O ESTUDO SOBRE A
NATUREZA DO CRISTO III.
Dirigindo-se a alguns de seus discípulos que disputavam para
saber qual dentre eles era o maior, disse-lhes ele, chamando para junto de si
uma criança:
“Quem quer que me receba, recebe aquele que me enviou, porquanto
aquele que for o menor entre todos vós será o maior de todos.” (S. Lucas,
9:48.)
“Quem quer que receba em meu nome a uma criancinha como esta, a
mim me recebe; e aquele que me recebe não me recebe a mim, mas recebe aquele
que me enviou.” (S. Marcos, 9:37.)
“Jesus lhes disse então: Se Deus fosse vosso Pai, vós me amaríeis,
porque foi de Deus que saí e foi de sua parte que vim; pois, não vim de mim
mesmo, foi ele que me enviou.” (S. João, 8:42.)
“Jesus então lhes disse: Ainda estou convosco por um pouco de
tempo e vou em seguida para aquele que me enviou.” (S. João, 7:33.)
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Para completo desenvolvimento da questão dos milagres, veja-se A Gênese
segundo o Espiritismo, caps. XIII e seguintes, onde se acham explicados, por
meio das leis naturais, todos os milagres do Evangelho.
“Aquele que vos ouve a
mim me ouve; aquele que vos despreza a mim me despreza; e aquele que me
despreza, despreza aquele que me enviou.” (S. Lucas, 10:16.)
O dogma da divindade de Jesus se baseou na igualdade absoluta
entre a sua pessoa e Deus, pois que ele próprio é Deus. É este um artigo de fé.
Ora, estas palavras, que Jesus tantas vezes repetiu: Aquele que me enviou,
não só comprovam uma dualidade de pessoas, mas também, como já o dissemos,
excluem a igualdade absoluta entre elas, porquanto aquele que é enviado
necessariamente está subordinado ao que envia. Com o obedecer, aquele
pratica um ato de submissão. Um embaixador, falando do seu soberano, dirá:
Meu senhor, aquele que me envia; mas, se quem vem é o soberano em
pessoa, falará em seu próprio nome e não dirá: Aquele que me enviou,
visto que ele não pode enviar-se a si mesmo. Jesus o disse em termos
categóricos: Não vim de mim mesmo; foi ele quem me enviou.
Estas palavras: Aquele que me despreza, despreza aquele
que me enviou, não implicam absolutamente a igualdade, nem, ainda menos, a
identidade. Em todos os tempos, o insulto a um embaixador foi considerado como feito
ao próprio soberano. Os apóstolos tinham a palavra de Jesus, como este a de
Deus. Quando ele lhes diz: Aquele que vos ouve a mim me ouve, certamente
não queria dizer que seus apóstolos e ele fossem uma só e a mesma pessoa, igual
em todas as coisas.
A dualidade das pessoas, assim como o estado secundário e de
subordinação de Jesus com relação a Deus, ressaltam, ao demais, sem equívoco
possível, das seguintes passagens:
“Fostes vós que
permanecestes sempre firmes comigo nas minhas tentações. — Eis por que vos
preparo o Reino, como meu Pai mo preparou, a fim de que comais e bebais
à minha mesa no meu reino e que estejais sentados em tronos, para julgar as
doze tribos de Israel.” (S. Lucas, 22:28 a 30.)
“De mim digo o que vi junto de meu Pai; e vós, vós fazeis
o que ouvistes de vosso pai.” (S. João, 8:38.)
“Ao mesmo tempo, apareceu uma nuvem que os cobriu e dessa nuvem
saiu uma voz que fez se ouvissem estas palavras: Este é meu filho bem-amado;
escutai-o.” (Transfiguração: S. Marcos, 9:7.)
“Ora, quando o filho do homem vier em sua majestade, acompanhado
de todos os anjos, assentar-se-á no trono de sua glória; - e, achando-se
reunidas todas as nações, separará umas das outras, como o pastor separa as
ovelhas dos bodes; — colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua
esquerda. — Então, o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: Vinde, vós
que fostes abençoados por meu Pai, possuir o reino que vos foi preparado
desde o começo do mundo.” (S. Mateus, 25:31 a 34.)
“Aquele que me confessar e me reconhecer diante dos homens, eu
também o reconhecerei e confessarei diante de meu Pai que está nos céus; —
aquele que me renunciar diante dos homens, também eu mesmo o renunciarei
diante de meu Pai que está nos céus.” (S. Mateus, 10:32 e 33.)
