CRUCIFICAÇÃO DE JESUS E O LADRÃO...
Na crucificação, Jesus falou para um dos
ladrões: - Hoje mesmo estarás comigo no paraíso. A qual paraíso o Mestre se referia?
Será que aquele espírito tornou-se anjo, passando a viver junto de Deus com
Jesus?
“As religiões cristãs, de um modo
geral, têm uma visão bem diferente do Espiritismo, porque elas fazem outra
idéia do que seja paraíso e de quem seja o próprio Jesus. Por isso, elas
atribuem a Jesus – que é considerado a encarnação de Deus – o poder miraculoso
de “salvar as almas” da condenação, ou seja, do fogo do inferno. Para elas, certamente,
naquele momento em que Jesus se dirige ao ladrão, proferindo aquelas palavras,
praticamente estava assegurando o paraíso ou o Céu, ou a felicidade perene
àquele homem. Como esse ladrão consegui isso, que méritos ele reuniu para
tanto, ninguém sabe! O Espiritismo, como dissemos, aborda a questão de uma
forma racional, uma vez que um dos seus princípios é a fé raciocinada.
Pesquisando os Evangelhos, podemos verificar, primeiramente, que a Doutrina de
Jesus girava em torno da idéia de que ele chamou de Reino de Deus. H. G. Wells,
na sua História Universal, volume 5, afirma de forma peremptória que essa ideia
do Reino de Deus “é certamente uma das
mais revolucionárias doutrinas que agitaram e mudaram o pensamento humano. Não
é para admirar que o pensamento daquele tempo não tivesse percebido a completa
significação, mas ainda assim tremesse de horror ante a própria meia compreensão
da idéia e do extraordinário desafio que essa ideia lançava aos hábitos e
instituições estabelecidos da humanidade”. O Reino de Deus, de que Jesus
falava, confundia-se, naturalmente, com a ideia de paraíso ou de um lugar aprasível
de completa felicidade, também conhecido como Céu, que já fazia parte dos
conceitos religiosos de alguns povos. Mas, Jesus utilizou muita essa expressão,
de modo que podemos verificar que ela assume conotações diversas, conforme o
local e a circunstância em que foi utilizada. A primeira idéia, que acorria ao
povo, estava naturalmente associada à ideia de um paraíso, que não
estaria neste mundo, mas no outro mundo, além da morte, para onde iriam as
almas dos justos, que foram “salvos” pela fé, na forma como muitas seitas
religiosas ainda sustentam.
A segunda ideia do Reino de Deus, que podemos
encontrar nos Evangelhos, refere-se a um estado futuro da própria Terra, com a
volta de Jesus para instalar aqui o seu Reino, agora num mundo completamente
transformado.
E a terceira ideia de Reino de Deus é a de um estado espiritual
íntimo que a criatura humana pode conquistar, mesmo neste mundo, que é a da
felicidade de comungar com os ideais mais altos da humanidade e, a partir da
qual, essa criatura também vai agir no sentido de mudar o mundo,
transformando-o para melhor.
Dessa forma, podemos constatar
vários conceitos do Reino de Deus nos Evangelhos e aplicá-los conforme o nosso
entendimento. Dentro dos princípios basilares da Doutrina Espírita, porém,
somos levados a uma compreensão mais ampla possível do Reino de Deus,
entendendo tratar-se, primeiramente, da conquista de ideias e ideais superiores
de vida, na transformação do homem e do mundo, razão pela qual Jesus afirmou de
forma categórica: Procurai o Reino de
Deus e sua Justiça e tudo o mais vos será acrescentado. O historiador
H.G.Wells considera com muita lucidez: “Não
era só uma revolução moral que Jesus proclamava: é evidente, em mais uma dezena
de indicações que o seu ensino tinha sentido político da mais clara espécie. É
verdade ter dito que o seu Reino não era deste mundo, que a sua sede era o
coração dos homens e não um trono; mas é igualmente claro que onde e na medida
em que se fundasse o seu Reino no coração dos homens, o mundo exterior, nessa
medida em que se fundasse o seu Reino no coração dos homens, o mundo exterior,
nessa medida, se revolucionaria e nasceria de novo”.
Muitos anos antes, Allan Karcec
afirmara: O maior dos milagres de Jesus,
aquele que atesta verdadeiramente sua superioridade, é a revolução que seus
ensinamentos operaram no mundo, apesar da exigüidade de seus meios de ação;
concluiu: Se, um lugar oferecer
princípios sócias regeneradores, fundados sobre o futuro espiritual do homem,
ele não tivesse a oferecer à posteridade senão alguns fatos maravilhosos, hoje
mal seria conhecido pelo nome. (“A GÊNESE”, cap. XV, 63). Desse modo, a
fala de Jesus para o ladrão, se é que aconteceu precisamente naqueles termos,
deve referir-se ao estado de consciência
que aquele individuo passava a assumir, a partir daquele momento, face à
doutrina que Jesus vinha ensinando.
Pergunta elaborada por: Jessé Tenório Cavalcanti. –
Ilha de Itamaracá - PE.
Fonte: Revista Informação – Ano XV – Nº. 179. -
Outubro de 1991.
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