LIVRO SEGUNDO.
CAPÍTULO. III.
RETORNO DO ESPÍRITO DA VIDA CORPÓREA À VIDA ESPIRITUAL.
SEPARAÇÃO DA
ALMA E DO CORPO.
Questão.
Nº. 155.
a) - A separação se dá instantaneamente por brusca transição? Haverá alguma linha de demarcação
nitidamente traçada entre a vida e a morte?
“Não; a alma se desprende gradualmente, não se escapa como um pássaro
cativo a que se restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois estados se tocam
e confundem, de sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o prendiam.
Estes laços se desatam, não se quebram.”
Durante a vida, o Espírito se acha preso ao corpo pelo seu envoltório
semimaterial ou perispírito. A morte é a destruição do corpo somente, não a
desse outro invólucro, que do corpo se separa quando cessa neste a vida
orgânica. A observação demonstra que, no instante da morte, o desprendimento do
perispírito não se completa subitamente; que, ao contrário, se opera
gradualmente e com uma lentidão muito variável conforme os indivíduos. Em uns é
bastante rápido, podendo dizer-se que o momento da morte é mais ou menos o da
libertação. Em outros, naqueles sobretudo cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito menos
rápido, durando algumas vezes dias, semanas e até meses, o que não implica
existir, no corpo, a menor vitalidade, nem a possibilidade de volver à vida,
mas uma simples afinidade com o Espírito, afinidade que guarda sempre proporção
com a preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. É, com
efeito, racional conceber-se que, quanto mais o Espírito se haja identificado
com a matéria, tanto mais penoso lhe seja separar-se dela; ao passo que a
atividade intelectual e moral, a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento,
mesmo durante a vida do corpo, de modo que, em chegando a morte, ele é quase
instantâneo. Tal o resultado dos estudos feitos em todos os indivíduos que se
têm podido observar por ocasião da morte. Essas observações ainda provam que a
afinidade, persistente entre a alma e o corpo, em certos indivíduos, é, às
vezes, muito penosa, porquanto o Espírito pode experimentar o horror da
decomposição. Este caso, porém, é excepcional e peculiar a certos gêneros de
vida e a certos gêneros de morte. Verifica-se com alguns, suicidas.
Fonte: “O LIVRO DOS ESPÍRITOS” - Allan Kardec - 54a.
Edição - Editora LAKE - São Paulo, SP - 1994.
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