MARCHEMOS.
Há
mistérios peregrinos
No
mistério dos destinos
Que
nos mandam renascer:
Da
luz do Criador nascemos,
Múltiplas
vidas vivemos,
Para
à mesma luz volver.
Buscamos
na Humanidade
As
verdades da Verdade,
Sedentos
de paz e amor;
E
em meio dos mortos-vivos
Somos
míseros cativos
Da
iniqüidade e da dor.
É
a luta eterna e bendita,
Em
que o Espírito se agita
Na
trama da evolução;
Oficina
onde a alma presa
Forja
a luz, forja a grandeza
Da
sublime perfeição.
É
a gota d'água caindo
No
arbusto que vai subindo,
Pleno
de seiva e verdor;
O
fragmento do estrume,
Que
se transforma em perfume
Na
corola de uma flor.
A
flor que, terna, expirando,
Cai
ao solo fecundando
O
chão duro que produz,
Deixando
um aroma leve
Na
aragem que passa breve,
Nas
madrugadas de luz.
É
a rija bigorna, o malho,
Pelas
fainas do trabalho,
A
enxada fazendo o pão;
O
escopro dos escultores
Transformando
a pedra em flores,
Em
Carraras de eleição.
É
a dor que através dos anos,
Dos
algozes, dos tiranos,
Anjos
puríssimos faz,
Transmutando
os Neros rudes
Em
arautos de virtudes,
Em
mensageiros de paz.
Tudo
evolui, tudo sonha
Na
imortal ânsia risonha
De
mais subir, mais galgar;
A
vida é luz, esplendor,
Deus
somente é o seu amor,
O
Universo é o seu altar.
Na
Terra, às vezes se acendem
Radiosos
faróis que esplendem
Dentro
das trevas mortais;
Suas
rútilas passagens
Deixam
fulgores, imagens,
Em
reflexos perenais.
É
o sofrimento do Cristo,
Portentoso,
jamais visto,
No
sacrifício da cruz,
Sintetizando
a piedade,
E
cujo amor à Verdade
Nenhuma
pena traduz.
É
Sócrates e a cicuta,
É
César trazendo a luta,
Tirânico
e lutador;
É
Cellini com sua arte,
Ou
o sabre de Bonaparte,
O
grande conquistador.
É
Anchieta dominando,
A
ensinar catequizando
O
selvagem infeliz;
É
a lição da humildade,
De
extremosa caridade
Do
pobrezinho de Assis.
Oh!
bendito quem ensina,
Quem
luta, quem ilumina,
Quem
o bem e a luz semeia
Nas
fainas do evolutir:
Terá
a ventura que anseia.
Nas
sendas do progredir.
Uma
excelsa voz ressoa,
No
Universo inteiro ecoa:
“Para
a frente caminhai!
“O
amor é a luz que se alcança,
“Tende
fé, tende esperança,
“Para
o Infinito marchai!”
Castro Alves
POETA baiano, desencarnou a 6 de julho de 1871, com 24
anos de idade. Mocidade radiosa, o autor consagrado de Espumas Flutuantes
exerceu nas rodas literárias do seu tempo a mais justa e calorosa das
projeções. Nesta poesia sente-se o crepitar da lira que modulou – O Livro e a
América.
Fonte: PARNASO DE ALÉM - TÚMULO -
AUTORES DIVERSOS. - Chico Xavier- Editora FEB. Rio de Janeiro RJ - 1935.
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