VIDA
E OBRA DE BEZERRA DE MENEZES.
35 º. Parte. No
seu magnífico romance intitulado A Casa assombrada, há uma passagem em que
Bezerra nos diz que desejou se médico, e como o verdadeiro discípulo de
Hipócrates deve nortear sua vida profissional.
A passagem é a seguinte:
- “Minha mãe continuou a experimentar melhoras, graças,
dizia ela, aos cuidados de sua filha Alzira. – E o médico? Perguntava eu.
Nenhum direito tem dos seus agradecimentos? – o médico que se contente com a
boa paga que recebe, respondia-me galhofando. Desgraçada profissão? Pode o que
adotou empenhar o maior esforço e o maior saber para salvar da morte um ente
querido dos que o chamam, mas desde que a Ciência não vence o mal, porque o mal
é invencível, porque as fontes da existência sem tem esgotado, maldições lhe
chovem em cima. Foi o médico que matou o doente! Se, pelo contrário, à força de
saber e solicitude, arranca à morte e aos vermes uma vida preciosa, nenhum
merecimento lhe reconhecem. Foi Deus que salvou o doente! Mas, então,
perguntarão: por que foste estudar medicina? Por duas razões do maior alcance,
direi eu.
A primeira é que o médico goza de maior independência; e
não é coisa de pouca valia ter-se independência em nossa terra, onde um simples
inspetor de quarteirão faz garbo de abusar da sua autoridade.
A segunda é que o médico, muito mais do que o sacerdote,
tem meios de exercer a divina caridade, eu falo daquele que faz da sua
profissão, um sacerdócio, e não do que utiliza como industria rendosa.”
Bezerra de Menezes jamais deixou de prestar seus serviços
profissionais, fosse a quem fosse. Havia mesmo em seu espírito a volúpia,
digamos assim, de fazer o bem, sem olhar a quem, e, por isso, não escolhia
horas, fizesse o bem o mau tempo, estivesse descansando, tranqüilo, ou exausto
de tanto mourejar.
Ele próprio, através do seu romance inacabado – Casamento
e Mortalha, publicado e folhetim, pelo Reformador, definiu a maneira de
proceder do verdadeiro médico, quando disse:
“O médico verdadeiro não tem o direito de acabar a
refeição, de escolher a hora, de inquirir se é longe ou perto. O que não atende
por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser
alta noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe, ou no morro; o que sobretudo
pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem chora à
porta que procure outro – esse não é médico, é negociante da medicina, que
trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um
desgraçado, que manda, para outro, o anjo da caridade que lhe veio fazer uma
visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu
espírito, a única que jamais se perderá nos vaivens da vida”.
E Bezerra, como médico, cumpriu tudo isso, e podemos
mesmo dizer que, muitas vezes, ia além, muito além dessas prescrições.
Inúmeras ocasiões tirava de seus bolsos tudo quanto neles
havia para que uma pobre mulher pudesse comprar o indispensável à dieta de seu
filhinho!
E ao regressar ele a sua humilde casa, tinha de privar-se
de muita coisa que necessitava, mas isso pouco se lhe dava.
Jamais esmoreceu nessa sua maneira de proceder. Ouvia
sempre e preferencialmente a Vaz de seu coração, em vez de dar ouvidos à voz do
estomago!
Àqueles que não dispunham da importância necessária para
a compra dos medicamentos, o dono da farmácia tinha autorização para
fornecê-los por sua conta.
Fonte: - Livro “VIDA E OBRA DE BEZERRA DE MENEZES” - SILVIO BRITO SOARES – 4 ª. Edição – Editora
FEB. – Rio de Janeiro, RJ. – Agosto de 1978.
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