CHICO XAVIER POR ELE
MESMO.
CHICO
XAVIER PERFIL BIOGRÁFICO.
UMA
VIDA COM AMOR II
UBIRATAN
MACHADO.
COM O DIABO
NO CORPO.
(...) Na diáspora da família Xavier, Chico vai
para a casa da madrinha, dona Maria Rita de Cássia, velha amiga de sua mãe. Ali
começariam as atribulações do menino, que mais parecia um daqueles pequenos
heróis de Dickens, cuja infância é curtida com os mais atrozes castigos e
humilhações. Mas havia uma diferença. Ao contrario dos personagens do grande
romancista inglês, em geral com um destino adulto medíocre, Chico estava
destinado a altos vôos: tornar-se um professor de humildade e demonstrar as
manifestações do maravilhoso não são travessuras do capeta. Mas, para chegar
até La, precisava passar no vestibular do sofrimento. E dona Rita seria uma
professora intransigente.
A qualquer pretexto, a vara de marmelo cantava no lombo do
menino. Para pescoções, taponas e beliscões dispensavam-se pretextos. E, em sua
crueldade, dona Rita inventava requintes dignos de um inquisidor. Um de seus
caprichos consistia em enfiar garfos no ventre do garoto. O Suplício durava
horas. O sangue começava a escorrer. Chico soluçava, berrava, chorava,
implorava. Mas a madrinha não lhe permitia tirar os garfos. Aos poucos abriu-se
uma imensa chaga na barriga. A dor impedia-o às vezes até de caminhar ate o fundo
do quintal, único lugar que encontrava um pouco de paz. Além disso, via-se
obrigado a usar uma camisola comprida de menina, chamada de mandrião, feita com
pano de saco de farinha pintado de azul.
“Ao me levantar, pela manha, eu não me animava a tomar café;
fica esperando a primeira surra do dia. Depois, sim, tomava meu café com aquela
alegria de já haver pago uma parcela.”
E as surras vinham sempre acompanhadas do mesmos refrão:
“Esse menino está com o diabo no corpo”.
Talvez para exorcizá-lo, dona Rita obrigava-o a longos
jejuns. O Sofrimento ia polindo o menino. Mas a capacidade de resistência de
uma criança é limitada.
Um dia, angustiado e com o corpo marcado de vergões, Chico
correu para o fundo do quintal. Ia refugiar-se à sombra amiga de velhas bananeiras.
Ali, começou a rezar. Pouco depois, viu dona Maria João a seu lado. Lembrou-se
das palavras da mãe, de que não ia morrer. E, com lógica de seus cinco anos,
não se surpreendeu.
Fonte: - “CHICO XAVIER Por Ele
Mesmo. – Autores Diversos, - 1 ª. edição, - Editora Martin Claret Ltda, - São
Paulo, SP, - Outubro de 1994.
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