CHICO XAVIER POR ELE
MESMO.
UMA
VIDA COM AMOR XII.
UBIRATAN
MACHADO.
A
CAPACIDADE DE PSICOGRAFAR V.
(...) Contam que, entusiasmado com os poemas que
psicografava, Chico resolveu mostrar a um escritor, bastante popular à época de
Minas, e que se achava de passagem por Pedro Leopoldo. O brilhante intelectual
foi arrogante e implacável, e classificou Chico de besta.
No ano seguinte, 1032, Manuel Quintão, da Federação Espírita
Brasileira, reuniu todas aquelas poesias em livro, com um título que, por si
só, já era um achado e um chamariz: Parnaso de Além Túmulo. A repercussão foi
explosiva. Caira uma bomba bem no meio da aldeia literária brasileira.
Jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo enviaram reportes e
fotógrafos a Pedro Leopoldo, a fim de apresentar ao país aquele caipira de 22
anos, que emergia do anonimato com uma aura de gênio e mistificador. Os
intelectuais reagiram de maneira diversa e contraditória. João Dornas Filhos
arrasou o capiau pretensioso, que teve a audácia de poetar, utilizando o nome
alexandrino de Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac.
“Se Chico Xavier produziu tudo aquilo por conta própria,
então ele merece ocupar quantas cadeiras quiser na Academia Brasileira de
Letras” (Monteiro Lobato.)
“Deve haver algo de divindade no fenômeno Francisco Xavier.
O milagre de ressuscitar espiritualmente os mortos pela vivência psicográfica
de inéditos poemas é pródigo que somente pode ocorrer na faixa do sobre-humano.”
(Menotti Del Picchia.)
Falou-se, então, muito, em Paul Reboux, que numa série de
livros intitulado À la Maniére de... pastichava os principais escritores
franceses, de Racine a Flaubert, de Zola a Mallarmé, de Victor Hugo a Gide.
Quem analisou melhor a questão foi R. Magalhães Júnior, a
propósito da quarta edição do Parnaso em 1944. O cronista lembrou a facilidade
com que uma pessoa afeita a escrever se impregna dos liques literários de um
escritor, lido durante um certo tempo, sem que essa leitura se misture a
outras, E argumentava: “Quem ler durante 60 dias, noite e dia, dia e noite,
apenas Euclides da Cunha, escreverá no estilo de Euclides sem esforço, sem
fazer uma ginástica mental muito dura.”
Na realidade, esse argumento é um pau de dois bicos, pois o
que se vê é exatamente o imitador reproduzir os cacoetes e vícios do
pastichado, sem atingir-lhes as qualidades. Magalhães frisava que a imitação
exigia cultura, lógica na seleção dos assuntos e na exposição das idéias. Dessa
forma, somando-se tudo que se argüia contra o médium mineiro, o cronista
concluía que “se Chico Xavier é um embusteiro, é um embusteiro de gênio”.
O que mais surpreendeu a Magalhães, porém foram certas
quadrinhas atribuídas a Antônio Nobre, que traziam “uma forte marca de
identificação, percebendo mesmo sopradas ao ouvido de Chico Xavier”. Como esta:
“ A figura de velhinhos/Que andais dormitando ao léu.../Como são belos os linhos/Que
vos esperam no céu!”
As críticas mais ásperas vieram como era de se esperar, de
católicos. O padre Júlio Maria da cidade mineira de Manhumirim, em seu jornal o
Lutador, arrasou Chico. Com ironia,
dizia que o médium devia ter uma pele de rinoceronte para suportar tantos
espíritos. As acusações se repetiam com tanta violência que Chico acabou
adoecendo, dominado pelo desânimo. Levantou-se, de ânimo redobrado, após uma severa
repreensão de Emmanuel. E durante 13 anos teve de suportar os ataques
arrebatados do padre Júlio Maria, que caprichosamente, lhe enviava todos os
números de O Lutador.
Fonte: - “CHICO XAVIER Por Ele
Mesmo. – Autores Diversos, - 1 ª. edição, - Editora Martin Claret Ltda, - São
Paulo, SP, - Outubro de 1994.
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