“Ora, eu vos declaro que aquele que me confessar e me reconhecer
perante os homens, o filho do homem também o reconhecerá perante os anjos de
Deus; — mas, se algum me repudiar perante os homens, eu também o
repudiarei perante os anjos de Deus.” (S. Lucas, 12:8 e 9.)
“Pois, se alguém se
envergonhar de mim e das minhas palavras, desse também se envergonhará o Filho
do homem, quando estiver na sua glória e na de seu Pai e dos santos anjos.”
(S. Lucas, 9:26.)
Nestas duas últimas passagens parece mesmo que Jesus coloca
acima de si os santos anjos componentes do tribunal celeste, perante o qual
seria ele o defensor dos bons e o acusador dos maus.
“Mas, pelo que respeita a vos sentardes à minha direita ou à
minha esquerda, não me compete a mim vo-lo conceder; isso será para
aqueles a quem meu Pai o tenha preparado.” (S. Mateus, 20:23.)
“Ora, estando reunidos os fariseus, Jesus lhes fez esta
pergunta: Que vos parece do Cristo? De quem é ele filho? Eles responderam: De
David. - Como é então, retrucou ele, que David lhe chama em espírito seu
senhor, nestes termos: O Senhor disse a meu Senhor: Senta-te à minha direita,
até que eu reduza teus inimigos a te servirem de escabelo para os pés? —
Ora, se David lhe chama seu senhor, como é ele seu filho? (S. Mateus, 22:41
a 45.)
“Mas, ensinando no templo, Jesus lhes disse: Como é, que os
escribas dizem que o Cristo é filho de David, uma vez que o próprio David diz a
seu Senhor: Senta-te à minha direita, até que eu haja reduzido teus inimigos a
te servirem de escabelo para os pés? - Pois, se o próprio David lhe chama seu
Senhor, como é ele seu filho?” (S. Marcos, 12:35 a 37; S. Lucas, 20:41 a 44.)
Por essas palavras, Jesus consagra o princípio da diferença hierárquica
que existe entre o Pai e o Filho. Ele podia ser filho de David por filiação
corporal, como descendente de sua raça e foi por isso que teve o cuidado de
acrescentar: Como lhe chama ele em espírito seu Senhor? Se há uma diferença
hierárquica entre o pai e o filho, Jesus, como filho de Deus, não pode ser
igual a Deus.
Ele confirma esta interpretação e reconhece a sua inferioridade com
relação a Deus, em termos que não deixam lugar a dúvidas.
“Ouvistes o que foi dito: ‘Eu me vou e volto a vós. Se me amásseis,
rejubilaríeis, pois que vou para meu Pai, porque meu Pai É MAIOR DO QUE
EU’.” (S. João, 14:28.)
“Aproxima-se então um mancebo e lhe diz: Bom Mestre, que bem
devo fazer para alcançar a vida eterna?” Jesus lhe respondeu:
“Por que me chamas bom? “Não há senão somente Deus que é bom.
Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos.” (S. Mateus, 19:16 e
17; S. Marcos, 10:17 e 18; S. Lucas, 18:18 e 19.)
Não só Jesus não se deu, em nenhuma circunstância, por igual a
Deus, como, neste passo, afirma positivamente o contrário: considera-se
inferior a Deus em bondade. Ora, declarar que Deus lhe está acima, pelo poder e
pelas qualidades morais, é dizer que ele não é Deus. As passagens que seguem apóiam
as que citamos e também são bastante explícitas.
“Não tenho falado por mim mesmo; meu Pai, que me enviou, foi
quem me prescreveu, por mandamento seu, o que devo dizer e como devo falar;
— e sei que o seu mandamento é a vida eterna; o que, pois, eu digo é segundo o
que meu Pai me ordenou que o diga.” (S. João, 12:49 e 50.)
“Jesus lhes respondeu: Minha doutrina não é minha, mas daquele
que me enviou. — Aquele que quiser fazer a vontade de Deus reconhecerá se a
minha doutrina é dele, ou se falo por mim mesmo. — Aquele que fala por impulso
próprio procura a sua própria glória, mas o que, procura a glória daquele que o
enviou é veraz, não há nele injustiça.” (S. João, 7:16 a 18.)
“Aquele que não me ama não guarda a minha palavra, e a palavra
que tendes ouvido não é minha, mas de meu Pai que me enviou.” (S. João,
14:24.)
“Não credes que estou em meu Pai e que meu Pai está em mim? O
que vos digo não o digo de mim mesmo; meu Pai que mora em mim, faz ele próprio
as obras que eu faço.” (S. João, 14:10.)
