EVANGELHO SEGUNDO
O ESPIRITISMO.
CAPÍTULO VII.
Bem-aventurados
os pobres de espírito
O que se deve entender por pobres de espírito
1. Bem-aventurados os
pobres de espírito, pois que deles é o Reino dos Céus. (Mateus, 5:3.)
2. A incredulidade
zombou desta máxima: Bem-aventurados os pobres de espírito, como tem
zombado de muitas outras coisas que não compreende. Por pobres de
espírito Jesus não entende os baldos de inteligência, mas os humildes,
tanto que diz ser para estes o Reino dos Céus, e não para os orgulhosos.
Os homens de saber e de espírito, no entender do mundo, formam geralmente
tão alto conceito de si próprios e da sua superioridade, que consideram as
coisas divinas como indignas de lhes merecer a atenção. Concentrando sobre si
mesmos os seus olhares, eles não os podem elevar até Deus. Essa tendência, de
se acreditarem superiores a tudo, muito amiúde os leva a negar aquilo que,
estando-lhes acima, os depreciaria, a negar até mesmo a Divindade. Ou, se
condescendem em admiti-la, contestam-lhe um dos mais belos atributos: a ação
providencial sobre Capítulo VII as coisas deste mundo, persuadidos de que eles
são suficientes para bem governá-lo. Tomando a inteligência que possuem para
medida da inteligência universal, e julgando-se aptos a tudo compreender, não
podem crer na possibilidade do que não compreendem. Consideram sem apelação as
sentenças que proferem.
Se recusam a admitir o mundo invisível e uma potência
extra-humana, não é que isso lhes esteja fora do alcance; é que o orgulho se
lhes revolta à ideia de uma coisa acima da qual não possam colocar-se e que os
faria descer do pedestal onde se contemplam. Daí o só terem sorrisos de mofa
para tudo o que não pertence ao mundo visível e tangível. Eles se atribuem
espírito e saber em tão grande cópia, que não podem crer em coisas, segundo
pensam, boas apenas para gente simples, tendo por pobres de
espírito os que as tomam a sério.
Entretanto, digam o que disserem, forçoso lhes será entrar, como os
outros, nesse mundo invisível de que escarnecem. É lá que os olhos se lhes abrirão
e eles reconhecerão o erro em que caíram. Deus, porém, que é justo, não pode
receber da mesma forma aquele que lhe desconheceu a majestade e outro que
humildemente se lhe submeteu às leis, nem os aquinhoar em partes iguais.
Dizendo que o Reino dos Céus é dos simples, quis Jesus significar que
a ninguém é concedida entrada nesse Reino, sem a simplicidade de coração e
humildade de espírito; que o ignorante possuidor dessas qualidades será
preferido ao sábio que mais crê em si do que em Deus. Em todas as circunstâncias,
Jesus põe a humildade na categoria das virtudes que aproximam de Deus e o
orgulho entre os vícios que dele afastam a criatura, e isso por uma razão muito
natural: a de ser a humildade um ato de submissão a Deus, ao passo que o
orgulho é a revolta contra Ele. Mais vale, pois, que o homem, para felicidade
do seu futuro, seja pobre em espírito, conforme o entende o mundo, e
rico em qualidades morais.
Fonte: O
Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec – Tradução Guillon Ribeiro – 131
a. Edição - Editora FEB – Rio de Janeiro, RJ – janeiro 2013.
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