VIDA E OBRA. (2ª Parte.)
(...) Estimulado por esse rasgo de probidade, Bezerra de Menezes fez voto de ser digno de tão nobre pai; e com a quantia de quatrocentos mil réis, que seus parentes lhe deram para custear a viagem, partiu a 5 de fevereiro de 1851, quando estava com 19 anos e meio de idade, para a Corte, a fim de fazer seu curso médico.
Aqui aportou, dispondo apenas de dezoito mil réis, importância essa que mal lhe daria para se manter por alguns dias. Em compensação, porém, possuía um patrimônio que muito lhe valeu na vida: o da coragem e o da força indômita para luta. E foi lutando heroicamente, dando lições para se manter e pagar as taxas do curso acadêmico, estudando nas Bibliotecas Públicas, que aquele rapaz de olhos esmeraldinos conseguiu, em 1856, doutorar-se em Medicina, obtendo em todos os anos do curso a nota optima cum laude!
Para seu doutoramento, defendeu a tese Diagnóstico do Cancro. Essa tese, conforme registrou o Dicionário Biográfico Português, de Inocêncio Francisco da Silva, é seguida de algumas proposições sobre as matérias de que se compões o ensino médico.
Em torno da vida de Bezerra de Menezes formaram-se muitas lendas, lendas, sim, porque a elas falta a prova da veracidade. Embora exaltem a formosura de seu coração e expressem realmente a grandeza de seu Espírito e reflitam, sob a forma sugestiva, suas atitudes, seus gestos e ações de todas as horas, a elas não nos referimos.
Uma delas existe, porém, com certo viso de veracidade, perfeitamente aceitável, pois encontra apoio em nossa Doutrina, mormente quando não desconhecemos que o querido Bezerra possuía dons medianímicos.
Quem no-la relata é o saudoso espiritista, muito culto, palavra evangélica e agradável, escritos primoroso, Leopoldo Cirne. Ouçamo-lo:
“Emigrado pobre de sua província natal, o Ceará, para fazer na capital do Império o curso médico, aplicava-se a lecionar humanidades, a fim de poder com seus produtos custear os estudos e a subsistência própria."
“Numa ocasião em que se achavam totalmente esgotados os recursos, de par com a urgência de pagar o aluguel da casa e acudir a outras necessidades inadiáveis, reclinado em sua rede, sem grandes sobressaltos, mas seriamente preocupado com a solução do caso, dava tratos à imaginação, em procura dos meios com que sair da dificuldade, quando ouve bater a porta. Era um desconhecido, que vinha nominalmente procurá-lo, e que, depois, ajustando um certo número de lições de determinadas matérias, tira do bolso um maço de células e paga antecipadamente o preço convencionado, ficando igualmente combinado para o dia seguinte o inicio das aulas. Radiante com a inesperada e providencial visita, Bezerra de Menezes solveu os seus compromissos e ficou a esperar, no prazo estipulado, o novo aluno.
“Mas nem no dia seguinte nem nunca mais lhe tornou a este a aparecer. Foi, Pois, uma visita misteriosa.
“Intervenções da mesma natureza, posto que não revestidas de cunho misterioso idêntico, se haviam de reproduzir no curso de sua vida, quando, em mais de uma ocasião, faltando-lhe o necessário para as despesas indispensáveis, longe de se perturbar, sentava-se à mesa de trabalho e punha-se tranquilamente a escrever. Aparecia-lhe sempre um consulente que, atendido, lhe deixava recursos de que necessitava e que, em serena confiança na Providência Divina, tinha a certeza de que nãolhe faltariam”.
Fonte: - Livro “VIDA E OBRA DE BEZERRA DE MENEZES” - SILVIO BRITO SOARES – 4 ª. Edição – Editora FEB. – Rio de Janeiro, RJ. – Agosto de 1978.
RHEDAM. (rhedam@gmail.com)
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