“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão.
- Pelo que respeita ao dia e à hora, ninguém o sabe, nem os anjos que estão no
céu, nem mesmo o Filho, mas somente o Pai.” (S. Marcos, 13:32; S.
Mateus, 24:35 e 36.)
“Jesus então lhes disse: Quando houverdes elevado ao alto o
Filho do homem, conhecereis o que eu sou, porquanto nada faço de mim mesmo;
mas, digo o que meu Pai me ensinou; e aquele que me enviou está comigo e
não, me deixou só, porque faço sempre o que lhe é agradável.” (S. João,
8:28 e 29.)
“Desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a
vontade daquele que me enviou.” (S. João, 6:38.)
“Nada posso fazer de mim mesmo. Julgo segundo
ouço e o meu juízo é justo, porque não procuro satisfazer à minha vontade, mas
à vontade daquele que me enviou.” (S. João, 5:30.)
“Mas, de mim, tenho um testemunho maior que o de João, porquanto
as obras que meu Pai me deu o poder de fazer, as obras, digo, que eu
faço dão testemunho de mim, que foi meu Pai que me enviou.” (S. João, 5:36.)
“Mas, agora procurais
dar-me morte, a mim que vos tenho dito a verdade que aprendi de Deus; é
o que Abraão não fez.” (S. João, 8:40.)
Desde que ele nada diz de si mesmo; que a doutrina que
prega não é sua, que ela lhe veio de Deus, que lhe ordenou viesse dá-la
a conhecer; que não faz senão o que Deus lhe deu o poder de fazer; que a
verdade que ensina ele a aprendeu de Deus, a cuja vontade se acha
sujeito, é que ele não é Deus, mas, apenas, seu enviado, seu messias e seu
subordinado.
Fora-lhe impossível recusar, de maneira mais positiva, qualquer
assimilação sua a Deus, nem determinar o seu papel principal em termos mais
precisos. Não há nos trechos acima pensamentos ocultos sob o véu da alegoria,
que só à força de interpretações se possam descobrir. São pensamentos expressos
em seu sentido próprio, sem ambigüidade.
Se objetarem que Deus, por não ter querido dar-se a conhecer na
pessoa de Jesus, provocou uma ilusão acerca da sua individualidade, poder-se-ia
perguntar em que se funda semelhante opinião, quem tem autoridade para lhe sondar
o fundo do pensamento e para lhe dar às palavras um sentido contrário ao que
elas exprimem. Pois que, em vida de Jesus, ninguém o considerava como sendo
Deus; que todos, ao contrário, o consideravam um messias, se ele não quisesse
que o conhecessem qual era, bastar-lhe-ia nada dizer. Das suas afirmações
espontâneas, deve-se concluir que ele não era Deus, ou que, se o era,
voluntariamente e sem utilidade, fez uma afirmação falsa.
É de notar-se que S. João, o Evangelista sobre cuja autoridade
mais buscaram apoiar-se os instituidores do dogma da divindade do Cristo, é
precisamente o que oferece os mais numerosos e mais positivos argumentos em
contrário.
É do que pode convencer-se qualquer pessoa, lendo as passagens
seguintes, que nada acrescentam, é certo, às provas já citadas, mas as corroboram
porque de tais passagens ressalta evidente a dualidade e a desigualdade
das duas entidades:
“Por esse motivo, os judeus perseguiam a Jesus e queriam matá-lo,
isto é, porque fizera tais coisas em dia de sábado. - Mas, Jesus lhes disse: ‘Meu
Pai obra até ao presente e eu também obro’.” (S. João, 5:16 e 17.)
“Porquanto o Pai a ninguém julga; mas deu ao Filho todo o poder
de julgar, a fim de que todos honrem ao Filho, como honram ao Pai. Aquele
que não honra ao Filho, não honra ao Pai que o enviou.”
“Em verdade, em verdade, digo-vos que aquele que ouve a minha
palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não cai na
condenação; antes, já passou da morte à vida.”
“Em verdade, em verdade, digo-vos que a hora vem, e ela já veio,
em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e os que a escutarem viverão;
pois, assim como o Pai tem a vida em si mesmo, também deu ao Filho ter a vida
em si mesmo — e lhe deu o poder de julgar, porque ele é o Filho do
homem.” (S. João, 5:22 a 27.)
“E o Pai que me enviou há dado, ele próprio, testemunho de mim. Nunca
jamais lhe ouvistes a voz, nem vistes a face. - E a sua palavra não
permanecerá em vós porque não credes no que ele enviou.” (S. João, 5:37
e 38.)
