O LIVRO DOS MÉDIUNS.
SEGUNDA PARTE.
CAPÍTULO VI.
MANIFESTAÇÕES VISUAIS.
ENSAIO TEÓRICO SOBRE AS APARIÇÕES.
108. Acrescentaremos às considerações precedentes o exame de alguns efeitos de ótica que deram lugar ao singular sistema dos Espíritos glóbulos.
O ar nem sempre é de uma limpidez absoluta, e há tais circunstâncias nas quais as correntes de moléculas aeriformes e sua agitação produzidas pelo calor são perfeitamente visíveis. Algumas pessoas tomaram isso por montões de Espíritos se agitando no espaço; basta assinalar esta opinião para refutá-la. Mas, eis um outro gênero de ilusão, não menos bizarro, contra a qual, igualmente, é bom estar prevenido.
O humor aquoso dos olhos oferece pontos dificilmente perceptíveis que perderam sua transparência. Esse pontos são como corpos opacos em suspenção no líquido do qual seguem os movimentos. Produzem no ar ambiente, e à distância, pelo efeito do aumento e da refração, a aparência de pequenos discos, variando de um a dez milímetros de diâmetro e que parece flutuar na atmosfera. Vimos pessoas tomarem estes discos por Espíritos que lhe seguiam e acompanhavam por toda parte, e, em seu entusiasmo, tomarem por figuras as nuances da irisação, o que é mais ou menos tão racional como ver uma figura na lua. Uma simples observação, fornecida por elas mesmas, vai conduzi-las ao terreno da realidade.
Estes discos ou medalhões, dizem elas, não somente as acompanham, mas seguem todos os seus movimentos; vão à direita, à esquerda, ao alto, em baixo, ou se detêm, segundo o movimento da cabeça. Isto não é de admirar, uma vez que a sede da aparência está no globo ocular e deve seguir-lhe os movimentos. Se fossem Espíritos, seria precioso convir que estariam constrangidos a um papel muito mecânico para seres inteligentes e livres; papel bem fastidioso mesmo para os Espíritos inferiores, e com maior razão, incompatível com a idéia Espíritos superiores. Alguns, é verdade, tomam por maus Espíritos os pontos negros ou moscas amauróticas. Estes discos, ao igual das manchas negras, têm um movimento ondulatório que não escapa jamais da amplitude de um certo ângulo, e o que se acrescenta à ilusão é que não seguem bruscamente os movimentos de linha visual. A razão é bem simples. Os pontos opacos do humor aquoso, causa primeira do fenômeno, o dissemos, são como mantidos em suspensão e têm sempre uma tendência a descer; quando sobem, é porque são solicitados pelo movimento do olho de baixo para cima; mas, é chegados a uma certa altura, se se fixa o olho , vêem-se os discos descerem e depois imperceptível do olho para fazê-lo mudar de direção e percorrer toda a amplitude do arco no espaço onde se produz a imagem. Enquanto não se possa provar que uma imagem possui um movimento próprio, espontâneo e inteligente, não se pode nisso ver senão um simples fenômeno ótico ou fisiológico.
Ocorrem o mesmo com as centelhas que se produzem algumas vezes em maços eu em feixes mais ou menos compactos pela contração dos músculos do olho, e que são, provavelmente, devidos à eletricidade fosforescentes da íris, uma vez que geralmente, são circunscritas na circunferência do disco do órgão.
Semelhante ilusões não podem ser senão o resultado de uma observação incompleta. Quem quer que tenha estudado seriamente a natureza dos Espíritos, por todos os meios proporcionados pela ciência prática, compreenderá tudo o que têm de pueril. Do mesmo modo que combatemos as teorias são baseadas na ignorância dos fatos, também devemos procurar destruir as idéias falsas que provam mais entusiasmo do que reflexão e que, por isso mesmo, fazem mais mal do que bem junto aos incrédulos, já tão dispostos a procurarem o lado ridículo.
Fonte, “Livro dos Médiuns“, Allan Kardec, da 18º. edição, abril de 1991, do Instituto de Difusão Espírita de Araras, SP.
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