CHICO
XAVIER PERFIL BIOGRÁFICO.
UMA
VIDA COM AMOR III
UBIRATAN
MACHADO.
COM O DIABO
NO CORPO.
(...) “Quero ir embora daqui, mamãe.
Só vivo apanhando...”
A mãe recomendou-lhe paciência.
“Quem não sofre não aprende lutar”.
“Minha madrinha diz que estou com o
Diabo no corpo...”
“Não se importe. Tudo passará e, se
você tiver paciência, Jesus nos ajudará para ficarmos sempre juntos.”
Depois desse dia, Chico nunca mais
reclamou. E nem chorava. Suportava tudo calado, de olhos secos. Ante essa
reação, que considerava ofensiva, dona Rita mudou o refrão; Agora dizia: “Chico
é tão cínico que n]ao chora nem mesmo a pescoção>”
O menino defendia-se dessa acusação
com argumento escandaloso. Contava que, toda vez que suportava uma surra sem
chorar, via sua mãe. A partir daí, passaram a chamá-lo de menino aluado.
Dona Rita criava também como filho
adotivo um menino chamado Moacir, que nesta época andava lá pelos seus 12 anos
de idade. Há muito ele tinha uma imensa ferida pustulenta e crônica na perna.
Não havia remédio capaz de fazer sará-la.
Um dia, dona Rita resolveu recorrer
aos préstimos de Ana Batista, uma antiga curandeira da localidade denominada
Matuto (hoje Santo Antônio da Barra), nos arredores de Pedro Leopoldo.
Ana Batista examinou a ferida e, com
sua sabença irretorquível, concluiu:
“Aqui só uma simpatia vai dar resultado.”
“Como é essa simpatia”, indagou dona
Rita.
Assumindo um ar ainda mais sério, a
velha benzedeira ensinou:
“A ferida precisa ser lambida por
uma criança, em jejum, durante três sextas-feiras seguidas.”
A princípio dona Rita achou a idéia
meio absurda.
Mas logo concordou:
“Chico serve?”
“Chico é aquele menino aluado, que
mora em sua casa? Serve sim.”
Esse diálogo ocorreu numa quinta-feira,
pela manha. À tarde, Chico já sabia da estranha missão que lhe estava reservada
para o dia seguinte. Ao se dirigir à sombra das bananeiras, onde costumava
orar, encontrou o Espírito de sua mãe. Chorando, contou-lhe tudo.
“Você deve obedecer, meu filho”.
“Então devo lamber a ferida do
Moacir?”
“É melhor lamber feridas do que
causar aborrecimentos aos outros. Obedeça à sua madrinha”.
“E isso vai sarar a ferida do
Moacir?”
“Não, pois não é remédio. Mas seja
humilde, meu filho. Se você ajudar a lamber a ferida, nós fazemos o remédio
para a cura.”
No dia seguinte, Chico iniciou a sua
repgunante missão.
“Durante
três sextas-feiras seguidas, em jejum, tive que fazer aquela coisa horrível.
Fechava os olhos, pedia forças ao Espírito de mamãe e começava a lamber a perna
do menino. Foi duro. Na hora, tinha muita raiva da minha língua não ser maior,
para com uma lambida só eu resolver o problema e acabar com o suplício.
Felizmente a danada da ferida começou a sarar na terceira sexta-feira, e não
precisei mais fazer aquilo. E pedi à minha mãe para dar um jeito de ninguém mais
ter ferida, pelo menos em Pedro Leopoldo.”
Quando viu a perna do filho adotivo
melhorar, dona Rita, pela primeira vez em dois anos, dirigiu-se a Chico de
maneira carinhosa:
“Muito bem, Chico. Você obedeceu
direitinho, Louvado seja Deus!”
E
durante uma semana o menino não apanhou. Mais alguns meses e ele estaria livre
da tirania da madrinha.
“Dona Rita foi minha educadora.”
Fonte: - “CHICO XAVIER Por Ele
Mesmo. – Autores Diversos, - 1 ª. edição, - Editora Martin Claret Ltda, - São
Paulo, SP, - Outubro de 1994.
Nenhum comentário:
Postar um comentário