O ESTUDO SOBRE A NATUREZA DO CRISTO IV.
IV — PALAVRAS DE JESUS DEPOIS DE SUA MORTE
“Jesus lhe respondeu: Não me toques, porquanto ainda não subi a
meu Pai; vai, porém, ter com meus irmãos e dize-lhes de minha parte: Subo
a meu Pai e vosso Pai, a MEU DEUS e vosso Deus.” (S. João,
20:17. Aparição a Maria Madalena.)
“Mas, aproximando-se, Jesus lhes falou assim: Todo o poder me
foi dado no céu e na terra.” (S. Mateus, 28:18. Aparição aos Apóstolos.)
“Ora, sois testemunhas
destas coisas. — Vou enviar-vos o dom de meu Pai, que vos foi
prometido.” (S. Lucas, 24: 48 e 49. Aparição aos Apóstolos.)
Tudo, pois, nas palavras de Jesus, quer as que ele disse em
vida, quer as de depois de sua morte, acusa uma dualidade de entidades
perfeitamente distintas, assim como o profundo sentimento da sua inferioridade
e da sua subordinação em face do Ente supremo. Pela sua insistência em
afirmá-lo espontaneamente, sem a isso ser constrangido ou provocado por quem
quer que fosse, parece ter querido protestar de antemão contra o papel que,
segundo a sua previsão, lhe seria atribuído. Se houvesse guardado silêncio sobre
a sua personalidade, o campo teria ficado aberto a todas as suposições, como a
todos os sistemas. A precisão, porém, da sua linguagem afasta todas as
incertezas.
Que autoridade maior se pode pretender, do que a das suas
próprias palavras? Quando ele diz categoricamente: eu sou ou não sou isto ou
aquilo, quem ousaria arrogar-se o direito de desmenti-lo, embora para colocá-lo
mais alto do que ele a si mesmo se coloca? Quem pode racionalmente pretender
estar mais esclarecido do que ele sobre a sua própria natureza? Que
interpretações podem prevalecer contra afirmações tão formais e multiplicadas
como estas: “Não vim de mim mesmo, mas aquele que me enviou é o único Deus
verdadeiro. — Foi de sua parte que vim. — Digo o que vi junto a meu Pai. — Não
me cabe a mim vo-lo conceder; isso será para aqueles a quem meu Pai o preparou.
— Vou para meu Pai, porque meu Pai é maior do que eu. — Por que me chamas bom?
Bom não há senão somente Deus. — Não tenho falado por mim mesmo; meu Pai, que
me enviou, foi quem me prescreveu, por mandamento seu, o que devo dizer. — A
doutrina que prego não é minha, mas daquele que me enviou. — A palavra que
tendes ouvido não é minha, mas de meu Pai que me enviou. — Nada faço de mim
mesmo; digo unicamente o que meu Pai me ensinou. — Nada posso fazer de mim
mesmo. — Não cuido de fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me
enviou. — Tenho-vos dito a verdade que aprendi de Deus. — Meu alimento é fazer
a vontade daquele que me enviou. — Tu que és o único Deus verdadeiro e
Jesus-Cristo a quem enviaste. — Meu Pai, nas tuas mãos entrego a minha alma. —
Meu Pai, se for possível, faze que de mim se afaste este cálice. — Subo para
meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus”.
Quando se lêem tais palavras, fica-se a perguntar como há podido
vir, sequer, à mente de alguém a idéia de atribuir-lhes sentido diametralmente
oposto ao que elas exprimem tão claramente, de conceber uma identificação
completa, de natureza e de poder, entre o Senhor e aquele que se
declara seu servidor. Neste grande processo, que dura há quase quinze séculos,
quais as peças de convicção? Os Evangelhos — não há outras —, os quais, no
ponto em litígio, não dão lugar a qualquer equívoco. A documentos autênticos,
que não se podem contestar, sem argüir de falsa a veracidade dos evangelistas e
do próprio Jesus, documentos que se apóiam em testemunhos oculares, que é que contrapõem?
Uma doutrina teórica puramente especulativa, nascida, três séculos mais tarde,
de uma polêmica travada sobre a natureza abstrata do Verbo, doutrina essa
rigorosamente combatida durante muitos séculos e que só prevaleceu pela pressão
de um poder civil absoluto.
ALLAN
KARDEC.
Fonte: O Livro “OBRAS PÓSTUMAS”, - Allan Kardec –27 a.
Edição. –Instituto de Difusão Espírita , - Araras, SP. – Maio 2012.
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