O ESTUDO SOBRE A NATUREZA DO CRISTO VI.
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VI — OPINIÃO DOS APÓSTOLOS
Até aqui, apoiamo-nos exclusivamente nas palavras do Cristo, como único elemento peremptório de convicção, porque, fora daí, somente há opiniões pessoais.
De todas essas opiniões, as de maior valor são, incontestavelmente, as dos apóstolos, uma vez que estes o assistiram em sua missão e uma vez também que, se ele lhes houvesse dado instruções secretas, respeito à sua natureza, alguns traços dessas instruções se descobririam nos escritos deles. Tendo vivido na sua intimidade, melhor do que ninguém haviam eles de conhecê-lo. Vejamos, pois, de que maneira o consideraram.
“Oh! israelitas, escutai as palavras que vos vou dizer: Sabeis que Jesus de Nazaré foi um homem que Deus tornou célebre entre vós, pelas maravilhas, prodígios e milagres que o mesmo Deus fez por seu intermédio no meio de vós. — Entretanto, vós o crucificastes e lhe destes morte pelas mãos dos maus, tendo-vos ele sido entregue por ordem expressa da vontade de Deus e por decreto da sua presciência. — Mas, Deus o ressuscitou, detendo as dores do inferno, por impossível que ele aí permanecesse. — Porque David disse em seu nome: Eu tinha o Senhor presente sempre diante de mim, a fim de que eu não fosse abalado. — É por isso que o meu coração se rejubilou, que a minha língua cantou cânticos de alegria e que a minha carne mesma repousará em esperança; — porque não deixareis minha alma no inferno e não permitireis que o vosso Santo experimente a corrupção. — Vós me fizestes conhecer o caminho da vida e me enchereis da alegria que dá a vista do vosso semblante.” (Atos dos Apóstolos, 2:22 a 28. Prédica de S. Pedro.)
“Depois então que foi elevado pelo poder de Deus e que recebeu o cumprimento da promessa que o Pai lhe fizera de enviar o Santo Espírito, ele espalhou esse Espírito Santo que agora vedes e ouvis; — porquanto David não subiu ao céu. — Ora, ele próprio disse: O Senhor disse a meu Senhor: senta-te à minha direita — até que eu haja reduzido teus inimigos a te servirem de escabelo. — Que, pois, toda a Casa de Israel saiba, com absoluta certeza, que Deus fez Senhor e Cristo a esse Jesus que vós crucificastes.” (Atos dos Apóstolos, 2:33 a 36. Prédica de S. Pedro.)
“Moisés disse a nossos pais: o Senhor vosso Deus vos suscitará dentre os vossos irmãos um profeta como eu. Escutai-o em tudo o que ele disser. — Quem não escutar esse profeta será exterminado do meio do povo.
“Foi por vós primeiramente que Deus suscitou seu Filho e vo-lo enviou para vos abençoar, a fim de que cada um se convertesse da sua má vida.” (Atos dos Apóstolos, 3:22, 23 e 26. Prédica de S. Pedro.)
“Declaramos a todos vós e a todo o povo de Israel que é pelo nome de Nosso Senhor Jesus-Cristo de Nazaré, a quem crucificastes e que Deus ressuscitou dentre os mortos; é por ele que este homem está agora curado, como o vedes, diante de vós.” (Atos dos Apóstolos, 4:10. Prédica de S. Pedro.)
“Os reis da terra se levantaram e os príncipes se uniram contra o Senhor e contra o seu Cristo. — Herodes e Pôncio Pilatos com os Gentios e o povo de Israel verdadeiramente se conluiaram contra o vosso santo Filho Jesus, a quem consagrastes por vossa unção, para fazer tudo o que o vosso poder e o vosso conselho haviam ordenado que fosse feito.” (Atos dos Apóstolos, 4:26 a 28. Prece dos Apóstolos.)
“Pedro e os outros apóstolos responderam: Cumpre obedecer antes a Deus do que aos homens. — O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus que vós fizestes morrer pendurando-o no madeiro. — Foi a ele que Deus elevou pela sua destra, como sendo o príncipe e o salvador, para dar a Israel a graça da penitência e a remissão dos pecados.” (Atos dos Apóstolos, 5:29 a 31. Resposta dos Apóstolos ao sumo-sacerdote.)
“Foi esse Moisés que disse aos filhos de Israel: Deus vos suscitará dentre os vossos irmãos um profeta como eu, escutai-o.
“Mas, o Altíssimo não habita em templos feitos pelas mãos dos homens, segundo esta palavra do profeta: — O céu é meu trono e a terra meu escabelo. Que casa me edificareis, diz o Senhor? e qual poderia ser o lugar de meu repouso?” (Atos dos Apóstolos, 7:37, 48 e 49. Discurso de Estêvão.)
“Mas, estando Estêvão cheio do Espírito Santo e elevando os olhos ao céu, viu a glória de Deus e a Jesus que estava de pé à direita de Deus, e disse: Vejo abertos os céus e o Filho do homem que está de pé à direita de Deus.
“Então, lançando grandes brados e tapando os ouvidos, todos juntos se lançaram sobre ele; e, tendo-o arrastado para fora dos muros da cidade, o lapidaram; e as testemunhas, tomando-lhe as vestes, as puseram aos pés de um mancebo chamado Saulo (mais tarde Paulo). — Enquanto o lapidavam, Estêvão invocava a Jesus, dizendo: Senhor Jesus, recebe meu Espírito.” (Atos dos Apóstolos, 7:55 a 58. Martírio de Estêvão.)
