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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

- VULTOS DO ESPIRITISMO. GABRIEL DELLANE. - O REFORMADOR.



                                          GABRIEL DELANNE. 

              - Nascido em Paris, França, no dia 23 de março de 1857, e desencarnado na mesma cidade, no dia 15 de fevereiro de 1926.
            François Marie Gabriel Delanne era filho de Alexandre Delanne e de Dona Marie-Alexandrine Didelot Delanne, espíritas convictos e praticantes, amigos íntimo de Allan Kardec. Um dia o Codificador tomou do menino, colocou-o em seu colo, e vaticinou que ele seria um elemento de destaque no Espiritismo. 
            Oriundo de família espírita, não teve maiores dificuldades em assimilar as ideias reencarnacionistas. Sua mãe também contribuiu na grandiosa obra da revelação, tendo sido uma das médiuns que serviram de instrumento para o Codificador compilar as obras básicas da Doutrina Espírita.
            Quando do sepultamento do Mestre Liones seu pai foi um dos oradores antes de baixar a sepultura o corpo. Em 1870 quando da inauguração do dólmem do Codificador, construido no Cemitério de Pére-Lachaise, Alexandre Delanne, impedido por motivo de saúde, de comparecer àquela solenidade, escreveu uma carta, na qual, dando o seu próprio testemunho, fez sobressair as qualidades  de Allan Kardec.
            O seu extenso estudo sobre as vidas sucessivas intitulado A Teoria da Reencarnação , constitui um documento de relevante importância para o esclarecimento de um dos postulados fundamentais da Doutrina Espírita. Delanne também foi o prefaciador da Biografia de Allan Kardec, publicada por Henri Sausse, no ano de 1900.
            Foi companheiro de pesquisas psíquicas de Charles Richet, tendo por isso granjeado a sua estima e amizade. Em companhia desse grande sábio francês, Delanne presenciou a materialização do Espírito Bem-Boa, fato que passou para a História do Espiritismo. Tamanha era a confiança nele depositada por Richet que ele escreveu em seu  Tratado de Metapsíquica; antes de cada sessão, juntamente com Delanne, examinávamos tudo minuciosamente.
            Verifica-se, em todas as páginas das obras delanneanas, surgir, palpitante, a precisão científica de sua argumentação, o respeito da verdade demonstrada.
            Desde os 13 anos de idade se sentiu atraído pelas pesquisas em torno do Espiritismo experimental, e desde essa época se aplicou a observação continua dos fenômenos que lhe era dado testemunhar no seu próprio lar. Cursou a Escola Central de Artes e Ofícios, formando engenheiro eletricista. Por isso desde cedo orientaria seu pensamento pelos moldes rigorosos da Ciência, e pode-se dizer que essa sua formação intelectual serviu-lhe poderosamente, e dela sempre se utilizou na elaboração de suas obras de proselitismo.
            Seu interesse pelo estudo e propagação das obras de Allan Kardec, através da faceta científica, levou-o quando contava com 26 anos de idade, a abandonar a profissão de engenheiro eletricista.
            No ultimo quartel de sua vida terrena, foi visitado pelo ilustre confrade espírita brasileiro Dr. Canuto Abreu com que muito dialogaram, disse-nos, ele; Gabriel Delanne era a meus olhos como um herdeiro da missão em que seus pais haviam eficientemente colaborado. Era, naquele instante de minha vida, o maior e o mais velho da segunda geração do Espiritismo.
            Gabriel Delanne, em conversa com Henri Regnault, disse que quando resolvera consagrar-se resolutamente à propaganda  espírita, foi-lhe transmitida uma mensagem no seguinte teor: -  Nada temas. Tem confiança. Jamais serás rico sob o ponto de vista material; coisa alguma, porém, te faltará na vida.
            Era com imenso prazer que ele contava à seus íntimos o seguinte episódio de sua vida:
            Em certo dia do ano de 1883, recebi uma carta em que a missivista, residente em Versalhes, encarecia a minha visita, a fim de inteirar-me sobre o assunto concernente ao Espiritismo.
            A impressão que tive ao receber esta carta foi péssima, não era apenas porque o papel era de inferior qualidade, mas sobretudo porque os termos em que estava vazada eram um tanto quanto obscuros, além dos muitíssimos erros de ortografia e sintáticos.