“Quando eu julgasse, o
meu julgamento seria digno de fé, porquanto não estou só; meu Pai que me
enviou está, comigo.” (S. João, 8:16.)
“Havendo Jesus dito estas coisas, elevou os olhos ao céu e disse:
‘Meu Pai, a hora é vinda; glorifica a teu Filho, a fim de que teu Filho te
glorifique. — Como lhe deste poder sobre todos os homens, a fim de que
ele dê a vida eterna a todos os que lhe deste. — Ora a vida eterna consiste em
te conhecer a ti que és O ÚNICO DEUS verdadeiro e a Jesus-Cristo que
tu enviaste.
“Eu te tenho glorificado na terra; acabei a obra de que
me encarregaste. — E tu, meu Pai, glorifica-me, pois, agora também em ti mesmo
dessa glória que tive em ti antes que o mundo fosse.
“Dentro em pouco já não estarei no mundo; mas, quanto a eles,
estão ainda no mundo, e eu regresso a ti. Pai santo, conservo em teu
nome os que me deste, a fim de que eles sejam como nós’.”
“Dei-lhes a tua palavra e o mundo os odiou, porque eles
não são do mundo, como eu próprio não sou do mundo.”
“Santifica-os na verdade. A tua palavra é a verdade mesma. -
Assim como me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo — e me
santifico a mim mesmo por eles, a fim de que também eles sejam santificados na
verdade.”
“Não peço apenas por eles, mas também pelos que em mim hão de
crer pela palavra deles; — a fim de que estejam todos unidos, como tu, meu Pai,
estás em mim e eu em ti; que eles, do mesmo modo, sejam um em nós, a fim de
que o mundo creia que tu me enviaste.”
“Meu Pai, desejo que, lá onde eu estou, os que tu me deste também
estejam comigo, a fim de que contemplem a minha glória, glória que me deste,
porque me amaste antes da criação do mundo.”
“Pai justo, o mundo não te há conhecido; eu, porém, te tenho
conhecido; e estes conheceram que tu me enviaste. - Fiz que eles
conhecessem o teu nome, e ainda farei que o conheçam, a fim de que o amor
com que me tens amado esteja neles e eu próprio neles esteja.” (S. João,
17:1 a 5, 11 a 14, 17 a 26. Prece de Jesus.)
“É por isto que meu Pai me ama, porque deixo a vida para a
retomar. - Ninguém ma arrebata; sou eu que a deixo de mim mesmo; tenho o poder
de a deixar e tenho o poder de a retomar. É o mandamento que recebi do meu
Pai.” (S. João, 10:17 e 18.)
“Tiraram a pedra e Jesus, erguendo os olhos para o céu, disse
estas palavras: Meu Pai, rendo-te graças por me haveres exalçado. — Eu,
de mim, sabia que tu me exalçarias sempre; mas, digo isto para esta gente que
me cerca, a fim de que creia que foste tu que me enviaste.” (S. João,
11:41 e 42. Morte de Lázaro.)
“Não mais vos falarei, porquanto o príncipe do mundo vai vir, embora
nada haja em mim que lhe pertença, mas para que o mundo conheça que amo a
meu Pai e que faço o que meu Pai me ordena.” (S. João, 14:30 e 31.)
“Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor,
como eu, que tenho guardado os mandamentos de meu Pai, permaneço no seu
amor.” (S. João, 15:10.)
“Então, soltando grande brado, Jesus disse: Meu Pai, às tuas mãos
entrego o meu ser. E, tendo pronunciado essas palavras, expirou.” (S.
Lucas, 23:46.)
Se Jesus, ao morrer, entrega sua alma às mãos de Deus, é que ele
tinha uma alma distinta de Deus, submissa a Deus. Logo, ele não era
Deus.
As palavras que se seguem indiciam, da parte de Jesus, certa
fraqueza humana, certa apreensão quanto aos sofrimentos e à morte que lhe vão
ser infligidos, o que contrasta com a natureza divina que lhe atribuem. Elas, porém,
demonstram, ao mesmo tempo, uma submissão de inferior para superior.
“Então, chegou Jesus a um lugar chamado Getsêmani e disse a seus
discípulos: ‘Sentai-vos aqui, enquanto vou ali orar.’
