DEPOIMENTO
DE: UM NAR-ANON EM RECUPERAÇÃO (CARLOS).
Quando nos encontramos perdidos,
desesperados, sem sabermos o que fazermos com alguém que muito amamos,
procuramos todos os tipos de recursos para eliminarmos o problema.
Pensamos que somos capazes de
resolver essa situação, sozinhos, que conseguiremos convencer o ser amado
através das nossas ponderações, dos exemplos e das convicções.
Tudo é inútil, pois não temos a
capacidade de mudar a ninguém, a não ser a nós mesmos. Sabemos que é assim,
mas, continuamos tentando até as nossas forças suportarem, chegaremos a um
determinado ponto que o sentimento de derrota invade-nos, sentimos o quanto
somos incapazes, impotentes para seguirmos essa luta inglória.
Paramos.
Pensamos.
Vem a nossa mente a recordação do
momento em que descobrimos que tínhamos um adicto entre nós. Criamos sérias dúvidas
a esse respeito, mas, chegou o momento em que a situação fugiu do controle e
somente a aceitação do problema alertou-nos para os perigos reais existentes.
Nesse momento caiu por terra todo o discernimento que tínhamos de moral, de
respeito, de autoridade diante do adicto. Começamos a duvidar de nós mesmos em
todos os sentidos de nossa vida.
Nunca havíamos pensado que um dia
poderíamos passar por uma situação como esta, da mesma forma que passou o José,
a Maria e tantos outros. Procuramos acintosamente descobrir as
responsabilidades e os responsáveis, os porquês, os como, de onde surgiu esse
monstro, pois, criamos todos os membros da nossa família com princípios
religiosos, com respeito, ensinando caráter, honestidade, amor para com todos,
indistintamente, infelizmente, esse ser desequilibrou o nosso Lar.
Com essa situação, surgiu mais um
mal em nós, o ressentimento em forma de ódio, raiva, ira, violência, desgastes
físicos, emocionais, psíquicos e até espirituais, assim adoecemos.
Queríamos medir força e poder com
este mal que nos atacava, e, mais uma nova descoberta surgiu, que nada somos,
que nada podemos fazer contra a vontade dos outros, que só temos uma atitude a
fazer, é a aceitar a situação, mesmo contrariando as nossas convicções,
passando por constrangimentos, vergonha, medo, ameaças, e, as mais difíceis e
inesperadas situações.
Lágrimas, dores, desesperanças, nos
acolheram, criamos álibis ilusórios para acharmos as nossas responsabilidades,
envolvemos outras pessoas que nada tinham a ver como caso, assumimos culpas
indevidas, dividas que não eram nossas, vivíamos criando suposições, “Se
eu...”, “Se fulano...”, “Se tivesse feito isso...”, nada nos conformava, não
conseguíamos entender tudo o estávamos vivendo.
Porém, esquecemos que estávamos
diante de um ser amado que conseguiu mostrar-nos, a realidade da vida, que ela
não é como gostaríamos que fosse, pois, ele, o adicto, o enfermo, é livre para
pensar e agir. Que o Poder Superior
(P.S.), deu-nos a liberdade de escolha de nossas ações com respeito as
nossas vidas, aceitando-as, mas, não nos livra das nossas responsabilidades
diante delas.
Começando a agir sobre nós através
de alguém o “P.S.”, envia-nos
um familiar, um amigo, um semelhante, para sugerir a procura de ajuda
Psicológica, grupo de auxílio a familiares também enfermos.
Começamos a refletir.
Que psicólogo?
Que grupo?
Que tipo de ajuda?
A onde estão esses abnegados
servidores?
Diante das nossas suplicas esse
enviado, nos diz, vá ao Nar-Anon.
Ótimo surge uma luz para iluminar o
nosso caminho. Encontramos o lugar que esclarecerá o nosso problema. Deverão
eles ter a solução do nosso problema. Mas, novamente a duvida nos assola.
Como chegar até lá?
Saberão que eu tenho um adicto em
minha companhia?
Que vergonha?
O que vão pensar de mim?
Nesse momento lembro-me de uma Tia
(Cida) muito querida que sempre nos dizia: “vocês precisam fazer o que é bom
para vocês, não devem se preocupar com que os outros vão pensar ou falar”.
