RIMAS
DE OUTRO MUNDO.
I
Cheguei
feliz ao meu porto,
Estou
mais moço e mais forte,
Encontrei
paz e conforto
Na
vida, depois da morte.
Eis
as rimas de outro norte,
Que
escreve o poeta morto.
II
Com
a ignorância proterva,
Que
a morte é o fim, o homem pensa,
Julgado
no talo de erva
A
paisagem linda e imensa.
Ah!
Feliz o que conserva
As
luzes doces da crença.
III
Quanta
gente corre, corre,
Ansiosa
atrás do prazer,
Sonha
e chora, luta e morre
Sem
jamais o conhecer.
Não
há ninguém que se torre,
Sobre
a Terra, ao padecer.
IV
Fecha
a bolsa da ambição,
Não
corras atrás da sorte,
Venera
a mão que te exorte
Nos
dias da provação.
Tem
coragem, meu irmão,
Ninguém
se acaba com morte.
V
No
mundo vale quem tem
Um
cifrão de prata ou de ouro;
Mas,
da morte ao sorvedouro,
Jamais
escapa ninguém!
No
Céu só vale o tesouro
Daquele
que faz o bem.
VI
Que
tua alma em preces arda
No
fogo da devoção.
Deus
é Pai que nunca tarda
No
caminho da aflição.
Nas
mágoas do mundo, guarda
A
fé do teu coração.
VII
Entre
a fé e o fanatismo,
Muito
espírito se engana;
A
primeira ampara e irmana,
O
segundo é o dogmatismo,
Goela
aberta de um abismo
Na
estrada da vida humana.
VIII
A
Terra, para quem sente,
Inda
é torre de Babel,
Onde
a prática desmente
As
ilusões do papel:
Muita
boca sorridente,
Coração
de lodo e fel.
IX
Suporta
a dor que te cobre
Na
estrada espinhosa e má,
Quem
é rico, quem é nobre,
A
essa estrada voltará.
É
uma ventura ser pobre,
Com
a bênção que Deus nos dá.
X
Na
vida sempre supus,
Sem
muita filosofia,
Que,
em prol do Reino da Luz,
Basta,
na Terra sombria,
Que
o homem siga Jesus,
Que
a mulher siga a Maria.
BELMIRO BRAGA.
Nasceu
a 7 de janeiro de 1870, em Juiz de Fora, Minas, e ai desencarnou em 1937.
Iniciou-se na vida comercial e foi, depois, notário público. Poeta,
comediógrafo e jornalista nato. Popularizou-se, sobretudo, pela singeleza e
espontaneidade da sua musa. Era membro realce da Academia Mineira de Letras, da
qual foi um dos fundadores. Chamaram-lhe – “Rouxinol Mineiro”.
Fonte: PARNASO DE ALÉM - TÚMULO – Autores Diversos -
Chico Xavier- Editora FEB. Rio de Janeiro RJ - 1935.
RHEDAM. (mzgcar@gmail.com)
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