VIDA E OBRA DE BEZERRA DE MENEZES.
59 º. Parte. – Ainda no mesmo número de O Paiz, Artur Azevedo, notável poeta e teatrólogo, o cronista mais popular e, portanto o mais lido da época, escreveu na edição diária - Palestra – o seguinte artigo:
“Que dia mais apropriado que sexta-feira da paixão para falar-se de um grande morto? Refiro-me a Bezerra de Menezes, que acaba de descer ao túmulo entre hinos e apoteose, e era, não há muitos anos, a criatura mais injuriada que cobria o céu carioca.
“Foi um mártir da vida pública. O voto popular amarrou-o durante muito tempo no cargo de presidente da Ilustríssima Câmara Municipal da Corte, como a um pelourinho infame. Ouvi dizer a muitos dos seus cidadãos que ele era um ladrão, e diziam-no com a facilidade e o desassombro com que no Rio de Janeiro – só no Rio de Janeiro – se diziam essas coisas. Outros o defendiam afirmando que ele não roubava, mas apenas consentia que os amigos roubassem.
“Um periódico de caricaturas muitas vezes o representou vestido de salteador da Calábria, com o clássico chapéu pontudo e o trabuco no Ombro”.
Mais adiante prossegue a Palestra:
“Se, quando lhe lançaram em rosto esse tremendo labéu de ladrão, Bezerra de Menezes não fez o mesmo que o infeliz Carlos Costa, foi porque era uma alma forte, um espírito orientado, um filósofo preparado para todas as lutas morais. Só agora respondeu aos seus agressores, e respondeu como? Morrendo pobre. Felizes daqueles que incubem da defesa de sua honra os seus próprios cadáveres!
“Não venho engrandecer os serviços de Bezerra de Menezes; ele foi durante muitos anos o diretor do nosso serviço municipal, e a cidade do Rio de Janeiro é o que é. Todo o seu tempo era pouco para tratar de política, paixão que o dominava e o absorvia e acabou, felizmente, por enfastiá-lo do mundo.
“E foi tal o seu fastio, que ele procurou a sociedade invisível dos Espíritos, e entrou a viver noutro mundo melhor, onde não havia câmaras municipais, nem leitores, nem periódicos de caricaturas.
“Mas ainda aí a paixão, pois que ele um impulsivo, o arrebatou até o apostolado, até o sacerdócio, até o fanatismo, e fez dele, entre nós, o mais fervente propagandista de uma doutrina de piedade e consolação, que eu não professo, mas respeito profundamente.
“Onde estará o Espírito agora? Reduzido ao nada absoluto, ou verificando, na apregoada desencarnação, até onde chega a verdade do que ele afirmava, a prova definitiva e real das suas crenças?
“Quem sabe lá! É loucura sondar os arcanos do Infinito, quando esta Terra que pisamos, que apalpamos, que nos dá de comer a todos, é também um mistério inescrutável para todos nós, inclusive... os sábios.”
Fonte: - Livro “VIDA E OBRA DE BEZERRA DE MENEZES” - SILVIO BRITO SOARES – 4 ª. Edição – Editora FEB. – Rio de Janeiro, RJ. – Agosto de 1978.
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