Estas citações comprovam claramente o caráter que os apóstolos atribuíam a Jesus. A idéia exclusiva que ressalta desses textos é a da sua subordinação a Deus, da constante supremacia de Deus, sem que coisa alguma aí revele um pensamento de assimilação qualquer, de natureza e de poder. Para eles, Jesus era um homem profeta, escolhido e abençoado por Deus. Não foi, pois, entre os apóstolos que teve origem a crença na divindade de Jesus. S. Paulo, que não conheceu a Jesus, mas que, de ardoroso perseguidor, se tornou o mais zeloso e o mais eloqüente discípulo da nova fé e cujos escritos prepararam os primeiros formulários da religião cristã, não é menos explícito a respeito. Há nele o mesmo sentimento de dois seres distintos e da supremacia do Pai sobre o Filho.
“Paulo, servidor de Jesus-Cristo, apóstolo da vocação divina, escolhido e destinado a anunciar o evangelho de Deus — que ele antes prometera por seus profetas nas escrituras santas — no tocante a seu filho, que lhe nasceu, segundo a carne, do sangue e da raça de David; — que foi predestinado a ser filho de Deus, num soberano poder, segundo o Espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos; no tocante, digo, a Jesus-Cristo, nosso Senhor; — por quem recebemos a graça do apostolado, para fazer que obedeçam à fé todas as nações pela virtude do seu nome; — no rol das quais também estais vós, como tendo sido chamados por Jesus-Cristo; — a vós que estais em Roma, que sois queridos de Deus e chamados a ser santos; que Deus, nosso Pai, e Jesus-Cristo, nosso Senhor, vos dêem a graça e a paz.” (Aos Romanos, 1:1 a 7.)
“Estando assim justificados pela fé, tenhamos a paz com Deus por Jesus-Cristo, nosso Senhor.
“Porque, quando ainda estávamos nos langores do pecado, Jesus-Cristo morreu por ímpios como nós, no tempo destinado por Deus.
“Jesus-Cristo não deixou de morrer por nós no tempo destinado por Deus. Assim, estando agora justificados pelo seu sangue, seremos, com mais forte razão, isentados por ele da cólera de Deus.
“E não somente fomos reconciliados, como até nos glorificamos em Deus por Jesus-Cristo, nosso Senhor, por quem obtivemos essa reconciliação.
“Se muitos morreram pelo pecado de um só, a misericórdia e o dom de Deus se derramaram, com mais forte razão, mais abundantemente sobre muitos pela graça de um só homem, que é Jesus-Cristo.” (Aos Romanos, 5:1, 6, 9, 11, 15, 17.)
“Se somos filhos, somos também herdeiros, HERDEIROS de Deus e CO-HERDEIROS de Jesus-Cristo, contanto, porém, que soframos com ele.” (Aos Romanos, 8:17.)
“Se confessais de boca que Jesus-Cristo é o Senhor e se credes de coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, sereis salvos.” (Aos Romanos, 10:9.)
“Em seguida virá a consumação de todas as coisas, quando ele houver entregue o seu reino a Deus e Pai e houver destruído todo império, toda dominação, todo poder — porquanto Jesus-Cristo tem de reinar, até que seu Pai haja posto sob seus pés todos os seus inimigos. — Ora, a morte será o último inimigo a ser destruído, pois a Escritura diz que Deus tudo lhe pôs debaixo dos pés e tudo lhe sujeitou, sendo indubitável que daí se deve excetuar aquele que submeteu todas as coisas. — Quando, pois, todas as coisas estiverem submetidas ao Filho, então o Filho estará, ele mesmo, submetido àquele que lhe terá submetido todas as coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos.” (I aos Coríntios, 15:24 a 28.)
“Mas, vemos que Jesus, que fora tornado, por um pouco de tempo, inferior aos anjos, foi coroado de glória e de honras, devido à morte que ele sofreu; Deus em sua bondade, tendo querido que ele morresse por todos — por ser ele bem digno de Deus, para quem e por quem são todas as coisas, quis que, por querer conduzir à glória muitos filhos, ele consumasse e aperfeiçoasse pelo sofrimento aquele que havia de ser o chefe e o autor da salvação deles.
“Assim, o que santifica e os que são santificados vêm todos de um mesmo princípio; por isso é que ele não se vexa de lhes chamar irmãos — dizendo: Anunciarei o teu nome aos meus irmãos; entoar-te-ei louvores no meio da assembléia do teu povo. — E, algures: porei nele a minha confiança. E, noutro lugar: eis-me aqui com os filhos que Deus me deu.
“Eis por que necessário se tornou que ele fosse em tudo semelhante a seus irmãos, para ser, diante de Deus, um pontífice compassivo e fiel em seu ministério, a fim de expiar os pecados do povo. — Pois, é das penas e dos sofrimentos mesmos, pelos quais foi tentado e experimentado, que ele tira a virtude e a força de socorrer os que também são tentados.” (Aos Hebreus, 2:9 a 13, 17 e 18.)
“Portanto, meus santos irmãos, vós que tendes parte na vocação celeste, considerai a Jesus, que é o apóstolo e o pontífice da religião que professamos; — que é fiel àquele que o estabeleceu nesse cargo, como Moisés lhe foi fiel em toda a sua casa; — porquanto ele foi julgado digno de uma glória tanto maior do que a de Moisés, quanto aquele que edificou a casa é mais estimável do que a própria casa; visto não haver casa que não tenha sido construída por alguém. Ora, aquele que é o arquiteto e o criador de todas as coisas é Deus.” (Aos Hebreus, 3:1 a 4.)
ALLAN KARDEC.
Fonte: O Livro “OBRAS PÓSTUMAS”, - Allan Kardec –27 a. Edição. –Instituto de Difusão Espírita , - Araras, SP. – Maio 2012.