CAPÍTULO V. Ns. 6 à 10. CAUSAS ANTERIORES DAS AFLIÇÕES.
Se há males dos quais o homem é a principal causa nesta vida, há outros que, pelo menos na aparência, lhe são completamente estranhos e parecem atingi-los como que por fatalidade. Tal é, por exemplo, a perda de seres queridos e dos que sustentam a família. Tais são também os acidentes que nenhuma precaução pode impedir; os reveses da vida que tornam inúteis todas as medidas de prudência; as calamidades naturais e as enfermidades de nascença sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios de ganhar a vida pelo trabalho: as deformidades, a idiotia, o cretino, etc.
Aqueles que nascem nessas condições seguramente não fizeram nada nesta vida para merecer uma sorte tão triste, sem solução, sem reparação e que não puderam evitar, estando impossibilitados de as mudarem por si mesmos, e que não puderam evitar, estando impossibilitados de as mudarem por si mesmos, e que os expõem à caridade pública. Por que, então, seres tão desventurados e infelizes, enquanto ao seu lado, sob o mesmo teto, na mesma família, outros tão favorecidos sob todos os aspectos?
O que dizer, enfim, dessas crianças que morrem ainda pequeninas e que apenas conheceram da vida o sofrimento? Estes são os problemas que nenhuma filosofia ainda pôde explicar ou resolver até agora, anormalidades que nenhuma religião pôde justificar e que parecem ser a negação da bondade, da justiça e da providência de Deus, na suposição de que a alma e o corpo são criados ao mesmo tempo, e de ter sua sorte irrevogavelmente fixada após uma estada de alguns instantes na Terra. Que fizeram essas almas que acabam de sair das mãos do criador, para suportar tantas misérias aqui na terra e merecer no futuro ou uma recompensa, ou uma punição qualquer, se não fizeram nem o bem nem o mal?
Entretanto, em virtude de que todo o efeito tem uma causa, essas misérias são efeitos que tem uma causa. Admitindo um Deus justo, está causa deve ser justa. A causa vem sempre antes do efeito, se não está na vida atual, deve ser anterior a está vida, ou seja está numa existência anterior. É certo que Deus não pune o bem que se faz e nem o mal que não se faz; se somos punidos, é porque fizemos o mal; se não o fizemos nesta vida, seguramente o fizemos em outra. É uma conclusão da qual é impossível fugir e que demonstra a lógica da justiça de Deus.
O homem nem sempre é punido, ou completamente punido em sua exist6encia presente, mas nunca escapa às conseqüências de suas faltas. A prosperidade do mau é apenas momentânea; se não for punido no hoje, o será no amanha e, sendo assim, aquele que sofre está expiando os erros do seu passado. A infelicidade, que é a primeira vista nos parece imerecida, tem, pois, sua razão de ser, e aquele que sofre pode sempre dizer: ”Perdoai-me, Senhor, por errei”.
Os sofrimentos com que nos defrontamos na vida presente, devido às causas anteriores, são, na maioria das vezes, como também o são os das faltas atuais, a conseqüência natural de erros cometidos, ou seja ; por uma rigorosa justiça distributivas, o homem suporta o que fez os outros suportarem. Se foi duro e desumano, poderá, por sua vez, ser tratado duramente e com desumanidade. Se foi orgulhoso, poderá nascer numa condição humilhante; se foi avarento, egoísta, ou se fez mau uso da fortuna, poderá ser privado do necessário. Se foi uma mau filho, poderá sofrer com os seus próprios filhos, etc.
Assim, pela pluralidade das existências e da destinação da Terra como mundo expiatório , se explicam os absurdos que a divisão da felicidade e da infelicidade apresentam entre os bons e os maus neste mundo. Esse absurdo existe somente na aparência, pois é considerado apenas da vida presente; mas, se nos elevarmos pelo pensamento, de modo a incluir uma série de existências, compreenderemos que cada um tem o que merece, sem prejuízo do que lhe está reservado no mundo dos Espíritos, e que a justiça de Deus nunca falha.
O homem não deve esquecer nunca de que está num mundo inferior, ao qual está preso devido às suas imperfeições. A cada contrariedade ou sofrimento da vida, deve dizer de si para si mesmo que, se estivesse num mundo mais elevado, isso não aconteceria e que depende dele não retornar a este mundo, trabalhando por sua melhoria.
As tribulações da vida podem ser impostas aos Espíritos endurecidos, isto é, teimosos no mal ou muito ignorantes, ainda incapazes de fazer uma escolha consciente, mas são livremente escolhidas e aceitas pelos Espíritos arrependidos, que querem reparar o mal que fizeram e tentar fazer o bem, a exemplo daquele que, tendo feito mal sua tarefa, pede para recomeçá-la, para não perder o fruto do seu trabalho. Essas aflições são, ao mesmo tempo, expiações do passado, que nos castigam, e as provas que nos preparam para o futuro . Rendamos graças a Deus que, em sua bondade, dá ao homem a oportunidade de reparação e não o condena irremediavelmente pela primeira falta.
Entretanto, não se deve pensar que todos os sofrimentos suportados neste mundo sejam necessariamente a indicação de uma determinada falta. São, na maioria das vezes, provas escolhidas pelo Espírito para concluir sua purificação e apressar seu progresso. Assim a expiação serve sempre de prova, porém a prova nem sempre serve de expiação. Contudo, provas e expiações são sempre sinais de uma relativa inferioridade, pois o que é perfeito não tem mais necessidade de ser provado. Um Espírito pode ter adquirido um certo grau de elevação, mas, querendo avançar ainda mais, solicita uma missão, uma tarefa a cumprir, da qual tanto mais será compensado, se sair vitorioso, quanto mais difícil tiver sido a luta para vencê-la. Tais são essas pessoas de tendências naturalmente boas, de alma elevada, que têm nobres sentimentos, que parecem não ter trazido nada de mau de sua existência anterior e que suportam com uma resignação cristã as maiores dores, pedindo a Deus coragem para suportá-las sem lamentações. Ao contrário, podem-se considerar como expiações as aflições que provocam queixas e lamentos e fazem o homem se revoltar contra Deus.
Sem dúvida o sofrimento sem lamentações pode ser uma expiação, mas é um sinal de que foi escolhido voluntariamente e não imposto. É uma prova de uma firme decisão, o que é um indício de progresso.
Os Espíritos só podem alcançar a perfeita felicidade quando são puros: qualquer impureza impedem a sua entrada nos mundos felizes. É como se fossem os passageiros de um navio atingido pela peste, aos quais a entrada em uma cidade é interditada até que eles estejam descontaminados, purificados. Nas suas diversas existências corporais é que os Espíritos se livram, pouco a pouco, de suas imperfeições. As provas da vida fazem avançar quando são bem suportadas. Como expiações, elas apagam as faltas e purificam. São os remédios que limpam a chaga e curam o doente; e quanto maior o mal, mais o remédio deve ser eficiente. Aquele, pois, que sofre muito deve dizer que tinha muito a expiar e se alegrar de ser curado logo. Depende dele, de sua resignação, tornar esse sofrimento proveitoso e não perder o seu fruto pelas lamentações. Caso contrário, terá de recomeçar.
RHEDAM. (rhedam@gmail.com)
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