Bem, o primeiro ato para chegarmos
ao lugar de socorro já demos, que é aceitar a realidade de termos um adicto em
nosso convívio, começamos a andar para a luz, para a cura.
O segundo ato, devemos deixar os preconceitos de lado
e ir ao lugar indicado, isso, já é um ato de amor.
Para quem?
Pensamos ser para o enfermo, mas,
não é.
É para nós mesmos.
Encorajados pela dor, pelo
sofrimento, pelo desespero, nos encaminhamos para a sala do Nar-Anon.
No trajeto pensamos como seremos
recebidos?
Quem nos receberá? Psicólogos?
Médicos? Assistentes sociais?
Nada disso. Pura ilusão.
Quando chegamos à sala de Nar-anon,
fomos recebidos por pessoas que passaram experiências semelhantes ou mais
desastrosas que as nossas. Sofreram dores terríveis, também pensaram que nada
poderia resolver os seus problemas, nem o do adicto. Para alguns, esse
sentimento agudo, o sofrimento, tornaram-se crônicos, as feridas que possuíam,
algumas delas conseguiram cicatrizá-las através do amor e do perdão, em outros,
essas chagas continuam abertas purgando sentimentos muitas vezes involuntários,
incontroláveis, de ódio, de rancor e de desequilíbrio. Sim, todos eles, por
tudo que sofreram, com resignação e com amor foram diplomados em Psicologia,
Medicina, Assistência Social, mas, principalmente em irmãos, pela Universidade
da Vida, tendo como Magnífico Reitor o Poder
Superior e, como mestres os Doze Passos, as Doze Tradições, os Lemas,
as Literaturas e o trabalho de auxílio no grupo.
Acolheram-nos, como foram acolhidos,
praticaram o que aprenderam e para nós transmitiram suas experiências, para que
praticássemos e sanássemos a nossa insanidade. Pois, somente através da
vivência desse Programa que é Espiritual e não religioso, conseguiremos vencer.
Essa é a nova forma de viver. Viver
com esperança.
Acolheram-nos dizendo, aqui
precisamos:
Admitir.
Cultivar a serenidade vinte e quatro
horas.
Amar, desprendendo o Adicto com
amor.
Cortar o cordão umbilical dos
sentimentos de culpabilidade.
Respeitá-los como seres amados, por
nós e pelo Poder Superior.
Viver um dia de cada vez.
Que precisamos viver e deixá-los
viver, escolherem o tipo de vida que irão levar, assumindo suas
responsabilidades.
Como fazer?
Qual a fórmula?
Não existe fórmula mágica, não
tiraram nada da cartola como fazem os mágicos, não existem milagres. Só ação.
Essas ações dependerão de cada um de
nós, do nosso entendimento, da nossa aceitação, da prática dos Doze Passos, das
Doze Tradições, dos Lemas, das Literaturas e principalmente do trabalho que
realizarmos no grupo, com o grupo e para o grupo.
Mas, isso cura o adicto?
Não, mas nos devolve uma vida
saudável para podermos ajudá-los.
Somos indivíduos anônimos, juntos
formamos uma unidade, chamados “Grupo Familiares Nor-Anon”, de familiares e
amigos de enfermos, adictos.
Quais os princípios que norteiam o
Grupo Nar-Anon?
São os mesmos ensinamentos do
Al-Anon, que foi fundado no estado da Califórnia nos (E.U.A), pelas esposas e
familiares de adictos do alcoolismo, que os acompanhavam nas reuniões do AA.
Como não podiam participar ficavam reunidas em um lugar próximo, trocando
experiências, confabulando suas dores e sentimentos, encontrando desse modo
soluções para os seus problemas, sem aconselhamento.
Como nos tornaremos um membro do
Nar-Anon?
Freqüentando a sala, partilhando o
que vivenciamos com o nosso adicto, estudando as literaturas, compreendendo esses
ensinamentos através da prática do Programa Espiritual Nar-Anon, sem ser
religioso. Ele aceita pessoas de todos os credos e mesmos os que não possuam. Enfoca
com muita propriedade a Força e a Vontade de um Poder Superior que atua em nós e nos auxilia.
Assim venceremos?
Sim.
Carlos.
Sou mais um Nar-anon em recuperação.
RHEDAM.(mzgcar@gmail.com)
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