. Chico negou com veemência, explicando que de forma os espíritos haviam escrito os poemas através de suas mãos.
         “Você conhece um passarinho chamado sofrê?”
         Chico respondeu que não.
         “O sofrê é um pássaro que imita os outros. Você nasceu com a vocação desse passarinho entre os poetas. Não acredite em espíritos. Esses poemas que você julga psicografar são seus, somente seus.”
Entristecido Com o ceticismo do outro, o médium pensou em Emmanuel, e imediatamente ouviu uma voz a seu lado:
“Volte a Pedro Leopoldo e vamos trabalhar. Você não é um sofrê, mas precisa sofrer para apreender.”
E Chico voltou para o armazém de Zé Felizardo, para cortar lingüiça, vender cachaça, fazer entrega de mercadorias a domicílio. A temporada, no entanto, foi breve. Pouco depois ingressava na antiga Inspetoria Regional do Serviço de Fomento da Produção Animal, órgão do Ministério da Agricultura, no cargo de auxiliar de serviço.
O posto do Ministério da Agricultura ficava a dois quilômetros da cidade. Certo dia, quando Chico se dirigia ao trabalho de charrete, Chico recebeu a noticia da morte do seu ex-patrão, Zé Felizardo. Seu Juca, como era conhecido, morrera na miséria, Sem armazém e sem dinheiro. Não sobrará sequer um mísero centavo para comprar um caixão. O corpo seguiu para o cemitério como indigente, num rabecão da prefeitura.
Comovido Chico saltou da charrete e saiu de casa em casa, solicitando alguma contribuição para o enterro do velho amigo. Um mendigo cego deu toda feria do dia. Logo, a cidade inteira comentou aquela estranha peregrinação. Dessa forma, Chico pôde comprar um caixão decente para o amigo e acompanhar seu corpo até o cemitério. Seu pai e os irmãos, que antes tentaram demovê-lo da idéia, acabaram se emocionando e acompanhando também o enterro.  

            Fonte: - “CHICO XAVIER Por Ele Mesmo. – Autores Diversos, - 1 ª. edição, - Editora Martin Claret Ltda, - São Paulo, SP, - Outubro de 1994.

                                   RHEDAM. (mzgcar@gmail.com)

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