Quando
a morte chega em casa,
A
casa faz alarido,
Parece
até que se arrasa
Sob
as chamas de um incêndio;
O
povo está reunido
Quando
a morte chega em casa.
Ela
vem buscar alguém,
De
quem precisa por certo;
Não
se importa com ninguém
Que
chore ou que se lastime,
Esteja
distante ou perto,
Ela
vem buscar alguém.
A
morte não quer saber
Se
é preto como urubu,
Se
aquele que vai morrer
É
branco qual uma garça,
Se
tem pratas no baú,
A
morte não quer saber.
Não
lhe pergunta qual é
A
sua religião,
Se
Sancho, Pedro ou José
É
o seu nome de batismo,
Nem
a sua profissão
Não
lhe pergunta qual é.
Não
quer saber se ele tem
Uma
candeia com luz,
Se
pratica o mal ou o bem,
Se
tem mais fé com o demônio
Do
que mesmo com Jesus,
Não
quer saber se ele tem.
Nem
procura examinar
Se
tem filhos ou mulher;
Se
esse alguém vai-se casar,
Se
tem pai e se tem mãe,
Nada
disso a morte quer,
Nem
procura examinar.
Para
a morte não existe
Anéis
de grau de doutor,
Nem
homem alegre ou triste,
Nem
mulher bonita ou feia,
Saúde,
beleza e dor,
Para
a morte não existe.
Para
o pobre, para o rico
Nunca
tem contemplação;
Como
o corvo bate o bico
Por
cima de um peixe podre,
Ela
vem de supetão
Para
o pobre, para o rico...
O
cristão ou o pecador
Ela
conduz sem ruído,
Não
perde tempo em clamor,
Em
atenções e conversas,
Leva
sem tempo perdido
O
cristão ou o pecador.
O
que segue vai com unção,
Rogando
com fervor terno
Ao
santo da devoção
Que
o afaste do diabo
E
dos horrores do inferno,
O
que segue vai com unção.
Mas
ele mesmo é quem faz
Os
prantos ou gozos seus;
Na
tempestade ou na paz,
Essa
questão de ficar
Com
Satanás ou com Deus,
É
ele mesmo quem faz.
Juvenal Galeno
NASCIDO em Fortaleza e desencarnado na mesma cidade, em
1931, com 95 anos de idade. É um vulto literário inconfundível no cenáculo do
seu tempo, impondo-se justamente pela naturalidade e espontaneidade do seu
estro. Chamaram-lhe – “Béranger brasileiro”. Sua musa foi elogiada por
Castilho, José de Alencar, Machado de Assis, Silvio Romero, etc.
Fonte: PARNASO DE ALÉM - TÚMULO -
AUTORES DIVERSOS. - Chico Xavier- Editora FEB. Rio de Janeiro RJ - 1935.
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