Powered By Blogger

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

- POEMAS ESPÍRITAS. - PARNASO DE ALÉM TÚMULO. - ANGÚSTIA MATERNA. - JOÃO DE DEUS. (CHICO XAVIER.)


           ANGÚSTIA MATERNA.

 “Ó Lua branca, suave e triste,
- A Mãe pedia, fitando o céu –
Dize-me, Lua, se acaso viste
Nos firmamentos o filho meu.

A Morte ingrata, fria e impiedosa,
Deixou vazio meu doce lar,
Deixou minhalma triste e chorosa,
Roubou-me o sonho – deu-me o penar.

Se tu soubesses, Lua serena,
Como era grácil, que encantador
Meu anjo belo como a açucena,
Cheio de vida, cheio de amor!...”

Disse-lhe a Lua – “Eu sei do encanto,
Dum filho amado que a gente tem;
E das ausências conheço o pranto,
Oh! se o conheço, conheço-o bem!...

– “Então, responde-me sem demora,
Continuava, sempre a chorar:
Em qual estrela cheia de aurora
Foi o meu anjo se agasalhar?.. .“

– “Mas não o avistas – responde-lhe ela –
Naquela estrela que tremeluz?
Abre teus olhos... É bem aquela
Que anda cantando no céu de luz.”

E a Mãe aflita, martirizada,
Fitou a estrela que lhe sorriu,
Sentiu-lhe os raios, extasiada,
E dos seus cantos, feliz, ouviu:

– “Ilha pacífica, da esperança,
Sou eu no mar do éter infindo;
Do sofrimento mato a lembrança
E abro o futuro, ditoso e lindo.

Do Senhor tenho doce trabalho,
Missão que é toda só de alegrias:
Flores reparto cheias de orvalho,
Flores que afastam as agonias.”

– “Quase te odeio, luz de alvorada,
Ó linda estrela que adorna o céu,
Gritou-lhe a pobre desconsolada,
Porque tu guardas o filho meu.”

– “Se tu me odeias, se me detestas,
Contudo eu te amo e pergunto: quem
Não tem saudades das minhas festas?
O teu anjinho teve-as também.

Em mim a noite não tem guarida,
Aqui terminam os dissabores;
Aqui em tudo floresce a vida,
Vida risonha, cheia de flores!...”

A mãe saudosa, banhada em pranto,
Notou de logo seu filho lindo,
Todo vestido dum brilho santo,
Num belo raio de luz, sorrindo...

Disse-lhe o filho – “Tive deveras
Muita saudade, mãezinha amada,
Senti a falta das primaveras,
Senti a falta desta alvorada!...

Não resisti... Tanta era a saudade!
Voltei do exílio, fugi da dor,
Aqui é tudo felicidade,
Paz e ventura, carícia e amor!

Ó mãe, perdoa, se mais não pude
Ficar contigo na escuridão,
A Terra amarga, tristonha e rude,
Envenenava meu coração.

Aqui, na estrela, também há fontes,
Jardins e luzes e fantasias,
Sóis rebrilhando nos horizontes,
Sonhos, castelos e melodias.

Daqui te vejo, daqui eu velo
Pelo sossego dos dias teus;
Faço-te um ninho ditoso e belo,
Muito pertinho do amor de Deus!...“

Aí os olhos da desditosa
Nada mais viram do Eterno Lar.
Viu-se mais calma, menos saudosa,
E, estranhamente, pôs-se a chorar...

João de Deus

NASCIDO em São Bartolomeu de Messines, Portugal, em 1830, e desencarnado em 1896, afirmou-se um dos maiores líricos da língua portuguesa. É tão bem conhecido no Brasil quanto em seu belo país. Nestas poesias palpita, de modo inconfundível, a suavidade e o ritmo da sua lira.

            Fonte: PARNASO DE ALÉM - TÚMULO - AUTORES DIVERSOS. - Chico Xavier- Editora FEB. Rio de Janeiro RJ - 1935.

                                   RHEDAM. (mzgcar@gmail.com)

Nenhum comentário:

Postar um comentário