O ESPOSO DA POBREZA
Francisco
de Assis, um dia,
Assim
que deixara a orgia
No
castelo,
Entregou-se
à Natureza,
A
uma vida de aspereza
Num
canto doce e singelo.
Abandonara
a vaidade,
Buscando
a paz da humildade,
A
santa luz da harmonia;
E
nas horas de repouso,
Francisco
em estranho gozo
A
voz de Jesus ouvia:
–
“Filho meu, faze-te esposo
Da
pobreza desvalida,
Emprega
toda a tua vida
Na
doce faina do bem.
Francisco,
ouve, ninguém
Vai
aos Céus sem a bondade,
Que
é a grande felicidade
De
todos os corações.
Esquece
as imperfeições! ...
Vai,
conforta os desgraçados,
Sedentos
e esfomeados,
Flagelados
pela dor.
Quem
alivia e consola,
Recebe
também a esmola
Das
luzes do meu amor!”
Francisco
chorava e ria,
E
em divinal alegria
Via
os lírios e os jasmins,
Que
não fiam, que não tecem,
Com
roupagens que parecem
Vestidos
de Serafins;
As
aves que não trabalham
E
no entanto se agasalham,
Nos
celeiros da fartura,
Saltando
de galho em galho,
Buscando
a graça do orvalho,
Bênção
do Céu, doce e pura.
Via
a terra enverdecida
Exaltando
a força e a vida,
A
seiva misteriosa
No
seio dos vegetais,
E
a ânsia cariciosa
Das
almas dos animais.
E
sobretudo, inda via,
A
sacrossanta harmonia
Do
coração sofredor,
Que
não tendo amor nem luz,
Tem
tesouros de esplendor
No
terno amor de Jesus.
Francisco
de Assis, então,
Submerso
o coração
Em
sublimes alegrias,
Entregou-se
às harmonias
Vibrantes
da Natureza,
Tornou-se
o amparo da dor
E
guiado pelo amor
Fez-se
o Esposo da Pobreza...
Júlio Diniz
POETA português, nascido em 1839 e desencarnado na
cidade do Porto, em 1871. Com este pseudônimo, pois que o seu nome é Joaquim
Guilherme Gomes Coelho, notabilizou-se mais como romancista, principalmente com
As Pupilas do Senhor Reitor. A edição póstuma de Poesias exaltou, di-lo um
comentador, as suas qualidades primaciais de prosador, sem embargo de possuírem
os seus versos um certo encanto melancólico.
Fonte: PARNASO DE ALÉM - TÚMULO -
AUTORES DIVERSOS. - Chico Xavier- Editora FEB. Rio de Janeiro RJ - 1935.
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