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quinta-feira, 2 de março de 2017

- POEMAS ESPÍRITAS. - PARNASO DE ALÉM TÚMULO. - RECORDANDO. - CASIMIRO DE ABREU. (CHICO XAVIER.)


            

  
                   RECORDANDO.

Meu Deus, deixai que eu me esqueça
Da minha vida de agora,
Que apenas o meu passado
Eu possa alegre rever;
Deixai que me identifique
Com os raios da luz de outrora,
Daquela risonha aurora
Do meu passado viver.

Que eu sinta de novo a vida
Na infância linda e ditosa,
Na alegria inalterável
Do lugar onde nasci;
Quero rever novamente
A paisagem luminosa,
Sentir a emoção grandiosa
De tudo o que já senti!...

Ah! que eu possa hoje olvidar
Imensidades, esferas,
Concepções mais perfeitas
No progresso que alcancei;
Que das ruínas, dos escombros,
Minhalma retire as heras,
E contemple as primaveras
Da vida que já deixei.

Quero aspirar os perfumes
Dos cendais cheios de flores,
Na fresca sombra dos vales,
Sob a luz do céu de anil!
Rever o sítio encantado
Da minha estância de amores,
Meus sonhos encantadores,
Minha terra, meu Brasil!

Escutar os sinos calmos
Sob a alvura das capelas,
Enchendo as longes devesas,
De convites à oração;
Sentar-me no prado agreste,
Beijar as flores singelas,
Mirar a luz das estrelas,
Ouvir a voz da amplidão!

Correr sob o sol-nascente
Até que chegue o luar,
Procurando os passarinhos
E as borboletas tafuis;
Que esperança, que ventura!
Viver, sofrer, e amar
A campina, o Sol, o mar,
Campos verdes, céus azuis

Ser homem e ser criança,
Toucar-se a alma das galas
Da poesia inexprimível,
Da alvorada e do arrebol...
Oh! Natureza da Terra,
Que tesouros não exalas,
Na carícia dessas falas
Do passarinho e do Sol!

Eu gozo de quando em quando,
Revendo essa claridade,
Da existência transcorrida
Guardada no coração;
E dos cimos desta vida,
Na excelsa Imortalidade,
Verto prantos de saudade
A luz da recordação.


Casimiro de Abreu

POETA fluminense, desencarnou aos 18 de outubro de 1860, na Fazenda de Indaiaçu, no então município de Barra de São João, hoje denominado Casimiro de Abreu, com 21 anos de idade, acometido de tuberculose pulmonar. Figura literária das mais típicas do seu tempo, o autor malogrado de Primaveras ainda aqui se afirma no seu profundo quão suave nativismo lírico. Suas composições possuem “um saboroso estilo colorido, sensível e personalíssimo” – disse Ronald de Carvalho.

            Fonte: PARNASO DE ALÉM - TÚMULO - AUTORES DIVERSOS. - Chico Xavier- Editora FEB. Rio de Janeiro RJ - 1935.

                                   RHEDAM. (mzgcar@gmail.com)

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