AS LÁGRIMAS
Desci
um dia
Ao
sorvedouro
Da
atra agonia
Da
Humanidade,
A
procurar,
A
perscrutar
Qual
a verdade,
Qual
o tesouro
O
mais profundo,
Que
neste mundo
O
homem prendesse
E
o retivesse.
E
vi, então,
No
coração
Da
criatura,
Só
a ilusão
Duma
ventura.
E
vi senhores
Que
dominavam
E
se orgulhavam
Do
seu poder,
Sempre
a abater
Os
desgraçados.
Os
potentados
Com
seus valores
Bem
se julgavam
Onipotentes,
Heróis
valentes
Cá
nesta vida...
Depois,
porém,
Reconheceram
E
viram bem
Nesta
existência
Toda
a impotência
Do
deus-milhão,
Perante
a mão
Da
fria dor,
Que
lhes domava
E
lhes dobrava
O
torpe egoísmo.
Busquei
os lares,
Ricos
solares
Dos
protegidos,
Onde
o conforto
Para
a matéria
Anda
em contraste
Com
atroz miséria
Dos
desvalidos.
E
ainda aí
Não
pude achar
O
que eu ali
Fui
procurar.
Eu
vi mulheres
Nos
seus prazeres,
Jovens
e belas,
Alvas
estrelas
De
formosura,
Rindo
e cantando
Dentro
da noite
Da
desventura.
Pobres
donzelas,
Fanadas
flores...
Luz
sem fulgores,
Que,
miseráveis
Párias
da vida,
Deixam
o teto
Do
seu afeto
Maior,
supremo,
Insuperável.
Somente
encontram
Dores
que afrontam,
Mágoa
insanável,
Incompreendida!
E
penetrei
Pelos
castelos
Dourados,
belos,
Das
diversões,
Onde
se aninha
E
se amesquinha
A
multidão
Que
busca rir,
Gozar,
sorrir,
A
ver se esquece
O
que padece,
Julgando
crer
Que
está a ver
O
paraíso.
Mas
este riso,
Ao
som da festa,
À
meia luz,
É
o que produz
Todo
o amargor,
A
maior dor,
Pois
eu ali
Tristonho
vi
O
que em verdade
É
a sociedade;
Só
pensamentos
Das
impurezas,
Só
sentimentos
Que
trazem presas,
Aniquiladas,
E
esmagadas,
Ensandecidas
As
criaturas
Outrora
puras,
Belas
outrora,
No
entanto agora
Flores
perdidas,
Almas
impuras,
Desiludidas!
Nesse
recinto
Eu
vi, então,
A
traição,
A
iniqüidade,
A
grosseria,
Toda
a maldade
Da
hipocrisia;
E
tudo, enfim,
Tristonho
assim,
Dissimulado,
Falsificado
No
fingimento
Que
aparecia
No
barulhento
Rumor
de vozes,
Notas
atrozes,
De
uma alegria
Jamais
sentida,
Desconhecida
Naquele
meio.
Eu
contemplei-o
Cheio
de horror
E
vi que as flores,
As
pedrarias
Tão
luminosas,
Eram
sombrias,
Eram
trevosas,
Pois
só cobriam
Míseros
trapos,
Pobres
farrapos
De
almas perjuras
Ao
seu Criador,
Fracas
criaturas
Baldas
de amor.
E,
condoído,
Desiludido,
Desanimado,
Num
forte brado
Disse
ao Senhor:
“Onipotente
Pai
de Bondade,
Oh
tem piedade
Dos
filhos teus
Que
choram, gemem,
Pálidos
tremem
Ó
Senhor Deus!
Faze
que a luz
Do
bom Jesus
Penetre
a alma
Na
Terra aflita,
Dando-lhe
a calma
Que
necessita.
Só
conheci
E
encontrei,
Só
contemplei
O
mal que vi.”
Mas
uma voz
Do
azul do Céu,
Pronta
e veloz,
Me
respondeu:
“Filho
bendito
Do
meu amor,
Sou
teu Senhor,
E
no Infinito
Tudo
o que fiz,
Nada
se perde,
Assim
tornando
O
ser feliz.
Contempla,
ainda,
A
Terra linda
E
então verás,
Donde
provém
A
grande paz,
O
sumo bem.
O
grão tesouro,
Mais
fino ouro
Dos
filhos meus,
Está
na luta,
Nos
prantos seus,
Que
lhes transforma
A
alma poluta
Num
ser radioso,
Astro
formoso
De
pura luz!”
Eu
ajoelhei
E
Contemplei
As
multidões
Atropeladas,
Desenganadas
Nas
perdições.
Vi
transformadas
Todas
as cenas;
Em
todos os seres,
Homens,
mulheres,
Jovens,
crianças,
Nas
grandes penas,
Nas
esperanças,
Por
entre a luz,
Por
entre flores,
Brotar
a flux
No
coração
De
cada ser,
Em
profusão,
Gotas
pequenas
Como
as brilhantes
Luzes
serenas
Das
madrugadas
Primaveris.
Reconheci
Que
por aí
Na
escura Terra
Onde
eu amei,
Sorri,
chorei,
Onde
sofri
E
onde eu vi
A
dura guerra,
A
amarga dor,
Lágrimas
belas,
Gotas
singelas,
Meigas,
serenas,
Eram
açucenas
De
fino olor
Do
espaço azul!
Depois,
eu vi
Que
os que as vertiam
Por
este mundo,
Vale
profundo
De
mágoa e dor,
Quando
voltavam
Do
seu exílio,
Eram
saudados
Por
mensageiros
De
amor e luz
Do
bom Jesus,
Que
os coroavam
Com
gemas finas,
Jóias
divinas
Do
escrínio santo,
Primor
de encanto
Do
amor de Deus.
Fui
então vendo,
Reconhecendo
Que
aqui nos Céus,
Lágrimas
lindas
São
transformadas,
Remodeladas
Para
formarem
Belo
diadema
E
aureolarem
Os
que as verteram
Aí
na Terra.
E
vi, então,
Em
profusão,
Gemas
brilhantes,
Alvinitentes,
Ricas,
fulgentes
E
deslumbrantes,
Que
nem Ofir
Pôde
possuir.
Sejam
benditas,
As
pequenitas
Gotas
de pranto,
Orvalho
santo
Do
amor divino
Que
dá ventura,
Tranqüilidade,
Felicidade
Ao
peregrino.
Bendito
o Pai,
O
Nosso Deus
Que
abranda o ai
Dos
filhos seus;
Que
a alegria
E
a paz envia
À
Humanidade
Tão
sofredora,
Com
a lágrima bela,
Luzente
estrela
Consoladora!
João de Deus
NASCIDO em São Bartolomeu de Messines, Portugal, em 1830,
e desencarnado em 1896, afirmou-se um dos maiores líricos da língua portuguesa.
É tão bem conhecido no Brasil quanto em seu belo país. Nestas poesias palpita,
de modo inconfundível, a suavidade e o ritmo da sua lira.
Fonte: PARNASO DE ALÉM - TÚMULO - AUTORES
DIVERSOS. - Chico Xavier- Editora FEB. Rio de Janeiro RJ - 1935.
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