NA ESTRADA DE DAMASCO.
Num
certo dia
A
Ambição,
De
parceria
Com
o Orgulho,
Chamou
o homem
Jatancioso,
Rude
e cioso
Do
seu poder
E
vão saber,
E
assim lhe disse:
“Homem, tu és
Senhor
potente,
Grande
e valente
Aqui
no mundo;
E
se quiseres
Tornar-te
um rei
Da
imensa grei
Da
Criação,
É
só viveres
A
procurar
Mais
dominar
Os
elementos
A
transudar
Nos
sentimentos.
Maior
coragem
Para
ganhares
Sempre
vantagem
No
teu viver,
E
conquistares
Sempre
o poder
Dos
triunfantes.
Aos
semelhantes
Em
vez de amá-los
Tais
como irmãos,
Faze-os
vassalos
No
teu reinado,
Glorificado
De
grão-senhor!”
E
o pecador,
Ser
imperfeito
Se
achasse embora,
A
seu agrado,
Bem
satisfeito,
Foi
sem demora
Então
chamado
Por
um juiz
De
retidão,
Que
é a Consciência,
Nesta
existência
De
provação,
Que
então lhe diz:
“Mas,
e o bom Deus
Que
está nos Céus,
Que
tudo vê,
Sabendo
assim
Quanto
a tua alma
Dele
descrê?
Ele
é o teu Pai,
O
Criador,
O
Deus de amor.
E
o bom Jesus,
Nosso
Senhor,
Mestre
da luz,
O
Filho amado
Que
à Terra veio,
A
este mundo
Ingrato
e feio
A
redimir,
E
assim banir
O
teu pecado?
Ele
te amou
E
te ensinou
Que
ao teu irmão
Tu
deves dar,
Nunca
negar
A
tua mão;
E
espalhar
Somente
amor,
A
relegar
Toda
a maldade,
Para
que um dia
Te
fosse dado
Reconhecer,
Com
alegria,
O
solo amado
Do
eldorado
Dos
belos sonhos,
Lindos,
risonhos,
Do
teu viver.
Assim,
procura
Melhor
ventura
Em
só buscar,
Acompanhar,
Seguir
Jesus
Em
sua dor,
Em
seu amor,
Em
sua cruz!”
Mas,
o tal homem
Tão
orgulhoso,
Que
já se achava
Bem
poderoso,
Achou
estranho
Esse
conselho:
Rigor
tamanho
Não
poderia;
Isso
seria
Obedecer
E
se humilhar;
E
ele havia
Aqui
nascido
Só
para ser
Obedecido,
Tendo
o poder
Pra
dominar.
Assim,
buscou
E
perguntou
Aos
companheiros.
Eles,
então,
Lhe
responderam
No
mais profundo
Do
coração:
–
“Esse conselho
É
muito velho!
Deus
é irrisão.
E
o tal Jesus,
Com
sua cruz
E
seu calvário
Somente
foi
Um
visionário.
Enquanto
ele
Só
te oferece
Amargas
dores.
Desolações,
Tristes
agruras,
Cruéis
espinhos,
Nós
concedemos
Ao
teu valor
De
grão-senhor
Sublimes
flores,
Lindos
brasões,
Grandes
venturas
Nesses
caminhos
Quem
mais souber
Gozar
e rir,
Mais
saberá
O
que é existir.
A
vida aqui
Só
é formosa
Para
quem goza;
E
pois, assim,
Vale
o gozar
Constantemente,
Pois
vindo a Parca
Bem
de repente,
Há
de levar
Esse
teu sonho
De
amar, sofrer,
Ao
caos medonho
Do
mais não-ser;
Porque
a morte
Tão
renegada,
Essa
é apenas
O
frio nada.
O
louco amor
Do
teu Jesus,
Exprime
a dor
E
não a luz.”
E
assim, quando
O
homem fraco
E
miserando
Mais
se exaltou
E
se jatou,
Onipotente,
Chegou
a Dor
Humildemente,
A
lapidária,
A
eterna obreira,
A
mensageira
Da
perfeição,
Nessa
oficina
Grande
e divina
Da
Criação;
Fê-lo
abatido
E
desolado,
Até
enojado
Do
corpo seu:
Apodreceu
O
seu tesouro.
E
o homem-rei
Reconheceu
Que
o paraíso
Dos
sãos prazeres
Vive
nas luzes
Só
da virtude,
No
cumprimento
Dos
seus deveres,
Na
humildade,
Na
caridade,
Na
mansuetude,
Na
submissão
Do
coração
Ao
sofrimento,
Quando
aprouver
Ao
Deus de Amor
Oferecer
Rude
amargor
Ao
nosso ser.
Depois,
então,
De
mui sofrer
E
padecer
Na
expiação,
Reconheceu
A
nulidade,
A
fatuidade
Da
vil matéria!
Na
atroz miséria
Dessa
agonia,
Só
procurou
Buscar
se via
Os
seus mentores
Enganadores,
Altivos
filhos
Da
veleidade.
Só
encontrou
O
juiz reto,
O
Magistrado
Incorrutível
Da
consciência,
E
que, num brado
Indescritível,
Em
conseqüência,
Lhe
fez com ardor
Ao
coração
Ermo
de afeto,
Ermo
de amor,
A
mais tremenda
Acusação!
É
o que acontece
Em
toda a idade,
Com
a maioria
Da
Humanidade;
Pois
sempre esquece
Os
seus deveres
E
se submerge
Nos
vãos prazeres.
Para
a alegria
Fatal
converge
O
seu viver,
Para
o enganoso,
Efêmero
gozo
Do
material,
A
esquecer
Tudo
o que seja
Espiritual.
Feliz
de quem
Aí
procura
Maior
ventura
No
sumo bem;
Porque
verá,
Contemplará
Todo
o esplendor.
A
eterna luz,
Do
eterno amor
Do
bom Jesus.
João de Deus
NASCIDO em São Bartolomeu de Messines, Portugal, em 1830,
e desencarnado em 1896, afirmou-se um dos maiores líricos da língua portuguesa.
É tão bem conhecido no Brasil quanto em seu belo país. Nestas poesias palpita,
de modo inconfundível, a suavidade e o ritmo da sua lira.
Fonte: PARNASO DE ALÉM - TÚMULO -
AUTORES DIVERSOS. - Chico Xavier- Editora FEB. Rio de Janeiro RJ - 1935.
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