            Refletindo melhor, resolvi atender a essa solicitação. em chegando à residência da missivista, veio abrir a porta uma senhora já idosa. Ao saber que se tratava da minha pessoa, fez-me entrar imediatamente, conduzindo-me a uma sala bastante ampla e modestamente mobiliada. A um canto dessa sala havia uma grande mala toda forrada de couro amarelo-escuro, a qual, desde logo, despertou minha atenção. Com uma terrível acentuação inglesa, a senhora, sem se preocupar com o exame a que lhe estava submetendo, repetia-me, já um tanto enfarada, ser pensamento seu fundar um jornal para difusão do Espiritismo.
            Mas, minha senhora, respondi-lhe, para tal cometimento torna-se necessário dinheiro, mesmo porque um jornal, para que se mantenha exige muito dinheiro.
            Nesta altura a idosa senhora dirigiu-se, em passos pesados, em direção à mala. Abrindo-a, dela tirou um maço de velhos papéis e do meio deles uma grande carteira de couro, da qual retirou cinco cédulas de mil francos cada uma, entregando-mas tranquilamente. Diga-se de passagem que, nessa época - 1883 -, cinco mil francos representavam soma muito elevada. E ao entregar-me essa importância disse:  Eis o necessário para as primeiras despesas. Estou pronta para fornecer-lhe daqui por diante o que se tornar preciso. Estará disposto a aceitar o encargo de dirigir esse jornal?  Surpreso, diante do inesperado, emudeci. Ela então repetiu com firmeza, aceita? Sim, articulei, e agradeço, Senhora, o interesse demonstrado em torno da difusão do Espiritismo.
            Para que agradecer? retrucou-me, acrescentando: logo que saia o primeiro número peço-lhe procurar-me para juntos prosseguirmos na propaganda do Espiritismo. E levantando-se bruscamente , fez-me entender que a visita estava encerrada.
            Foi dessa maneira, através da generosidade de uma inglesa, e que outra não era senão a Senhora Elisabeth dEsperánce - ainda desconhecida em França, nessa época -, que surgiu a revista O Espiritismo.
            Realizou Delanne experiência com médiuns de grande fama. Em 1904, juntamente com Charles Richet e outros estudiosos, presenciou os prodigiosos fenómenos de materialização da vila Carmem em Argel.
            Desse modo, a produção literária de Delanne não se apóia em especulações imaginárias, mas em fatos por ele mesmo investigados e confirmados. Dedicando-se, de maneira especial, ao labor de mostrar que o Espiritismo assenta sobre bases científicas, escreveu suas principais obras, que hoje ocorrem o mundo. Em  O Espiritismo perante a Ciência , traça ele, com rara maestria, um quadro completo dos dados que o Psiquismo pode apresentar para merecer o respeito dos cientistas. E para darmos uma prova  da admirável segurança de sua argumentação, basta que lancemos os olhos sobre suas páginas e verificaremos, então, que desde a época, já longínqua, em que apareceu a 1º edição dessa obra - 1893 -, o seu autor teve a satisfação de verificar que algumas das mais importantes teorias expostas tiveram  a consagração da Ciência. Isto ele próprio confessa na parte final da referida obra, em edições subsequentes.
            Delanne sabia muito bem quão poderosa é a força da intolerância, do fanatismo e da paixão, por isso na Introdução do seu livro  Pesquisas sobre a Mediunidade  datada de 25 de fevereiro de 1900, escreveu:
            A luta é inflamada e, provavelmente, será longa, de vez que os prejuízos religiosos e científicos se mostram obstinados. Insensivelmente, porém, a evidência acaba impondo-se. Temos agora a convicção de que a grandiosa certeza da imortalidade se tornará uma verdade científica, cujas consequências benfazejas, fazendo-se sentir no mundo inteiro, mudarão os destinos da Humanidade.
            Noutro ponto dessa Introdução, salientava, bem inspirado, que a Física moderna, o magnetismo, o hipnotismo, a sugestação verbal ou mental, a clarividência, a telepatia e o Espiritismo, todos esses conhecimentos novos conduzem irresistivelmente o homem para o Além.
            O surto evolutivo, em geral, no século XX, tem sido espantoso, especialmente no que se relaciona com a Ciência, que nesses últimos anos atingiu uma proporção verdadeiramente geométrica. A Física e a Química, a partir da desintegração atómica, passaram a liderar as conquistas do saber humano.  Por isso não será fora de propósito dizer que a obra  A Evolução Anímica,  publicada em 1895, é mais um atestado eloqüente das verdades do Espiritismo, e coloca a personalidade do seu autor num pedestal que bastante o dignifica.
            Muitos conhecimentos científicos, expostos pelo autor, sofreram, no correr dos anos, uma natural transformação e progresso, o que, entretanto, não invalidou o vigor e a firmeza dos conceitos espirituais emitidos por Delanne, mas, antes, vieram afirmá-los cada vez mais.
