A VIDA SURPREENDENTE DE BATUIRA.
Apolo
Oliva Filho.
ANTONIO
GONÇALVES DA SILVA “BATUÍRA” nasceu em Freguesia das Águas Santas (Portugal),
em 19 de março de 1839. Aportou no Brasil em 3/01.1850, aos onze anos, vivendo
três anos no Rio de Janeiro até 1853, transferiu-se depois para Campinas (São
Paulo), onde trabalhou alguns anos na lavoura.
Tornou-se
espírita após o desencarne de um filho.
Mais
tarde, fixou residência na Capital bandeirante, dedicando-se à venda de jornais
de casa em casa, conquistando nessa profissão a simpatia e a amizade dos seus
fregueses. “Muito ativo, correndo daqui para acolá, a gente da rua o apelidara
de “O BATUÍRA” (nome que o povo dava à narceja, ave peralta, muito ligeira, de
vôo rápido, que frequenta os charcos, a volta dos lagos”.
Convivendo
com os acadêmicos do Largo são Francisco passou a se dedicar a arte teatral:
montou um pequeno teatro à Rua Cruz Preta (depois denominada Rua Senador
Quintino Bocaiúva). Quando aparecia em cena, BATUÍRA era aplaudido e os
estudantes lhe dedicavam versos, como estes: “Salve grande batuíra/Com teu
dentes de traíra/Com teus olhos de safira/Com tua arte que me inspira/Nas
cordas de minha lira/Estes versos de mentira”.
Àquela
altura de sua vida passou a fabricar charutos o que fez prosperar as suas finanças.
Adquiriu diversos lotes de terrenos no Lava Pés, onde construiu sua residência
e, ao lado, uma rua particular de casa que alugava aos humildes e que hoje se
chama Rua Espírita.
De
espírito humanitário e idealista, aderiu, desde logo, à Campanha Abolicionista,
trabalhando denodadamente ao lado de Luiz Gama e de Antonio Bento. Em sua casa
abrigava os escravos foragidos e só os deixava sair com a Carta de Alforria.
Despertado
pela Doutrina Espírita exemplificou no mais alto grau os ensinamentos cristãos:
praticava a caridade, consolava os aflitos, tratava os doentes com a Homeopatia
e difundia os princípios espíritas. Fundou o jornal “Verdade e Luz”, em 25 de
maio de 1890, que chegou a ter uma tiragem de cinco mil exemplares. Abriu mão
dos seus bens em favor dos necessitados.
A sua
casa no Lava Pés, que era ao mesmo tempo hospital, farmácia, albergue, escola e
asilo. Ele doou para a sede da instituição Beneficente “Verdade e Luz”.
Recolhia os doentes e desamparados, infundindo-lhes a fé necessária para
poderem suportar suas provas terrenas. A propósito disso, dizia-se de Batuíra: “Um
bando de aleijados vivia com ele”. Quem chegasse á sua casa, fosse lá quem
fosse, tinha cama mesa e cobertor.
De
suas primeiras núpcias com dona Flora Augusto Gonçalves batuíra. Das segundas núpcias
teve outro filho que desencarnou aos doze anos. Mas, apesar disso, Batuíra era
pai de quase toda essa gente. Exemplo disso foi o Zeca, que Batuíra recebeu com
poucos meses e criou como seu filho adotivo, o qual se tornou continuador de
sua obra na instituição beneficente que ele fundara.
Eis alguns traços da personalidade de Batuíra pela
pena do festejado escritor Afonso Schmidt: “Em 1873, por ocasião da terrível
epidemia de varíola que assolou a capital da Província, ele serviu de médico,
de enfermeiro, de pai para os flagelados, deu-lhes não apenas o remédio e os
desvelos, mas também o pão, o teto e o agasalho. Daí a popularidade de sua
figura. Era baixo, entroncado e usava longas barbas que lhe cobriam o peito
amplo. Com o tempo, essa barba se fez branca e os amigos diziam que ele era tão
bom, que parecia com o imperador”.
Batuíra era tão popular que
foi citado em obra como: “Histórias e Tradições da Cidade de São Paulo”, de
Ernani Silva Bueno; “A Academia de São Paulo - Tradições e Reminiscências -
Estudantes, Estudantões e Estudantadas”, de Almeida Nogueira; “A Cidade de São
Paulo em 1900”, de Alfredo Moreira Pinto. Escreveram ainda sobre ele J. B.
Chagas, Afonso Schmidt, Paulo Alves Godoy e Zeus Wantuil.
Batuíra criou grupos espíritas
em São Paulo, Minas Gerais e Estado do Rio, proferiu conferências espíritas por
toda parte, criou a Livraria e Editora Espírita, onde se fez impressor e tipógrafo.
Referindo-se ao seu
desencarne, Afonso Schmidt escreveu: “Batuíra faleceu a 22 de Janeiro de 1909.
São Paulo inteiro comoveu-se com o seu desaparecimento. Que idade tinha? Nem
ele mesmo sabia. Mas seu nome ficou por aí, como um clarão de bondade, de doçura,
de delicadeza do céu, dessas que vão fazendo cada vez mais raras num mundo
velho, sem porteira...
RHEDAM.
(rhedam@gmail.com)
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