VIDA E OBRA DE BEZERRA DE MENEZES.
14 º. Parte.
Aos 19 anos, e naquela disposição de espírito, deixe a casa paterna, para vir fazer meus estudos na capital do Império, onde vivi, mesmo no tempo de estudante, sobre mim, sem ter que prestar obediência.
Continuei na crença religiosa que eu trouxe, do berço, mas na convivência com os moços, meus colegas, em sua maior parte livres pensadores, ateus, comecei batendo-me com eles – e acabei concorde com eles, parecendo-me excelso não ter a gente que prestar conta de seus atos.
Não foi difícil está mudança, pela razão de não ser firmada em fé raciocinada a minha crença católica; mas, apesar disto, a mudança não foi radical, porque nunca pude banir de todo a crença em Deus e na alma.
Houve em mim uma perturbação, de que nasceu a dúvida. Fiquei mais céptico do que cristão – e cristão somente por aqueles dois pontos.
Em todo o caso deixei de ser católico – e via os meus dois pontos luminosos por entre as nuvens.
Casei-me com uma moça católica, a quem amava muito de coração – e sempre respeitei suas crenças, guardando nos seios da minha alma a descrença.
No fim de quatro anos, fui subitamente batido pelo tufão da maior adversidade que me podia sobreviver: minha mulher foi roubada pela morte, em 20 horas, deixando-me dois filinhos, um de 3 a nos e outro de 1.
Aquele fato produziu-me um abalo físico e moral, prostrar-me.
As glórias mundanas, que havia conquistado mais por ela que por mim, tornaram-se-me aborrecidas, senão odiosas, e, como delas, coisas da terra, eu não via nada, nada encontrei que me fosse lenitivo a tamanha dor.
Sempre gostei de escrever, mas inutilmente tentava fazê-lo, porque, no fim de poucas linhas, tédio mortal se apoderava de mim.
Fonte: - Livro “VIDA E OBRA DE BEZERRA DE MENEZES” - SILVIO BRITO SOARES – 4 ª. Edição – Editora FEB. – Rio de Janeiro, RJ. – Agosto de 1978.
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