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terça-feira, 9 de julho de 2013

- VIDA E OBRA DE BEZERRA DE MENEZES. - N º. 47. - 35 º. Parte. - SILVIO BRITO SOARES.

 VIDA E OBRA DE BEZERRA DE MENEZES.

            35 º. Parte. No seu magnífico romance intitulado A Casa assombrada, há uma passagem em que Bezerra nos diz que desejou se médico, e como o verdadeiro discípulo de Hipócrates deve nortear sua vida profissional.
            A passagem é a seguinte:
            ­- “Minha mãe continuou a experimentar melhoras, graças, dizia ela, aos cuidados de sua filha Alzira. – E o médico? Perguntava eu. Nenhum direito tem dos seus agradecimentos? – o médico que se contente com a boa paga que recebe, respondia-me galhofando. Desgraçada profissão? Pode o que adotou empenhar o maior esforço e o maior saber para salvar da morte um ente querido dos que o chamam, mas desde que a Ciência não vence o mal, porque o mal é invencível, porque as fontes da existência sem tem esgotado, maldições lhe chovem em cima. Foi o médico que matou o doente! Se, pelo contrário, à força de saber e solicitude, arranca à morte e aos vermes uma vida preciosa, nenhum merecimento lhe reconhecem. Foi Deus que salvou o doente! Mas, então, perguntarão: por que foste estudar medicina? Por duas razões do maior alcance, direi eu.
            A primeira é que o médico goza de maior independência; e não é coisa de pouca valia ter-se independência em nossa terra, onde um simples inspetor de quarteirão faz garbo de abusar da sua autoridade.
            A segunda é que o médico, muito mais do que o sacerdote, tem meios de exercer a divina caridade, eu falo daquele que faz da sua profissão, um sacerdócio, e não do que utiliza como industria rendosa.”
            Bezerra de Menezes jamais deixou de prestar seus serviços profissionais, fosse a quem fosse. Havia mesmo em seu espírito a volúpia, digamos assim, de fazer o bem, sem olhar a quem, e, por isso, não escolhia horas, fizesse o bem o mau tempo, estivesse descansando, tranqüilo, ou exausto de tanto mourejar.
            Ele próprio, através do seu romance inacabado – Casamento e Mortalha, publicado e folhetim, pelo Reformador, definiu a maneira de proceder do verdadeiro médico, quando disse:
            “O médico verdadeiro não tem o direito de acabar a refeição, de escolher a hora, de inquirir se é longe ou perto. O que não atende por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe, ou no morro; o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem chora à porta que procure outro – esse não é médico, é negociante da medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um desgraçado, que manda, para outro, o anjo da caridade que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu espírito, a única que jamais se perderá nos vaivens da vida”.
            E Bezerra, como médico, cumpriu tudo isso, e podemos mesmo dizer que, muitas vezes, ia além, muito além dessas prescrições.
            Inúmeras ocasiões tirava de seus bolsos tudo quanto neles havia para que uma pobre mulher pudesse comprar o indispensável à dieta de seu filhinho!
            E ao regressar ele a sua humilde casa, tinha de privar-se de muita coisa que necessitava, mas isso pouco se lhe dava.
            Jamais esmoreceu nessa sua maneira de proceder. Ouvia sempre e preferencialmente a Vaz de seu coração, em vez de dar ouvidos à voz do estomago!
            Àqueles que não dispunham da importância necessária para a compra dos medicamentos, o dono da farmácia tinha autorização para fornecê-los por sua conta.

            Fonte: - Livro “VIDA E OBRA DE BEZERRA DE MENEZES”  - SILVIO BRITO SOARES – 4 ª. Edição – Editora FEB. – Rio de Janeiro, RJ. – Agosto de 1978.


                                   RHEDAM. (rhedam@gmail.com)

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