DE CÁ
Que
amargo era o meu destino!...
Tristezas
no coração,
Tateando
dificilmente
No
meio da escuridão...
Viver
na Terra e somente
Remando
contra a maré,
Com
receio de ir ao fundo...
Nem
tão boa coisa é.
Esta
vida de sofrer
Trinta
dias cada mês,
Entremeados
de prantos,
Há
quem estime? Talvez...
Mas
para mim que só fui,
Galeno
sem nó, galé,
Tantas
dores em conjunto,
Nem
tão boa coisa é.
Sentir
as disparidades
Das
vidas cheias de dor,
O
mal sufocando o mundo,
Marchando
com destemor:
Ver
o rico andar de coche
E
o pobre correndo a pé,
Tantas
misérias sentir...
Nem
tão boa coisa é.
O
pranto ferve na Terra,
Salta
aqui, salta acolá,
Nas
guerras de toda parte,
Nas
secas do Ceará;
Meus
irmãos de Fortaleza,
Do
Crato, do Canindé,
Ver
uns rindo e outros chorando,
Nem
tão boa coisa é.
Ah!
morrer e ainda sentir
Saudades
da escravidão,
Da
carne, do desconforto,
Da
treva, da ingratidão...
Não
é possível porque,
Pobre
filho da ralé,
Casar-se
com a desventura
Nem
tão boa coisa é.
Mas
falar demais agora,
Já
não é próprio de mim,
Não
vou gastar minha cera
Com
tanto defunto ruim;
Patetice
é ensinar
Verdade
aos homens sem fé.
Jogar
pérolas a tolos,
Nem
tão boa coisa é.
Juvenal Galeno
NASCIDO em Fortaleza e desencarnado na mesma cidade, em
1931, com 95 anos de idade. É um vulto literário inconfundível no cenáculo do
seu tempo, impondo-se justamente pela naturalidade e espontaneidade do seu
estro. Chamaram-lhe – “Béranger brasileiro”. Sua musa foi elogiada por
Castilho, José de Alencar, Machado de Assis, Silvio Romero, etc.
Fonte: PARNASO DE ALÉM - TÚMULO -
AUTORES DIVERSOS. - Chico Xavier- Editora FEB. Rio de Janeiro RJ - 1935.
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