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segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

- MENSAGEM PARA MEDITAR. - N º. 266. - O ESTUDO SOBRE A NATUREZA DO CRISTO II. - II. - OS MILAGRES PROVAM A DIVINDADE DO CRISTO? - ALLAN kARDEC.

O ESTUDO SOBRE A NATUREZA DO CRISTO II.
  
II. -  OS MILAGRES PROVAM A DIVINDADE DO CRISTO?

Segundo a Igreja, a divindade do Cristo está firmada pelos milagres, que testemunham um poder sobrenatural.
Esta consideração pode ter tido certo peso numa época em que o maravilhoso era aceito sem exame; hoje, porém, que a Ciência levou suas investigações até às leis da Natureza, há mais incrédulos do que crentes nos milagres, para cujo descrédito não contribuíram pouco o abuso das imitações fraudulentas e a exploração que dessas imitações se há feito.
A fé nos milagres foi destruída pelo próprio uso que deles fizeram, donde resultou que muitas pessoas consideram agora os do Evangelho como puramente lendários.
A própria Igreja, aliás, tira aos milagres todo o alcance como prova da divindade do Cristo, declarando que o demônio os pode operar tão prodigiosos quanto aqueles outros.
Se tal poder tem o demônio, evidente se torna que os fatos desse gênero carecem em absoluto de caráter exclusivamente divino. Se ele pode fazer coisas espantosas, capazes até de iludir os eleitos, como poderão simples mortais distinguir os bons milagres dos maus? Não será de temer que, observando fatos similares, confundam Deus e Satanás?
Dar a Jesus semelhante rival em habilidade é grande desazo; mas, em matéria de contradições e de inconseqüências, não se consideravam as coisas com muita atenção numa época em que para os fiéis seria um caso de consciência o pensarem por si mesmos e discutirem o menor artigo que se lhes impusesse à crença. Não se contava então com o progresso e ninguém cuidava de que pudesse ter fim o reinado da fé cega e ingênua, reinado cômodo, qual o do bel-prazer. O papel tão preponderante que a Igreja se obstinou em atribuir ao demônio produziu conseqüências desastrosas para a fé, à medida que os homens se foram sentindo capazes de ver com seus próprios olhos. Depois de ter sido explorado com êxito durante algum tempo, ele se tornou o alvião posto no velho edifício das crenças e uma das causas da incredulidade. Pode dizer-se que a Igreja, com o tomá-lo por auxiliar indispensável, alimentou em seu seio aquele que se voltaria contra ela e lhe minaria os fundamentos.
Outra consideração não menos grave é a de que os fatos milagrosos não constituem privilégio exclusivo da religião cristã. Não há, com efeito, religião alguma, idólatra ou pagã, que não tenha seus milagres tão maravilhosos e tão autênticos para os respectivos adeptos, quanto os do Cristianismo. E a Igreja se privou do direito de os contestar, desde que atribuiu às potências infernais o poder de os operar.
No sentido teológico, o caráter essencial do milagre é o de ser uma exceção aberta nas leis da Natureza, o que, conseguintemente, o torna inexplicável mediante essas mesmas leis. Deixa de ser milagre um fato, desde que possa explicar-se e que se ache ligado a uma causa conhecida.
Desse modo foi que as descobertas da Ciência colocaram no domínio do natural muitos efeitos que eram qualificados de prodígios, enquanto se lhes desconheciam as causas.
Mais tarde, o conhecimento do princípio espiritual, da ação dos fluidos sobre a economia geral, do mundo invisível dentro do qual vivemos, das faculdades da alma, da existência e das propriedades do perispírito, facultou a explicação dos fenômenos de ordem psíquica, provando que esses fenômenos não constituem, mais do que os outros, derrogações das leis da Natureza, que, ao contrário, decorrem quase sempre de aplicações destas leis. Todos os efeitos do magnetismo, do sonambulismo, do êxtase, da dupla vista, do hipnotismo, da catalepsia, da anestesia, da transmissão do pensamento, a presciência, as curas instantâneas, as possessões, as obsessões, as aparições e transfigurações, etc., que formam a quase totalidade dos milagres do Evangelho, pertencem àquela categoria de fenômenos.
Sabe-se agora que tais efeitos resultam de especiais aptidões e disposições psicológicas; que se hão produzido em todos os tempos e no seio de todos os povos e que foram considerados sobrenaturais pela mesma razão que todos aqueles cuja causa não se percebia. Isto explica por que todas as religiões tiveram seus milagres, que mais não são que fatos naturais, quase sempre, porém, ampliados até ao absurdo pela credulidade e reduzidos agora ao seu justo valor pelos conhecimentos atuais, que permitem se destaque deles a parte devida à lenda.
A possibilidade da maioria dos fatos que o Evangelho cita como operados por Jesus se acha hoje completamente demonstrada pelo Magnetismo e pelo Espiritismo, como fenômenos naturais. Pois que eles se produzem às nossas vistas, quer espontaneamente, quer quando provocados, nada há de anormal em que Jesus possuísse faculdades idênticas às dos nossos magnetizadores, curadores, sonâmbulos, videntes, médiuns, etc. Do momento em que essas mesmas faculdades se encontram, em diferentes graus, numa multidão de indivíduos que nada têm de divino, até em heréticos e idólatras, elas não implicam, de maneira alguma, a existência de uma natureza sobre-humana.
Se o próprio Jesus qualifica de milagres os seus atos, é que nisto, como em muitas outras coisas, lhe cumpria apropriar sua linguagem aos conhecimentos dos seus contemporâneos.
Como poderiam estes apreender os matizes de uma palavra que ainda hoje nem todos compreendem?
Para o vulgo, eram milagres as coisas extraordinárias que ele fazia e que pareciam sobrenaturais, naquele tempo e mesmo muito tempo depois. Ele não podia dar-lhes outro nome. Fato digno de nota é que se serviu dessa denominação para atestar a missão que recebera de Deus, segundo suas próprias expressões, porém nunca se prevaleceu dos milagres para se apresentar como possuidor do poder divino.
1 Importa, pois, se risquem os milagres do rol das provas sobre que se pretende fundar a divindade da pessoa do Cristo. Vejamos agora se as encontramos em suas palavras.
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                                                                                  ALLAN KARDEC.

            Fonte: O Livro “OBRAS PÓSTUMAS”, - Allan Kardec –27 a. Edição. –Instituto de Difusão Espírita , - Araras, SP. – Maio 2012.

                                   RHEDAM. (mzgcar@gmail.com)

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