NA ETERNA LUZ.
Quando
parti deste mundo
Em
busca da Imensidade,
A
alma ansiosa da Verdade,
Do
azul imenso dos céus,
Fugi
do pesar profundo,
Lamentando
os sofrimentos,
As
mágoas, os desalentos,
Confiado
no amor de Deus.
Mal,
porém, abrira os olhos
Em
meio de luzes puras,
Nas
radiantes alturas,
Em
célico resplendor,
Compreendi
que os abrolhos
Que
a Terra me oferecera,
Eram
mesmo a primavera
Do
meu sonho todo em flor.
Disseram-me
então: – “Ó crente
Que
chegais a estas plagas,
Fugindo
das grandes vagas
Do
mar revolto das lutas,
Aportai
serenamente
Nesta
estância do Senhor,
Pois
aqui existe o amor
Nestas
almas impolutas!
Aqui
existe a pureza,
A
meiga flor da Bondade,
O
aroma da Caridade
Perfumando
os corações;
Não
se conhece a torpeza
Da
lâmina – hipocrisia,
Que
mata toda a alegria,
Provocando
maldições.
Aqueles
que já sofreram
No
dever nobilitante,
Cujo
peito sempre amante
Só
conheceu dissabores;
Aqueles
que conheceram
As
feridas dolorosas,
Dessas
mágoas escabrosas
De
um triste mundo de dores,
Encontram
nestas moradas
Tão
formosas, resplendentes,
Os
clarões resplandecentes
De
afetos imorredouros!
As
almas imaculadas
São
flores das boas-vindas,
Luminosas,
sempre lindas,
Ofertando-lhes
tesouros:
Os
tesouros peregrinos,
Formados
de amor e luz
Do
Mestre Amado – Jesus,
Arauto
do Onipotente;
Os
reflexos divinos
Quais
lírios iluminados,
Alvos,
belos, deificados,
Penetrarão
sua mente.
Acordai,
pois, ó vivente,
Contemplai-vos
nesta vida,
Que
vossa alma ensandecida
Procure
a luz que avigora.
O
Senhor sempre clemente,
Concede-vos
neste instante
A
bênção dulcificante
Do
seu amor – doce aurora.
Sacudi
o pó da estrada
Que
trilhastes na amargura,
Pois
agora na ventura
Fruireis
consolações;
Nesta
esfera iluminada,
Que
aportais neste momento,
Não
vereis o sofrimento
Retalhando
os corações.
Só
vereis clarões de luz
A
despontar nestas almas,
Tornadas
em belas palmas
Das
mansões do Criador!
Bendizei,
pois, a Jesus,
O
Mestre da Caridade,
O
Luzeiro de Bondade,
O
grande Mestre do amor!”
Então
eu vi na Terra
Em
meio da iniqüidade,
Na
tremenda tempestade
Das
dores e expiações,
A nossa
alma que erra,
Tão
longe das grandes luzes,
Só
aproveita das cruzes,
Das
amargas provações.
Venturoso,
abençoei
A
dor que amaldiçoara,
Que
renegar eu tentara
Como
os míseros ateus,
E
feliz então busquei
As
bênçãos, flores brilhantes,
Alvoradas
fulgurantes
Do
amor imenso de Deus.
Casimiro Cunha
POETA vassourense, nasceu aos 14 de abril de 1880 e
desencarnou em 1914. Pobre, ao demais espírita confesso, não teve maior
projeção no cenáculo literário do seu tempo, mau grado à suavidade da sua musa
e inatos talentos literários. Há, na sua existência terrena, uma triste
particularidade a assinalar, qual a de haver perdido uma vista aos 14 anos, por
acidente, para de todo cegar da outra aos 16. Órfão de pai aos 7 anos, apenas
freqüentou escolas primárias. Era um espírito jovial e forte no infortúnio, que
ele sabia aproveitar no enobrecimento da sua fé. Se tivesse tido maior cultura,
atingiria as maiores culminâncias do firmamento literário.
Fonte: PARNASO DE ALÉM - TÚMULO -
CÁRMEN CINIRA - Chico Xavier- Editora FEB. Rio de Janeiro RJ - 1935.
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