EVANGELHO SEGUNDO
O ESPIRITISMO.
CAPÍTULO XII.
AMAI OS VOSSOS INIMIGOS.
SE ALGUÉM VOS BATER NA FACE DIREITA,
APRESENTA-LHE TAMBÉM A OUTRA.
8. Os preconceitos do mundo sobre o que se
convencionou chamar “ponto de honra” produzem essa suscetibilidade sombria,
nascida do orgulho e da exaltação da personalidade, que leva o homem a
retribuir uma injúria com outra injúria, uma ofensa com outra, o que é tido
como justiça por aquele cujo senso moral não se acha acima do nível das paixões
terrenas. Por isso é que a lei moisaica prescrevia: olho por olho, dente por
dente, de harmonia com a época em que Moisés vivia. Veio o Cristo e disse:
“Retribuí o mal com o bem.” E disse ainda: “Não resistais ao mal que vos
queiram fazer; se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe a outra.”
Ao orgulhoso este ensino parecerá uma covardia, porquanto ele
não
compreende que haja mais coragem em suportar um insulto do que
em
tomar uma vingança, e não compreende, porque sua visão não pode
ultrapassar
o presente.
Dever-se-á, entretanto, tomar ao pé da letra aquele preceito? Tampouco
quanto o outro que manda se arranque o olho, quando for causa de escândalo.
Levado o ensino às suas últimas consequências, importaria ele em condenar toda
repressão, mesmo legal, e deixar livre o campo aos maus, isentando-os de todo e
qualquer motivo de temor. Se se lhes não pusesse um freio às agressões, bem
depressa todos os bons seriam suas vítimas. O próprio instinto de conservação,
que é uma Lei da Natureza, obsta a que alguém estenda o pescoço ao assassino. Enunciando,
pois, aquela máxima, não pretendeu Jesus interdizer toda defesa, mas condenar
a vingança.
Dizendo que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido
numa, disse, sob outra forma, que não se deve pagar o mal com o mal; que o homem
deve aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho; que
maior glória lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar
pacientemente uma injustiça do que de praticar alguma; que mais vale ser
enganado do que enganador, arruinado do que arruinar os outros.
É, ao mesmo tempo, a condenação do duelo, que não passa de uma
manifestação de orgulho. Somente a fé na vida futura e na Justiça de Deus, que jamais
deixa impune o mal, pode dar ao homem forças para suportar com paciência os
golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor próprio.
Daí vem o repetirmos incessantemente: Lançai para diante o olhar; quanto
mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos
magoarão as coisas da Terra.
Fonte: O Evangelho
Segundo o Espiritismo - Allan Kardec – Tradução Guillon Ribeiro – 131 a.
Edição - Editora FEB – Rio de Janeiro, RJ – janeiro 2013.
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