CHICO XAVIER POR ELE
MESMO.
UMA
VIDA COM AMOR XIII.
UBIRATAN
MACHADO.
A CAPACIDADE DE PSICOGRAFAR VI.
(...) Em janeiro de
1933, pouco após o lançamento do Parnaso de Além Túmulo, Chico continuava
trabalhando no pequeno armazém de José Felizardo. O salário era minguado e
Chico tinha um outro suplício diário, servir cachaça.
Foi então que recebeu a visita do Dr. José Álvaro Santos
poeta residente em Belo Horizonte. Lera o livro de Chico e desejava conhece-lo
pessoalmente.
A família Xavier morava então, segundo as palavras do
próprio Chico, “numa casa pequenina prestes a cair”. A família, numerosíssima.
Chico trabalhava das sete da manha às oito da noite, atendendo no balcão ou
entregando mercadoria domicílio. O salário era de 40 mil-réis.
José Álvaro comoveu-se com a situação da família. Em conversa
particular com João Cândido, disse que gostaria de obter um bom emprego para
Chico na capital do Estado. Mas, para isso, o rapaz teria de acompanhá-lo, a fim
de se enfronhar aos poucos no ambiente belo-horizontino. Chico deveria
permanecer três meses com o novo amigo, tentando arranjar colocação.
Pela manha, João Cândido chamou o filho de lado e falou-lhe
a respeito das perspectivas que surgiram de melhoria de vida. Era uma excelente
oportunidade para melhorara a condição econômica da família, muito precária.
Chico nada respondeu. Á noite, no momento de rezar, pediu a
opinião de Emmanuel. O espírito esclareceu-lhe que o plano era impróprio e que
ele deveria continuar trabalhando na venda, pois “o amparo de que precisávamos
viria do Alto n momento oportuno”.
Chico resolveu não se afastar de casa. No dia seguinte,
porém, o pai voltou a insistir. Não seria justo negar-se a auxiliar a família.
Sensibilizado, o rapaz solicitou novo conselho de Emmanuel. A resposta veio
direta:
“A tentativa é inoportuna e desaconselhável, mas não
desejamos que contraries teu pai. Já que a situação se mostra assim tão
difícil, podes perfeitamente seguir para Belo Horizonte, onde ganharás conhecimento
e experiências de que muito necessitas. Não abandones a pratica da oração.
Estaremos contigo através da prece”.
A partir desse conselho, as coisas se apressaram. João
Cândido obteve para o filho uma licença de três meses no armazém. Em companhia
de José Álvaro, Chico partiu para Belo Horizonte, cidade que ainda não
conhecia. Ficou hospedado numa chácara, próxima ao bairro da Gameleira, de
propriedade de um médico.
Iniciava-se uma nova experiência para Chico. Logo, tornou-se
íntimo da família de José Álvaro, vindo a conhecer vários intelectuais mineiros
de renome.
“Achei-me de improviso num ambiente que eu não conhecia.
Muitos livros e elevadas conversações literárias. O meu protetor me apresentava
CNA condição de médium do Parnaso de além Túmulo e as visitas, segundo creio,
julgavam que eu fosse pessoa de muita cultura. Eu, naturalmente, ouvia as
conversações em silêncio ou respondia a essa ou àquela pergunta por
monossíbalos. Não sabia eu, então, coisa alguma sobre os autores,
principalmente europeus, que eram citados nas palestras. Lembro-me que falavam
muitas vezes de trabalhos de Crookes e Richet, quando se referiam a
investigadores da mediunidade, e comentavam poesias e trabalhos de Baudelaire,
Musset e outros poetas cujo nomes não guardei de lembranças, além de vários
poetas brasileiros como Bilac, Alberto de Oliveira, Augusto dos anjos e Cruz e
Souza. Pelo tom das palestras, eu percebi que a maior parte dos visitantes me
supunham o autor do Parnaso. Como eu receava cometer disparates, em meio de
amigos tão cultos, permanecia quase que em absoluto silêncio.”
Mas o tempo passava e nada do prometido emprego surgir.
Apesar de recorrer a vários amigos seus, José Álvaro não conseguiu uma
colocação para Chico. Por seu lado, esgotados os três meses, Chico não mais
podia esperar.
Em março, quase findo o prazo dos três meses, Chico resolveu
voltar para Pedro Leopoldo. José Álvaro iria para sua casa, em Lagoa Santa. O
médium resolveu acompanhá-lo. Ali ficou esperando condução para Vespasiano, de
onde tomaria um comboio da Centra do Brasil para Pedro Leopoldo.
Enquanto aguardava a condução em Lagoa Santa, Chico foi
procurado por dois amigos. Um deles disse que o emprego em Belo Horizonte
sairia em breve. Estavam sendo providenciados, também, recursos para que ele
pudesse aprimorar a sua educação. E haveria outras vantagens, beneficiando toda
a família. Foi então que o amigo lançou a ducha fria: para conseguir o emprego,
ele deveria renunciar o espiritismo e declara de público que o Parnaso era obra
sua. Chico negou com veemência, explicando que de forma os espíritos haviam
escrito os poemas através de suas mãos.
“Você conhece um passarinho chamado sofrê?”
Chico respondeu que não.
“O sofrê é um pássaro que imita os outros. Você nasceu com a
vocação desse passarinho entre os poetas. Não acredite em espíritos. Esses
poemas que você julga psicografar são seus, somente seus.”
Entristecido
Com o ceticismo do outro, o médium pensou em Emmanuel, e imediatamente ouviu
uma voz a seu lado:
“Volte
a Pedro Leopoldo e vamos trabalhar. Você não é um sofrê, mas precisa sofrer
para apreender.”
E
Chico voltou para o armazém de Zé Felizardo, para cortar lingüiça, vender
cachaça, fazer entrega de mercadorias a domicílio. A temporada, no entanto, foi
breve. Pouco depois ingressava na antiga Inspetoria Regional do Serviço de Fomento
da Produção Animal, órgão do Ministério da Agricultura, no cargo de auxiliar de
serviço.
O
posto do Ministério da Agricultura ficava a dois quilômetros da cidade. Certo
dia, quando Chico se dirigia ao trabalho de charrete, Chico recebeu a noticia
da morte do seu ex-patrão, Zé Felizardo. Seu Juca, como era conhecido, morrera
na miséria, Sem armazém e sem dinheiro. Não sobrará sequer um mísero centavo
para comprar um caixão. O corpo seguiu para o cemitério como indigente, num
rabecão da prefeitura.
Comovido
Chico saltou da charrete e saiu de casa em casa, solicitando alguma
contribuição para o enterro do velho amigo. Um mendigo cego deu toda feria do
dia. Logo, a cidade inteira comentou aquela estranha peregrinação. Dessa forma,
Chico pôde comprar um caixão decente para o amigo e acompanhar seu corpo até o
cemitério. Seu pai e os irmãos, que antes tentaram demovê-lo da idéia, acabaram
se emocionando e acompanhando também o enterro.
Fonte: - “CHICO XAVIER Por Ele
Mesmo. – Autores Diversos, - 1 ª. edição, - Editora Martin Claret Ltda, - São
Paulo, SP, - Outubro de 1994.
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