CAPÍTULO II.
MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO.
O PONTO
DE VISTA.
5. A ideia clara e precisa que se
faz da vida futura dá uma fé inabalável no futuro, e essa fé tem enormes
conseqüências sobre a moralização dos homens, uma vez que muda completamente o
ponto de vista sob o qual encaram a vida terrena. Para aquele que se coloca,
pelo pensamento, na vida espiritual, que é infinita, a vida corporal não é mais
do que uma passagem, uma curta permanência em um pais ingrato. Os reveses e as
amarguras da vida terrena não são mais do que incidentes que recebe com
paciência, pois sabe que são de curta duração e devem ser seguidos por um
estado mais feliz. A morte não tem mais nada de assustador; não é mais a porta
do nada, mas a da felicidade e da paz. Sabendo que está num lugar temporário e
não definitivo, recebe as precauções da vida com mais tolerância, resultando
daí, para ele, uma calma de espírito que suaviza a amargura.
Sem certeza da vida futura, o homem
concentra todos os seus pensamentos na vida terrena. Incerto quanto ao futuro,
dedica tudo ao presente. Não enxergando bens mais preciosos do que os da Terra,
faz como a criança que não vê outra coisa além de seus brinquedos. Eis porque
tudo faz para conseguir os únicos bens que para ele tem valor. A perda do menor
de seus bens é um doloroso desgosto. Um descontentamento, uma esperança
frustrada, uma ambição não satisfeita,uma injustiça de que é vítima, a vaidade
ou orgulho feridos constituem os tormentos que fazem de sua vida eterna
angústia, entregando-se assim, voluntariamente, a uma verdadeira tortura todos
os instantes. Sob o ponto de vista terrena, no centro do qual o homem está
colocado, tudo toma, ao seu redor, enormes proporções. O mal que atinja, assim
como o bem que toque aos outros, tudo adquire aos seus olhos uma grande
importância, tal como para aquele que está no interior de uma cidade, tudo
parece grande: os homens que ocupam altos cargos e também os monumentos; mas,
ao subir uma montanha, homens e coisas vão lhe parecer bem pequenos.
Assim ocorre com aquele que encara a
vida terrena do ponto de vista da futura; a Humanidade, como as estrelas do
firmamento, perde-se na imensidão. Parece, então, que grandes e pequenos se
confundem como formigas sobre um monte de terra; que proletários e soberanos
são da mesma estrutura, e lamenta que essas criaturas frágeis e transitórias se
preocupem tanto para conseguir um lugar que os eleve tão pouco e que por tão
pouco tempo conservarão. Assim é que a importância atribuída aos bens terrenos
está sempre na razão inversa da fé na vida futura.
Fonte: O Evangelho Segundo o
Espiritismo - Allan Kardec - 3a. Edição - Editora Petit - São Paulo,
SP - 2000.
Nenhum comentário:
Postar um comentário