ANÁLISE.
Oh! Que desdita estranha
a de nascermos
Nas sombras melancólicas
dos ermos,
Nos recantos dos mundos
inferiores,
Onde a luz é penumbra
tênue e vaga,
Que, sem vigor,
fraquíssima, se apaga
Ao furacão indômito das
dores.
Voracidade onde a alma
se mergulha,
Apoucado Narciso que se
orgulha
Na profundeza do abismos
Da carne, que,
estrambótica, apodrece;
Que atrofiada,
hipertrófica, parece
Cataclismos dos grades
cataclismos.
Prendermo-nos ao fogo
dos instinto,
Serpentes entre escrófulas
e helmintos,
Multiplicando as
lágrimas e os trismos,
Tendo a alma – centelha,
luz e chama –
Amalgamada em pântanos
de lama,
Em sexualidades e histerismos.
Misturamos clarões de sentimentos
Entre vísceras, nervos, tegumentos,
Na agregação da carne e dos humores,
Atrocidade das atrocidades;
Enegrecermos luminosidades
Na macabra esterqueira dos tumores.
E nisto achar fantásticos prazeres,
Ilusão hiperbólica dos seres
Bestializados, materializados;
Espíritos em ânsias retroativas,
No transcorrer das vidas sucessivas,
Nas ferezas do instinto, atassalhados...
Mas análise crua do que eu via,
Hedionda lição de anatomia,
É mais que uma atrevida aberração;
Que se quebre o escalpelo de meus
versos;
Entreguemos a Deus seus universos
Que elaboram a eterna evolução.
AUGUSTO
DOS ANJOS.
PARAIBANO. Nasceu em
1884 e desencarnou em 1914, na Cidade de Leopoldina, Minas. Era professor no
Colégio Pedro II. Inconfundível pela bizarria da técnica, bem como dos assuntos
de sua predileção, deixou um só livro – Eu – que foi, aliás, suficiente para
lhe dar personalidade original.
Fonte: PARNASO DE ALÉM - TÚMULO -
CÁRMEN CINIRA e outros autores - Chico Xavier- Editora FEB. Rio de Janeiro RJ -
1935.
RHEDAM. (mzgcar@gmail.com)
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