            O mundo tem sofrido muito, em virtude das concepções materialistas que avassalaram, por assim dizer, quase que todos os ramos da atividade humana. Um dos maiores responsáveis por esse surto desagregador é justamente o clericalismo, com seus abusões e absurdos clamorosos, verdadeiras fábricas de descrentes e desiludidos.
            No ano de 1925, Delanne, com cerca de 68 anos de idade, deu à luz da publicidade uma obra de incomparável valor, intitulada  A Reencarnação , última, aliás, saída de sua maravilhosa pena. Embora a última, como dissemos, na ordem cronológica, não nos arreceamos em dizer que, pelo rigor da sua lógica, pelo valor de sua argumentação, pela escolha de suas provas, pela superioridade de sua tese, pela imparcialidade com que apresenta os fatos, essa obra é a primeira da coleção delanneana.
            A idade avançada, a paralisia e a cegueira não conseguiram diminuir o potencial de sua atividade e a sua pujança da sua inteligência e nem arrefecer-lhe o entusiasmo, sempre vivo em defesa dos postulados espíritas à luz da Ciência.
            Em todas as publicações espíritas apareciam seus escritos, com o deliberando propósito de esclarecer e firmar a convicção das verdades kardequianas, tendo o seu artigo de estréia aparecido em 1883. Fundou em 1897, a  Revue Scientifique et Morale du Spiritisme, na qual ficaram registrados preciosos trabalhos de sua autoria e de outros estudiosos do Espiritismo experimental.
            É bem certo que ele, absolutamente, não ignorava ser precaríssimo seu estado de saúde nos últimos anos de vida, o que todavia não o induzia a cruzar os braços à espera que soasse a hora da libertação do seu Espírito. Basta dizer que cogitava escrever mais um livro, cujo conteúdo já estava espiritualmente delineado. Não o escreveu, porém, porque no dia 15 de fevereiro de 1926, na mesma Paris que o viu nascer, seu Espírito se desprendia da matéria, ruma a Espiritualidade.
            Seu último artigo jornalístico, intitulado  A Exteriorização do Pensamento, saiu publicado em  La Revue Spirite  de fevereiro de 1926, quando então ele não mais se encontrava entre nós.
            Gabriel Delanne, ao prefaciar a obra  Kate King, histoire de ses apparitions, em 1899, entre outras coisas, escreveu uma passagem que bem define o sue propósito de mostrar, de maneira exuberante, que os postulados da Codificação kardequiana são de tal ordem que a Ciência, com todo o seu poder e autoridade, jamais lhe conseguirá abalar os alicerces, mesmo porque os processos científicos, quando aplicados com honestidade, só levam a concluir pela veracidade da  Doutrina Espírita.
            Bem sabemos que isso não pode agradar aos homens que só vêem diante de seus olhos matéria, sempre matéria e nada mais que a matéria! e aos teólogos que sabem que a implantação dos ensinos dos Espíritos importa na erradicação formal dos dogmas que sustentam suas religiões, inconsistentes às mais simples análises científicas.
            Ora, como Gabriel Delanne, cujo nome imprime autoridade, situou o Espiritismo em bases científicas, era natural que sofresse também a ira dos que se sentiram prejudicados e ameaçados em seus interesses personalistas e de castas.
            Ele soube, pela sua formação espiritual, pela sua sólida cultura e também pela fina educação que recebera no lar, bafejado pelas luzes do Espiritismo, ele soube, repetimos, enfrentar todas as situações, delas saindo cada vez mais respeitado e admirado.
            Devido a cegueira física e a paralisia, ficou incapaz para continuar as pesquisas cientificas. Descortinou para ele um outro campo de observação do Espiritismo, até então desconhecido, jamais pensou que existissem além das verdades espíritas encaradas pelo angulo cientifico, da Ciência positiva, o único admitido por ele.
            Cumprida a tarefa que lhe fora confiada e da qual se desincumbiu magnificamente, recebeu, como prêmio a cegueira física para que os olhos do Espírito pudessem então maravilhar-se com a verdade integral do Espiritismo.
