Carlos Gomes de Souza
Shalders
1863 – 1963
O professor Shalders fez seus estudos preliminares na Inglaterra,
estudando mais tarde na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Formado, veio
para S. Paulo, ingressando na Companhia Mojiana de Estradas de Ferro, da qual
foi um dos pioneiros, dirigindo a construção do ramal de Moji-Mirim a Sapucaia.
Contribuiu para a fundação
da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, da qual foi catedrático de
Complementos de Matemática e Álgebra Superior, lecionando nessa cadeira desde a
fundação da Escola, a l5 de fevereiro de 1894, até a sua aposentadoria, em
1934. Foi também diretor dessa mesma Escola, nos anos de 1931-32, num período
bastante difícil.
Pelos seus eminentes serviços, o Prof. Shalders foi distinguido com
o título de doutor "Honoris Causa" e de "Professor
Emérito", no dia 13 de maio de 1949, pela Universidade de S. Paulo.
Durante muitos anos foi vice-presidente e membro do Conselho
Deliberativo da Federação Espírita do Estado de S. Paulo, dirigindo concomitantemente
o seu departamento de pesquisas psíquicas. Foi o primeiro presidente da
Associação Cristã de Moços, de S. Paulo.
Foi um dos mais autênticos espíritas dos nossos dias. Em matéria
de fé racional e tranqüilidade de espírito, assemelhava-se a Caírbar Schutel e
Militão Pacheco. Encarava o Espiritismo como doutrina para ser vivida e não
apenas difundida. Foi um verdadeiro exemplificador dos deveres de cristão,
encarando-os com absoluta seriedade. No tocante ao cumprimento das obrigações
do homem, afirmava sempre: "Não há deveres pequenos, todos são
iguais". Apesar de plenamente convicto, não se apaixonava pelos fenômenos
e nem pelos Espíritos a ponto de lhes devotar fé cega; colocava-os na ordem das
coisas naturais e sérias.
Grande conhecedor dos assuntos bíblicos, porém desde a sua
militância no Protestantismo divergia de muitos deles. Procurando estudar esses
problemas à luz do Espiritismo, nele encontrou soluções para velhas indagações.
Até aos 95 anos de idade, era sistemática a presença do Prof. Shalders,
aos domingos, na Federação Espírita do Estado de S. Paulo, onde ia ouvir as
palestras evangélicas, tendo ele próprio proferido diversas. Como era de uma
pontualidade impecável, preocupava-se muito com as pessoas que entravam após o
início da conferência. Algumas vezes, no instante de ser iniciada a palestra,
subia à tribuna e fazia observações severas ao público com referência à
observância do horário. Dedicava a máxima atenção às palestras e, quando o tema
era controvertido, não muito do seu agrado, por encontrar nelas divergências
doutrinárias, no dia seguinte estava ele na casa do conferencista com uma série
de argumentos, mostrando incoerências e protestando evangelicamente contra
aquilo que não aceitava. Por mais respeitável que fosse o expositor, por mais
autoridade que desfrutasse na matéria, não escapava ao interrogatório, às
deduções e ao crivo da razão, sempre clara, apresentadas de maneira evangélica
e da mais apurada ética de educação.
Já ultrapassava a casa dos 90 anos de idade, quando ainda
trabalhava na São Paulo Light. Nessa época publicou um livro intitulado
"Uma Análise Crítica da Bíblia", no qual expôs com uma lucidez
extraordinária, as suas idéias e o seu raciocínio tratando de um assunto tão
árido. Com 96 anos de idade, para não ficar sem fazer nada, realizando o seu
desejo de fazer o bem, empreendia, uma vez por semana, uma peregrinação
juntamente com um grupo de confrades, visitando doentes, ministrando-lhes
passes e proferindo palavras de conforto espiritual.
Era profundo respeitador de Jesus Cristo e não permitia que sua
personalidade fosse mal entendida ou que alguém achasse nele motivos de
piedade. Certa vez a Federação Espírita do Estado de S. Paulo recebeu, de
presente, um enorme e artístico quadro do Mestre, com as chagas abertas nas
mãos e nos pés. O quadro foi colocado no salão de conferências daquela
instituição. Porém, dentro de poucos dias foi dali retirado devido aos
insistentes protestos do Prof. Shalders, nessa época vice-presidente da Casa. O
fato causou estranheza a muitos frequentadores, os quais não concordaram com a
retirada do quadro. Mas prevaleceu o bom-senso.
O transcurso do seu centenário de existência (estando ele ainda
entre nós), foi comemorado pela Escola Politécnica de S. Paulo, pela Associação
dos Antigos Alunos da Escola Politécnica e pelo Instituto de Engenharia de S.
Paulo, tendo havido uma sessão solene da congregação, com a instalação do
retrato do Prof. Shalders, procedendo também a uma cerimônia de inauguração do
medalhão de bronze, com placa alusiva à data, no Departamento de Matemática da
Escola Politécnica, na cidade Universitária, em S. Paulo , placa essa
ofertada pelos ex-alunos da primeira escola superior criada pelo governo do
Estado de S. Paulo, logo após a proclamação da Republica.
A passagem do Prof. Shalders, pela Terra, foi um centenário de
exemplos vivos num preparo eficiente para o reencontro com os amigos do Plano
Maior. A demonstração da sua humildade e submissão aos desígnios de Deus, eram
fatores predominantes em sua inconfundível personalidade.
No Departamento de Metapsíquica da Federação Espírita do Estado de
S. Paulo, exerceu atividades incomparáveis, interessando-se profundamente pelos
fenômenos, sem contudo ficar a eles escravizado, porque sabia dar- lhes o valor
e o apreço que mereciam, compreendendo que o aspecto mais importante da
Doutrina Espírita é o de evangelizar o homem, conduzindo-o no roteiro da
reforma interior.
Fonte: GRANDES
GIGANTES DA DOUTRINA ESPÍRITA.- INTERNET.
RHEDAM. (mzgcar@gmail.com)
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