ANGÚSTIA MATERNA.
“Ó Lua branca, suave e triste,
-
A Mãe pedia, fitando o céu –
Dize-me,
Lua, se acaso viste
Nos
firmamentos o filho meu.
A
Morte ingrata, fria e impiedosa,
Deixou
vazio meu doce lar,
Deixou
minhalma triste e chorosa,
Roubou-me
o sonho – deu-me o penar.
Se
tu soubesses, Lua serena,
Como
era grácil, que encantador
Meu
anjo belo como a açucena,
Cheio
de vida, cheio de amor!...”
Disse-lhe
a Lua – “Eu sei do encanto,
Dum
filho amado que a gente tem;
E
das ausências conheço o pranto,
Oh!
se o conheço, conheço-o bem!...
–
“Então, responde-me sem demora,
Continuava,
sempre a chorar:
Em
qual estrela cheia de aurora
Foi
o meu anjo se agasalhar?.. .“
–
“Mas não o avistas – responde-lhe ela –
Naquela
estrela que tremeluz?
Abre
teus olhos... É bem aquela
Que
anda cantando no céu de luz.”
E
a Mãe aflita, martirizada,
Fitou
a estrela que lhe sorriu,
Sentiu-lhe
os raios, extasiada,
E
dos seus cantos, feliz, ouviu:
–
“Ilha pacífica, da esperança,
Sou
eu no mar do éter infindo;
Do
sofrimento mato a lembrança
E
abro o futuro, ditoso e lindo.
Do
Senhor tenho doce trabalho,
Missão
que é toda só de alegrias:
Flores
reparto cheias de orvalho,
Flores
que afastam as agonias.”
–
“Quase te odeio, luz de alvorada,
Ó
linda estrela que adorna o céu,
Gritou-lhe
a pobre desconsolada,
Porque
tu guardas o filho meu.”
–
“Se tu me odeias, se me detestas,
Contudo
eu te amo e pergunto: quem
Não
tem saudades das minhas festas?
O
teu anjinho teve-as também.
Em
mim a noite não tem guarida,
Aqui
terminam os dissabores;
Aqui
em tudo floresce a vida,
Vida
risonha, cheia de flores!...”
A
mãe saudosa, banhada em pranto,
Notou
de logo seu filho lindo,
Todo
vestido dum brilho santo,
Num
belo raio de luz, sorrindo...
Disse-lhe
o filho – “Tive deveras
Muita
saudade, mãezinha amada,
Senti
a falta das primaveras,
Senti
a falta desta alvorada!...
Não
resisti... Tanta era a saudade!
Voltei
do exílio, fugi da dor,
Aqui
é tudo felicidade,
Paz
e ventura, carícia e amor!
Ó
mãe, perdoa, se mais não pude
Ficar
contigo na escuridão,
A
Terra amarga, tristonha e rude,
Envenenava
meu coração.
Aqui,
na estrela, também há fontes,
Jardins
e luzes e fantasias,
Sóis
rebrilhando nos horizontes,
Sonhos,
castelos e melodias.
Daqui
te vejo, daqui eu velo
Pelo
sossego dos dias teus;
Faço-te
um ninho ditoso e belo,
Muito
pertinho do amor de Deus!...“
Aí
os olhos da desditosa
Nada
mais viram do Eterno Lar.
Viu-se
mais calma, menos saudosa,
E,
estranhamente, pôs-se a chorar...
João de Deus
NASCIDO em São Bartolomeu de Messines, Portugal, em 1830,
e desencarnado em 1896, afirmou-se um dos maiores líricos da língua portuguesa.
É tão bem conhecido no Brasil quanto em seu belo país. Nestas poesias palpita,
de modo inconfundível, a suavidade e o ritmo da sua lira.
Fonte: PARNASO DE ALÉM - TÚMULO -
AUTORES DIVERSOS. - Chico Xavier- Editora FEB. Rio de Janeiro RJ - 1935.
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