- E, tendo levado consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou
a entristecer-se e a estar em grande aflição. — Disse-lhes então: Minha
alma se acha em mortal tristeza; ficai aqui e velai comigo. — E, indo para
um pouco mais longe, prosternou-se com o rosto em terra e orou dizendo: Meu
Pai, se for possível, faze de mim se afaste este cálice; entretanto, não
seja como eu quero, mas como tu queiras. — Veio em seguida ter com os
seus discípulos e, achando-os adormecidos, disse a Pedro: Pois quê! não
pudestes velar uma hora comigo? — Vigiai e orai, a fim de não cairdes em
tentação. O Espírito é pronto, mas a carne é fraca. — Foi-se de novo, para orar
segunda vez, dizendo: Meu Pai, se este cálice não pode passar, sem que eu o
beba, faça-se a tua vontade.” (S. Mateus, 26:36 a 42. Jesus no Jardim
das Oliveiras.)
“Então, disse-lhes: Minha alma está numa tristeza de morte; ficai
aqui e velai. — E, tendo-se afastado um pouco, prosternou-se em terra, rogando
que, se fosse possível, aquela hora se afastasse dele. - Dizia: Abba,
meu Pai, tudo te é possível, transporta para longe de mim este cálice;
mas, que se faça a tua vontade e não a minha.” (S. Marcos, 14:34 a 36.)
“Em chegando àquele lugar, disse-lhes: Orai, a fim de não sucumbirdes
à tentação. — E, tendo-se afastado deles cerca de um arremesso de pedra, ajoelhou-se,
dizendo: Meu Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; entretanto,
não se faça a minha vontade, mas a tua. — Então, apareceu-lhe um anjo do
céu a fortalecê-lo. — Havendo entrado em agonia, redobrava suas preces. -
Veio-lhe um suor de gotas de sangue, que corria até ao chão.” (S. Lucas, 22:40
a 44.)
“Pela hora nona, soltou Jesus um grande brado, dizendo: Eli!
Eli! Lamma Sabachtani? que quer dizer: Meu Deus! Meu Deus! por que me
abandonaste?” (S. Mateus, 27:46.)
“E, pela hora nona, lançou Jesus um grande brado, dizendo: Meu Deus, Meu Deus! por que me abandonaste?” (S. Marcos, 15:34.)
As passagens que vamos transcrever poderiam deixar alguma dúvida
e dar ensejo a crer-se numa identificação de Deus com a pessoa de Jesus; mas,
além de que não poderiam prevalecer contra os termos precisos das que precedem,
trazem consigo a devida retificação.
“Perguntaram-lhe: Quem és tu então? Jesus lhes respondeu: Sou o princípio de todas as coisas,
eu que vos falo. - Tenho muitas coisas a dizer-vos; mas, aquele que me
enviou é verdadeiro e eu não digo senão o que dele aprendi.” (S. João, 8:25
e 26.)
“O que meu Pai me deu é maior do que todas as coisas e ninguém o
pode arrebatar das mãos de meu Pai. Meu Pai e eu somos um.” (S. João,
10:29 e 30.)
Quer isto dizer que seu Pai e ele são um pelo pensamento,
pois que ele exprime o pensamento de Deus, pois que tem a palavra de
Deus.
“Então, os judeus tomaram de pedras para lapidá-lo. - Jesus lhes
disse: Muitas obras boas tenho feito diante de vós, pelo poder de meu Pai. Por qual delas quereis
lapidar-me? – Os judeus lhe responderam: Não é por nenhuma boa obra que te lapidamos;
mas, por causa da tua blasfêmia, porque, sendo homem, tu te fazes Deus. — Jesus
lhes replicou: Não está escrito na vossa lei: Tenho dito que sois Deuses? —
Ora, se ela chama deuses àqueles a quem a palavra de Deus era dirigida e não
podendo a Escritura ser destruída, como dizeis que blasfemo, eu a quem meu Pai
santificou e enviou ao mundo, porque disse que sou filho de Deus? — Se não faço
as obras de meu Pai, não me creiais; se, porém, as faço, quando não queirais
crer em mim, crede nas minhas obras, a fim de saberdes e crerdes que meu Pai
está em mim e eu nele.” (S. João, 10:31 a 38.)
Noutro capítulo, dirigindo-se a seus discípulos, diz: “Nesse
dia, reconhecereis que estou em meu
Pai e vós em mim e eu em vós.” (S. João, 14:20.)
Destas palavras, não há concluir-se que Deus e Jesus são uma única
entidade, pois, de outro modo, também se teria de concluir, das mesmas
palavras, que os apóstolos e Deus eram um.
ALLAN
KARDEC.
Fonte: O Livro “OBRAS PÓSTUMAS”, - Allan Kardec –27 a.
Edição. –Instituto de Difusão Espírita , - Araras, SP. – Maio 2012.
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