LEMBRANÇAS.
No
sacrário das lembranças,
Revejo-te,
trigueirinha,
De
negras e longas tranças,
Moreninha.
Teus
lindos pés descalçados,
Pisando
de manhãzinha
A
verde relva dos prados,
Moreninha.
Os
primorosos cabelos
Enfeitados,
à tardinha,
De
miosótis singelos,
Moreninha.
De
olhar sedutor e insonte,
Quando
o teu passo ia e vinha
Em
busca da água da fonte,
Moreninha.
Teu
vulto de camponesa
Era
o porte de rainha,
Rainha
da Natureza,
Moreninha.
Inda
ouço os sons primeiros
Da
tua voz na modinha
Modulada
nos terreiros,
Moreninha.
Lavando
a roupa às braçadas,
Nos
fios d’água fresquinha,
Sob
as mangueiras copadas,
Moreninha.
Os
teus risos adorados,
Desferidos
à noitinha,
Nos
bandos de namorados,
Moreninha.
A
tua oração ditosa,
Nas
missas da capelinha,
Tão
faceira! tão formosa!
Moreninha.
A
placidez do teu rosto
Com
teus modos de avezinha,
Fitando
a luz do sol-posto,
Moreninha.
O
teu samburá de flores
Que
levavas à igrejinha,
Enchendo
a nave de odores,
Moreninha.
O
vestidinho de chita,
De
rosas estampadinha,
Fazendo-te
mais bonita,
Moreninha.
O
nosso idílio encantado,
Quando
te achavas sozinha,
Sob
o luar prateado,
Moreninha.
Que
terna recordação
De
minhalma se avizinha!
De
saudade, de paixão,
Moreninha.
Ai!
Ai! meu Deus, quem me dera
Rever-te,
doce rainha,
Rainha
da Primavera,
Moreninha.
Casimiro de Abreu
POETA fluminense, desencarnou aos 18 de outubro de
1860, na Fazenda de Indaiaçu, no então município de Barra de São João, hoje
denominado Casimiro de Abreu, com 21 anos de idade, acometido de tuberculose
pulmonar. Figura literária das mais típicas do seu tempo, o autor malogrado de
Primaveras ainda aqui se afirma no seu profundo quão suave nativismo lírico.
Suas composições possuem “um saboroso estilo colorido, sensível e personalíssimo”
– disse Ronald de Carvalho.
Fonte: PARNASO DE ALÉM - TÚMULO -
AUTORES DIVERSOS. - Chico Xavier- Editora FEB. Rio de Janeiro RJ - 1935.
Nenhum comentário:
Postar um comentário