            Gabriel Delanne durante sua longa peregrinação foi privado das consoladoras bênçãos do Espiritismo total, não porque seu espírito não sentisse ânsias de algo que só a Filosofia concede e que o Evangelho faculta, dentro desse organismo para onde convergem as três forças propulsoras do verdadeiro progresso espiritual, na sua mais alta e ampla acepção. Mas era preciso que ele sofresse e ficasse  assim privado desses sublimes refrigérios da alma, a fim de a que a Doutrina Espírita penetrasse nas altas esferas do conhecimento humano, para que despertasse os homens de pensamento, de maneira a que vissem no Espiritismo uma fonte inexaurível de estudos da mais alta transcência. E essa cegueira e mais a paralisia que lhe dificultava os movimentos, fechando-lhe definitivamente o mundo dos efeitos, transportou-o para o mundo das causas, pouco penetrável pela ciência dos homens. O Dr. Canuto Abreu, o conheceu pessoalmente, com ele manteve muitos diálogos, em sua coluna da revista Metapíiquica, escreveu sobre a nova fase do eminente Cientista do Espiritismo, dizendo:
            Então, num plenilúnio de recompensa dada ainda em vida terrena, ele foi encontrar o redil dos cordeiros cristãos. Aproximou-se como peregrino cansado. Tateou a cerca até a porta. Bateu. A porta era Jesus e abriu-se. Ele entrou emocionado. Aquele rebanho, que nunca o havia interessado quando gozava a visão da carne, era agora o seu rebanho.
            A 7 de setembro de 1925, quando da sessão de abertura do Congresso Espírita Internacional, surpreendeu a todos os psiquistas  presentes vindo do mundo todo, quando se fez ler o Discurso de Gabriel Delanne, e que assim principiava:
            Roguemos para os nossos trabalhos a bênção divina, pois que é nela que reside todo o poder, toda a ciência, toda a justiça, toda a bondade e todo o amor.
            Noutra parte dessa mensagem do congresso, lembrava ele aos estudiosos presentes:
            Para todas as nossas investigações, não receemos pedir ao mundo invisível as instruções necessárias. Não nos esqueçamos de que uma falange de grandes sábios continua no Além a se interessar pêlos nossos trabalhos. Eles se acham associados aos Espíritos de Luz incumbidos de dirigir o grande movimento de renovação moral e intelectual tão necessário na hora presente! com todas as nossas forças, apelemos agora para eles. Que esses amigos nos espirem.
            Como vimos Gabriel Delanne tornou-se um Espírita completo.
            Desencarnou, em 15 de fevereiro de 1925, justamente quando ia escrever, para o Bulletin da União Espirita francesa, mais uma das suas eloquentes páginas de saudação a todos os Espíritas franceses, de maneira que esses periódico, em vez de seu costumeiro artigo, trouxe, nesse mês de fevereiro, em sua primeira página, o necrológico do gigante do Espiritismo científico, que também foi membro do Comité do cérebre  Instituto de Metapsíquico Internacional e apreciado conferencista.
            O depoimento de Jean Meyer (o grande amigo de Allan Kardec, o homem que em 1919 criou, em Paris, o Instituto Metapsíquico  Internacional e a União Espirita Francesa) no seguinte trecho do discurso que pronunciou em Londres, quando do Congresso Espírita Internacional de 1928:
            Relembrando a memória de Leon Denis, não poderei olvidar a de Gabriel Delanne, Presidente da União Espírita Francesa e da Sociedade Francesa de Estudos dos Fenômenos Psíquicos. Ele era, como Léon Denis, membro de honra da Federação Espírita Internacional. Até o último alento, foi um trabalhador incansável, sendo muito importante para o Espiritismo a sua contribuição, pois seus escritos, e com justiça, são considerados com os de  Allan Kardec, Léon Denis e Bozzano, clássicos do Espiritualismo moderno.
            Todos os anos no domingo mais próximo do dia 31 de março, data da desencarnação de Allan Kardec, os espiritistas franceses prestam ao mesmo, diante de seu túmulo, no Pére-Lachalse, sentidas homenagens, fazendo-se então ouvir os mais destacados representantes do Movimento espírita de França.
            E sempre após essa cerimônia simples e toda espiritual, os presentes , conforme é de tradição, se encaminham par um outro sepulcro, situado pouco adiante:  é onde jazem os despojos do grande admirador de Kardec - Gabriel Delanne. Ai, um que outro orador dirige a esse Espírito palavras de reconhecimento, exaltando-lhe a relevante obra e os incontestáveis méritos.
            Gabriel Delanne dedicou toda a sua vida à propagação do Espiritismo, pelo qual se sacrificou inutilmente aos olhos daqueles que  só vêem no imediatismo a verdadeira razão do viver humano e por isso não podem compreender que, por força desse desprezo pelas vaidades e ambições terrenas, ele se cobriu com os louros espirituais de um trabalho bem conduzido, sem vacilações e fielmente executado até seu derradeiro instante de vida corpórea.

               Fonte: O Reformador - Ano 95 - dezembro 1977 - N º 1.785 - Página 376 à 384 ).


                                   RHEDAM. (rhedam@gmail.com)

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